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Eu, hein, Rosa...

Antonio Cruz/ Agência Brasil -
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, vota na sessão eleitoral instalada na Escola Parque, região central de Brasília.
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“Te manca, segura esta banca, que escrupulosa”, diz a letra do samba de João Nogueira e Paulo César Pinheiro imortalizado na voz de Elis Regina. Vem-me a música porque todo mundo neste momento está com o sentido em uma Rosa, a ministra Rosa Weber, presidente do TSE, esperando respostas rápidas e contundentes para o que foi demonstrado pela reportagem da Folha de São Paulo: o primeiro turno foi viciado pela avalanche de fake news, contratada por empresários para favorecer Bolsonaro. E se nada for feito, o crime contra a democracia vai se repetir no dia 28.

A ministra inicialmente marcou para amanhã uma entrevista coletiva em que anunciaria as providências. A presidente do PT, Gleisi Hoffman e o ex-candidato Guilherme Boulos, do PSOL, fizeram pesadas críticas à falta de pressa da ministra. As reações da sociedade foram intensas, com um bombardeio de mensagens através dos e-mails e das redes sociais do tribunal, cobrando providências. Um elenco de atrizes, Sônia Braga na dianteira, havia gravado e divulgado vídeos cobrando uma resposta mais rápida de Rosa. A pressão ficou insuportável.

Para atenuá-la, ontem à noite o corregedor do TSE, ministro Jorge Mussi, anunciou a abertura de investigação sobre o caso, atendendo parcialmente ao PT. Bolsonaro será notificado e terá cinco dias para se explicar. A Polícia Federal também abrirá investigações a pedido do Ministério Público. Mas de que servirá um depoimento de Bolsonaro na sexta-feira, antevéspera do segundo turno? Já sabemos o que dirá: desconhece o fato e não pode controlar empresas apoiadoras.

O que poderia garantir que a máquina de mentiras será detida seria a aplicação das medidas cautelares pedidas pelo PT, mas elas não foram acolhidas pelo corregedor. Entre elas, a realização de busca e apreensão nas agências disparadoras de pacotes de calúnias, a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telemático e a determinação do bloqueio dos disparos.

Muito mais fez o próprio Whatsapp: ainda que tenha sido conivente, como deve ter sido, a plataforma buscou reduzir os danos de imagem, notificando as agências que venderam o serviço de disparar mentiras contra o PT e seu candidato: Quickmobile, Yacows, Croc services e SMS Market. Proibiu a prática e baniu contas a elas vinculadas.

Mas o Brasil precisa saber também quanto ganharam, quais foram as empresas que pagaram, qual foi a orientação para selecionar os destinatários. Foi entre os mais pobres, entre as mulheres e até ligeiramente entre nordestinos que Bolsonaro cresceu nas horas finais que antecederam o primeiro turno, saindo das urnas com vantagem sobre o adversário que as últimas pesquisas não haviam registrado. O Brasil democrático precisa ter pelo menos a garantia de que esta operação poderosa, com ramificações internacionais, destinada a manipular a vontade popular, foi paralisada. E para isso, é necessária uma determinação do TSE. Na entrevista coletiva de amanhã, a ministra precisa apresentar providências mais efetivas.

Acho que o PDT tem razão. Só a anulação do primeiro turno sanearia este pleito enxovalhado. Mas esperar isso de um Judiciário que nos últimos anos, com sua omissão, fertilizou a terra em que brotou Bolsonaro, seria mais que ingenuidade.

Nós e o mundo

É espantoso: segundo o Datafolha, 50% dos brasileiros acham que pode ser implantada uma nova ditadura no país. Lá de fora chegam manifestos aos borbotões, de intelectuais, artistas, políticos e ex-governantes, preocupados com a democracia brasileira, apontado o risco Bolsonaro e apoiando Haddad. Ontem veio à luz a Declaração Internacional contra o Fascismo no Brasil, precedida de outros manifestos, organizados por área de atuação (economistas, cientistas sociais, juristas etc) ou por nacionalidades. Os portugueses são dos mais comovidos com nossa marcha para o abismo. “Explica-me o fascismo pelo voto”, pede-me o amigo Miguel Sousa Tavares. Contra o espanto do mundo, metade do Brasil diz com naturalidade que a ditadura pode vir. Então, mentiram os 69% que recentemente declararam ao mesmo Datafolha seu apreço pela democracia.