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Deixando correr

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Nove deputados já se apresentam como candidatos a presidente da Câmara. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, comprando tantas brigas antes da posse, não parece preocupado. A não ser que tenha uma carta na manga, pode se arrepender. Quando a disputa se fragmenta na Casa, o pior costuma acontecer, como em 2005, quando sobrou para Severino Cavalcanti, o breve. A máxima que Bolsonaro tem repetido, de que o governo deve manter-se fora da disputa, não pode ser tomada ao pé da letra. O Planalto não deve tentar impor um candidato, mas se ficar indiferente, pode assistir à eleição de alguém que não o ajudará na hora da necessidade. O segredo é apostar num bom cavalo aliado.

O atual presidente, Rodrigo Maia, neste momento é o candidato favorito. Tem o apoio de boa parte do Centrão e até dos partidos da futura oposição de esquerda, como o PCdoB. Pode vir a ser apoiado pelo PT, se costurar o mesmo acordo que garantiu sua eleição depois da cassação de Eduardo Cunha: terá seu lado mas observará o regimento e garantirá os direitos da minoria. No cargo, foi cumpridor da palavra e resistiu a tentações em nome da estabilidade. Trabalhou pela rejeição das duas denúncias contra Temer, embora, se ele fosse afastado, assumiria provisoriamente e conduziria uma eleição indireta na qual seria o candidato natural. O cavalo passou selado e ele não o montou.

Mas, no encontro que tiveram na semana passada, do qual se esperava a costura preliminar de um acordo, Bolsonaro voltou a dizer que existem outros bons nomes em sua própria base e por isso não se meterá. Isso foi entendido como um descarte do apoio a Maia, contra quem se argumenta que o DEM já terá dois ministros do governo. Diz-se que, a partir daquele encontro, Maia sentiu-se liberado para avançar na articulação de apoios partidários à sua candidatura, passando ao largo do Planalto. Se vencer, não deverá nada a Bolsonaro.

São candidatos bolsonaristas os deputados Delegado Waldir (PSL-GO), João Campos (PRB-GO), Capitão Augusto (PR-SP) e Alceu Moreira (MDB-RS), Giacobo (PR-PR), JHC (PSL-AL). E ainda corre por for o oitavo, o atual primeiro vice-presidente Fabio Ramalho (PMDB-MG), que por sua forte relação com o baixo clero, lembra Severino Cavalcanti.

É por João Campos que Bolsonaro parece ter uma preferência oculta mas, se ela for verdadeira, devia estar trabalhando pela convergência entre seus aliados. Não ele, pessoalmente, mas seu futuro chefe do Gabinete Civil, Onyx Lorenzoni, que não tem agradado os parlamentares com sua falta de tempo para assuntos do Congresso.

Mentiras contra Cuba

A eleição acabou mas a doutrinação bolsonarista via Whatsapp continua a todo vapor. Com a crise da saída de Cuba do Mais Médicos, há uma intensa reprodução dos argumentos de Bolsonaro, de que não ameaçou mandá-los de volta “com uma canetada”, como disse na campanha, em vídeos que ainda podem ser vistos na Internet. Num deles, diz que poderão ir para Guantánamo, onde poderão atender muitos petistas exilados. Agora ele diz que seu objetivo é proteger os direitos humanos dos médicos cubanos, livrando-os do trabalho escravo a que estariam sujeitos no Brasil.

A máquina de fake news também está azeitada contra Cuba. O site de direita “O Antagonista” publicou que a vice-ministra da Saúde cubana, Marcia Cobas, responsável pelo Mais Médicos, havia perdido o cargo porque seu filho decidiu permanecer no Brasil. Médicos ouvidos pela coluna garantem que Cobas continua no cargo, tendo inclusive recebido o grupo de 196 profissionais que chegou a Havana na quinta-feira. Ela de fato tem um filho médico, que se casou com uma brasileira, fez o exame Revalida e hoje atua em São Paulo. Mas não no Mais Médicos. Fake. O Diário Online, canal no Youtube, noticiou que a Polícia Federal descobriu que muitos cubanos usavam diploma falso. Fake, a PF já desmentiu isso.