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As bancadas do PT no Senado e na Câmara reuniram-se ontem pela primeira vez, depois da eleição, com o candidato derrotado Fernando Haddad, mais uma vez louvado e reconhecido como liderança partidária do novo tempo petista. As perguntas que o PT se faz - o que fazer depois da derrota, como sobreviver em conjuntura tão adversa e como resgatar a base social perdida para a extrema-direita – dizem respeito a todos os partidos de esquerda mas, apesar da evidência de que a situação exige unidade, o antipetismo parece ter contaminado também PDT, PSB e até o PCdoB, que avançam na organização de um bloco na Câmara sem o PT.

Em entrevista depois do encontro Haddad resumiu o programa mínimo já esboçado: atuar em conjunto com os demais partidos e forças sociais em duas esferas. Uma, mais restrita à esquerda, em defesa dos direitos sociais ameaçados, e uma outra, que pode ser ampliada com a atração de setores liberais para a defesa dos direitos civis e liberdades democráticas em geral. A defesa da escola laica, por exemplo, disse ele, é bandeira que ultrapassa a esquerda, e pode ser ponto de convergência ampliada, em caso de avanço da Escola Sem Partido e da demonização dos professores, alvos da guerra cultural bolsonarista.

Na semana que vem Haddad vai a Nova York participar da reunião da Coalizão Internacional Progressista, para a qual foi convidado pelo senador americano Bernie Sanders e pelo ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis, que articulam o encontro para se contrapor ao avanço conservador global. No dia 10 de dezembro, segundo anunciou o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, acontecerá em Foz do Iguaçu a Cúpula Conservadora das Américas.

Nessa passagem pelos Estados Unidos, o PT pode entrar com uma ação na justiça americana contra o Whatsapp, pelo uso que a candidatura Bolsonaro fez da rede para disseminar fake news na campanha eleitoral. “Essa ação pode ser importante para que isso não se repita aqui nem em qualquer lugar do mundo, em prejuízo da democracia”, disse Haddad. É uma boa iniciativa, até porque a rede continua sendo usada intensamente pelo bolsonarismo, inclusive para alimentar o antipetismo. As articulações internacionais também são positivas, mas a realidade que vem aí exige muito mais. Já estamos vivendo sob um regime sem nome, derivado do voto mas de natureza anômala, com forte participação militar, bandeiras regressivas em todas as frentes e indiscutível vocação autoritária. Com o PT e o PSOL de um lado, e PDT, PSB e PCdoB de outro, o trator passará sobre tudo com extrema facilidade.

No bloco dos três, tudo é ressentimento. De Ciro, porque não foi apoiado e ainda perdeu o apoio do PSB por obra do PT e de Lula, como diz e repete; do PSB, que já não queria mesmo nada com o PT, tendo aceitado por pragmatismo o acordo de ficar neutro na disputa presidencial; e até do PCdoB, que se aliou apostando na eleição de uma bancada que o livrasse da cláusula de barreira mas não conseguiu. O que todos eles dizem agora é que “o hegemonismo do PT acabou”.

O ex-líder petista José Guimarães não dá o divórcio como consumado. “Eu tenho conversado com todos eles e vamos terminar acertando a formação de uma frente única de esquerda. Prova de que não existe hegemonismo é o fato de que há mais de um ano a liderança da minoria é ocupada pelo Weverton Rocha, que é do PDT”.

Não é o que se ouve do outro lado. Para enfrentar esta insensata divisão da esquerda, após uma derrota que não foi meramente eleitoral, mas ideológica, Haddad precisa entrar pessoalmente nesta costura. E para recuperar a base que já teve, o PT precisa descobrir o caminho para neutralizar tudo o que foi e continua sendo dito ao povo através das redes sociais. Milhões de eleitores intoxicados continuam acreditando, por exemplo, na existência do kit gay.

Responsabilidade total

Paulo Guedes continua nomeando sozinho todas as autoridades econômicas. Se der certo, louros de Bolsonaro. Se der errado, ônus todo dele.