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O adeus dos cubanos

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O presidente de Cuba, Díaz-Canel, estará hoje pessoalmente no aeroporto José Martí, para a recepção do primeiros 400 médicos cubanos que embarcariam na noite de ontem em Brasília com destino a Havana. Eles serão recebidos também com festas nos bairros e cidades de origem. Partiram afirmando que terão saudades do Brasil. Milhares de brasileiros, agora sem médicos, sentirão saudade deles.

Há uma comoção em Cuba com o desenlace abrupto do acordo com o Brasil, por conta das agressões que, desde o primeiro turno, o presidente eleito Bolsonaro fez ao programa e aos próprios médicos, aos quais sempre se referia “entre aspas”, sugerindo que não fossem médicos de fato. Pesquisas locais indicam apoio maciço da população à decisão do governo de deixar o programa, apesar da perda de recursos que ela trará para Cuba.

Assim, desnecessariamente, por pura picuinha ideológica, chegou ao fim uma parceria com a qual o Brasil ganhava muito mais, com a oferta de atenção básica de saúde de qualidade aos brasileiros mais desvalidos. A maior parte dos seis mil médicos brasileiros inscritos para a seleção de substitutos pelo Ministério da Saúde manifestou a intenção de atuar em capitais ou regiões metropolitanas, comprovando que não querem ir para os grotões onde atuavam os cubanos. O jeito foi prorrogar as inscrições até 7 de dezembro.

Após a decisão de Cuba, Bolsonaro adotou o discurso do “trabalho escravo inaceitável” a que os médicos estariam submetidos no Brasil. Mas estão por aí, nas redes, os vídeos e falas em que ele desqualifica a cooperação e os próprios profissionais. Depois da posse, “com uma canetada”, ele prometeu, devolver a Cuba 19 mil “médicos”. Exagerou no número e não teve o gosto de usar a caneta. A altivez Cubana falou antes. Mas de todo modo, deu uma mãozinha a Trump, no esforço para asfixiar Cuba.

Sinais, novos sinais

A aceitação, por Bolsonaro, do veto da bancada evangélica à escolha do respeitado educador Mozart Ramos para o MEC foi mais um sinal preocupante. A influência religiosa na educação ameaça a conquista civilizatória representada pelo ensino laico.

Filho emburrado

Diz-se no arraial do PSL que o filho do presidente eleito, Carlos, ficou magoado com a decisão do pai de não nomeá-lo como ministro-chefe da Secom. Depois da crise com a bancada evangélica, teria havido essa rusga familiar.

O Supremo ainda não examinou o assunto, embora a segunda turma já tenha decidido que a nomeação de parentes para cargos políticos não configuraria nepotismo. Mesmo assim, a nomeação seria fatalmente vista como tal. “Dificilmente ele aceitaria, seria levado para o nepotismo, eu nunca pratiquei isso, não interessa fazer isso. A tendência é esse assunto morrer”, disse o pai ontem.

Mas a reação do filho foi de quem se magoou. “O meu ciclo de tentar ajudar diretamente chegou ao fim. São 18 anos de vida pública dedicados ao que acredito. Estes últimos 3 meses de licença não remunerada para acompanhar o que sempre acreditei se encerram. Semana que vem volto às atividades na Câmara de Vereadores do Rio. Complemento aos amigos que desde ontem não tenho mais, por iniciativa própria, qualquer ascensão às redes sociais de Jair Bolsonaro”, postou ele ontem no Twitter, sem explicar porque deixará agora o trabalho que lhe valeu a alcunha, dada pelo pai, de 02, o segundo na linha de comando da campanha.

O natural seria dizer que, mesmo não se tornando ministro, continuaria a ajudar o pai indiretamente. Mais estranho ainda foi dizer que não tem mais “qualquer ascensão” sobre as redes de Bolsonaro. Não se sabe se quis dizer que não tem mais acesso a elas ou se não exerce mais influência sobre elas. Ascensão é outra coisa, é movimento para cima.

Se a decisão foi mesmo de Bolsonaro, foi acertada. Mesmo que o ato fosse legal, seria muito esquisito ter o filho como ministro.