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É a velha política, estúpido

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A Câmara tem 513 deputados. Da velha e da nova política. O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, tem 54 deputados eleitos. É a segunda bancada, depois dos PT (56). A aprovação da Proposta de Emenda Constitucional da Reforma da Previdência necessita de 308 votos de deputados e de 49 votos dos 81 senadores.

O governo já contabilizou 180 votos favoráveis à reforma. Mas isso foi feito antes da apresentação, há uma semana, da reforma dos militares, que em vez de uma economia de R$ 97,3 bilhões, com a correção dos vencimentos dos militares e acréscimos de ajuda de custo na mudança para a reserva, onerou em R$ 86 bilhões a folha e reduziu a economia para R$ 10,46 bilhões em 10 anos.

Houve uma grita geral do Congresso que não quer assumir questões impopulares. A temperatura subiu até o fim de semana com as manifestações do presidente no Chile louvando o regime sanguinário de Pinochet no Chile, como ‘virtuoso’ por ter aberto espaço a uma reforma da Previdência que se quer copiar, com ajustes, no Brasil.

A dose de insensatez foi tão grande que o presidente chileno, o direitista Sebastian Pinera, pela segunda vez no cargo, teve de corrigir o presidente brasileiro (espera-se que o exemplo modere o teor da ordem do dia de 31 de março). Mas a temperatura ferveu mesmo com os posts infelizes dos filhos sobre as prisões do ex-presidente Temer e do ex-ministro Moreira Franco, que é casado com a sogra do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Ao longo da campanha, o ‘Posto Ipiranga’, Paulo Guedes cunhou a expressão velha política X nova política, para justificar a ascensão de um candidato como Bolsonaro, avesso à política, embora deputado há sete legislaturas. Treino é treino, jogo é jogo, dizia, mestre Didi. Pois na hora do treino, que seria a apresentação do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça, que julga a admissibilidade da PEC da Reforma, Paulo Guedes deu uma de jogador de chinelinho (tão caros ao presidente) e resolveu só comparecer à CCJ quando o relator estivesse presente (ficou para o dia 2 de abril, melhor que 1º de abril...). Mandou, como fazia mestre Didi, o reserva - o secretário da Previdência, Rogério Marinho - para o treino, com a incumbência de amaciar suas chuteiras para poder aplicar a famosa folha seca...

Os deputados entenderam o forfait como uma afronta. Resolveram dar um trocão, atropelando a proposta que o governo quer tramitar pelo Senado, a de desvinculação total do Orçamento Geral da União. Tiraram da cartola projeto que rolava na CCJ e aprovaram a obrigatoriedade de gasto de todas as emendas previstas no Só vale para 2023, após o atual mandato, se o Senado e o presidente, que sempre apoiou a ideia enquanto deputado, não vetar. A questão é que foram 453 votos a favor, seis conta e uma abstenção. Pior impossível.

Os 54 deputados do PSL, a começar pelo deputado Eduardo Bgum do grupo voltou a favor. Matemente a maioria não existe para a Reforma, que vai precisar de muita articulação e negociação para passar. O mercado já percebeu, com alta recorde do dólar e queda da bolsa.

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