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50 dias: palavras e atos (parte I)

Colunista -
Chico Alencar Colunista
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O governo Bolsonaro completa 50 dias. Não foi difícil listar 50 "verbetes" que definem a "geringonça de extrema direita" - o arranjo político que dirige o país. Mas são 50 tons cinzentos que não cabem no espaço de uma coluna: precisei dividi-los em duas partes.

Macaque in the trees
Chico Alencar Colunista (Foto: Colunista)

Começo pelo fim: 1) desgoverno: antes mesmo de completar 50 dias, o ministro palaciano Bebianno foi exonerado. Saiu "pedindo desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura do fraco (e louco) Bolsonaro"; 2) confusão: não há projeto claro de país, pois o eleito e seu partido nunca o detalharam; 3) neofascismo: não como regime político, mas como postura autoritária e obscurantista; 4) improviso: montou-se uma coalizão apressada, cujo único amálgama é o ultraconservadorismo; 5) mesquinharia: um novo critério de cálculo tirou R$ 8 do reajuste do salário mínimo; 6) elitismo: para Bolsonaro "empresário sofre muito" e trabalhador tem que optar entre "direitos ou emprego"; 7) demagogia: ressuscitando o anticomunismo, o presidente afirmou que não haverá mais socialismo no Brasil - quando houve?; 8) punitivismo: a proposta básica para Segurança é a prisão e/ou a eliminação dos "perigosos", numa verdadeira licença para matar; 9) parcialidade: Jair pede apuração rigorosa do atentado que sofreu, que já tem criminoso confesso e preso, enquanto silencia sobre a execução de Marielle e Anderson, há quase um ano sem solução; 10) primarismo: o mandatário criticou o "politicamente correto", legitimando, entre outras posturas, as piadinhas machistas e LGBTfóbicas; 11) insegurança: o que se decide pela manhã pode ser revisado à tarde, revelando decisões apressadas ou incerteza no comando; 12) militarismo: o segmento militar, ultraconservador e defensor do regime de 1964, ocupa mais postos na administração, incluídas as estatais, do que na época de Geisel e Figueiredo; 13) privatismo: a superação da estagnação da economia via ultraortodoxia liberal da privatização total e da desregulamentação absoluta; 14) vassalagem: bate-se continência para os EUA, com manifesta admiração por Trump e colocação de um general brasileiro como subcomandante de tropas americanas, fato revelado no Congresso Nacional... dos EUA; 15) desmonte: a agenda de políticas públicas de conteúdo social sofre continuado esvaziamento, em todos os setores; 16) obscurantismo: a ordem é acabar com o apoio para atividades culturais, fechando a Petrobras e a Caixa Econômica para patrocínios já tradicionais; 17) irracionalidade: desprezo pelos direitos humanos, tido como "ideologia exótica" para proteger bandidos; 18) dogmatismo: nega-se a diversidade humana, com imposição até de padrões estéticos, tipo "menino veste azul" e "menina veste rosa"; 19) insensibildade: a mesma ministra "terrivelmente cristã", que recomendou que pais de meninas saiam do país, vetou recursos para o Mecanismo de Prevenção à Tortura vistoriar o sistema penitenciário e contesta reparação aos perseguidos da ditadura; 20) ofensa: outro ministro, colombiano naturalizado, afirma que a educação brasileira tem produzido um povo de "canibais", que quando viaja "rouba o que vê pela frente"; 21) aristocratismo: esse mesmo ministro diz que "universidade é para a elite"; 22) xenofobia: ainda esse estranho professor recomenda que o teólogo Leonardo Boff vá morar na Coreia do Norte; 23) criacionismo: implementa-se a "Escola Sem Partido", isto é, só com o partido do terraplanismo e da doutrinação criacionista; 24) ignorância: Paulo Freire, o grande educador, vira "persona non grata" pelos que sequer leram sua fecunda obra; 25) autoritarismo: já se cogita, no âmbito do MEC, o desrespeito às decisões das comunidades acadêmicas quanto à eleição democrática de seus diretores e/ou reitores.

Continua amanhã. Tamanho retrocesso continuará nos próximos meses e anos? Reajamos!