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Que falem as regras

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Olhando realistamente o quadro, depois da última pesquisa Datafolha, sem a colaboração de um fato extraordinário, dificilmente o segundo turno não será entre Bolsonaro e Fernando Haddad, e isso traz apreensão. Como nenhuma outra eleição, esta cobra também determinação para fazer valer as regras da democracia diante de tantos maus sinais: há animosidade nas ruas, Bolsonaro fala em virar a mesa, um juiz planejou melar a votação recolhendo as urnas e até por um guardião, o ministro do STF Luiz Fux, a Constituição foi arranhada, com a desautorização de outro ministro para impedir as entrevistas do ex-presidente Lula.
A pesquisa Datafolha tornou mais preocupante a declaração de Bolsonaro, de que não aceitará outro resultado que não sua vitória, porque apontou grande possibilidade de ele ser derrotado. Bolsonaro parou de crescer mas conservando a dianteira, com 28%, e no segundo turno, perderia para todos os concorrentes. Para Haddad, de 49% a 39%. Já o petista saltou de 16% para 22% e segue crescendo entre os mais pobres e no Norte-Nordeste. A clara divisão social e regional vai tomar vulto esta semana.
Nenhum militar de alta patente desautorizou a mal dissimulada insinuação de Bolsonarom de que poderia contar com os “comandantes” para reagir ao resultado das urnas gritando “fraude”. Um bom conhecedor das casernas admite rebuliços, mas lembra a declaração que o ministro da Defesa, general Silva e Luna, fez no último dia 21, em conversa com jornalistas no Rio: as Forças Armadas ajudarão na segurança do pleito com 30 mil homens. E ganhe quem ganhar, garantirão a observância do resultado, negando guarida a qualquer questionamento de sua legitimidade. A Constituição, disse ele, continuará sendo “a bíblia das Forças Armadas”. A repetição desta fala faria bem ao ambiente desta semana.
Militares à parte, o Brasil não pode também repetir 2014, quando quem perdeu decidiu continuar na guerra política com outras armas: acusação de fraude, pedido de impugnação no TSE e finalmente o impeachment de quem ganhou. Pelo menos um líder do PSDB, o senador Tasso Jereissati, teve a honestidade de que reconhecer que foi um erro. Dilma também errou, começando por não citar, no discurso de vitória, o derrotado que pouco antes havia lhe telefonado reconhecendo o resultado. Se em 2014 faltou civilidade, imagine nos tempos que correm.

Volta no tempo
A decisão do ministro Fux também trouxe susto. Para o advogado Luís Francisco Carvalho Filho, foi o “mais grave ato de censura desde o regime militar”. Representando a Folha de S. Paulo, ele e o jornalista Florestan Fernandes Filho haviam obtido liminar do ministro Lewandowski para entrevistarem Lula. Fux desautorizou o colega e proibiu as entrevistas. E que fossem censuradas se já tivessem sido realizadas.
Fux calou Lula para que não influenciasse o pleito, como alegou o partido Novo. Se mudo, Lula levou seu candidato ao segundo turno, falando, daria outro empurrão. Mas a liberdade de imprensa, que a Constituição consagra, está acima dos eventuais efeitos de seu exercício. O plenário deve dizer isso, mas possivelmente, só depois do pleito.

As mulheres
Nunca as mulheres contaram tanto, e não só por serem maioria de 52% do eleitorado. As pesquisas captarão o efeito das manifestações de ontem do #elenão contra Bolsonaro, por tudo que já disse contra elas. No Datafolha, ele e Haddad empatam tecnicamente, com 21% e 22%, mas a rejeição dele subiu de 49% para 52%; 34% delas ainda estavam indecisas.

Veto de Lula
Até aqui, o ex-presidente Lula só fez uma exigência a Fernando Haddad em relação à montagem de sua equipe: que não entregasse o comando da área de comunicação ao jornalista Nunzio Briguglio.