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Brumadinho não foi acidente, foi crime

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Ao contrário do que afirmam alguns, o que acorreu em Brumadinho (e tinha ocorrido antes em Mariana) não foi um acidente, fruto do acaso. Foi um crime. E um crime que matou, só em Brumadinho, 99 pessoas - número que vai aumentar muito porque há 259 desaparecidos, presumivelmente mortos. Tudo resultante de decisões que priorizaram o lucro da Vale em detrimento da preservação de vidas humanas e do meio ambiente.

A empresa usava, tanto em Brumadinho, como em Mariana, um método inseguro para conter os dejetos que sobravam da extração do minério: o chamado sistema de barragens a montante. Ele ainda é usado em 19 barragens no país e só agora a Vale anunciou que vai aposentá-lo, o que levará ainda três anos.

O sistema que, agora, a Vale promete abandonar é tão perigoso que foi descartado em muitos países. Só que as alternativas eram mais caras. Daí a decisão de continuar com o método que causou as mortes.

Afinal, no capitalismo o que conta é o lucro. Só que, às vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro. O que a empresa vai perder com multas e indenizações e com a queda de suas ações jogou por terra a economia que fez. Num só dia a venda de ações da Vale derrubou em R$ 71 bilhões o valor da empresa.

Nesta hora, é oportuno de lembrar a compra de deputados que faz com que a mineradora tenha absoluto controle sobre tudo o que passa pela Câmara e se refere à mineração. Os jornais deram nomes e números sobre doações feitas à “bancada da Vale”. Seu chefe, o deputado Leonardo Quintão (MDB-MG), velho parceiro de Eduardo Cunha, não se reelegeu em outubro passado. Mas conseguiu com Bolsonaro uma boquinha para continuar ajudando a Vale: está lotado na Casa Civil, por onde passam os projetos de interesse da mineradora.

Para que se veja o grau de leniência reinante, basta lembrar que, nos últimos 15 anos, a mineradora recebeu 19 multas só no Espírito Santo. Nenhuma foi paga. O descaso na cobrança por parte das autoridades e a possibilidade de infinitos recursos protelatórios por parte de empresa, com a conivência do Judiciário, fazem com que, para a Vale, seja mais lucrativo não tomar providências que eliminem os riscos.

A propósito, alguém sabe quanto a Vale pagou de multa pela tragédia de Mariana? Sabe quanto receberam os milhares de moradores atingidos, gente pobre que perdeu tudo o que tinha? Sabe se os parentes dos mortos foram indenizados?

Em meio às notícias sobre Brumadinho, vem à tona outra informação estarrecedora: só 3% das 24.092 barragens do país foram vistoriadas. O motivo: não havia verba para custear viagens dos fiscais. Coisas do chamado Estado mínimo...

Dentre as vistoriadas, 723 foram consideradas como com alto potencial de risco. E, Brumadinho não estava entre elas...

Enquanto isso, o presidente da República diz que “licença ambiental atrapalha a execução de obras de infraestrutura” e ataca os fiscais, prometendo “segurar” as multas. Num discurso de campanha para produtores rurais, foi além e praticamente acenou com a impunidade para quem degradar o meio ambiente: “Não vai ter um canalha de um fiscal metendo a caneta em vocês”.

Se é verdade que um governo que começou há 30 dias não pode ser responsabilizado pela tragédia de Brumadinho, é verdade também que um presidente que diz essas barbaridades acena com um cenário nada promissor na área do meio ambiente.

A cada dia o país assiste, estarrecido, a declarações desconcertantes de ministros ou do próprio Bolsonaro. E uma verdade é inconteste: mesmo deixando de lado as posições políticas, nunca se viu um governo composto por gente tão despreparada. A propósito, o amigo Nelson Moreira postou nas redes sociais comentário que reproduzo e subscrevo:

“O Brasil virou uma grande Sucupira. Mas o Odorico nomeou o Zé do Burro (ou o próprio burro?) para o Ministério da Educação, uma das Cajazeiras para a Cidadania e condecorou Zeca Diabo por serviços prestado ao longo de sua carreira. Nem Dias Gomes poderia imaginar isso”.

Como não concordar com isso?