Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
A guerra das pressões
Publicado em 16/12/2025 às 12:40
Alterado em 16/12/2025 às 12:40
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Quando surgiram os primeiros sinais indicando que Donald Trump caminhava para se tornar presidente dos Estados Unidos, o que acabou se confirmando, com votação consagradora, alguns analistas anteviam a possibilidade de ele, assumindo, cuidar de evoluir os modelos de guerra e defesa dos interesses americanos, já então com poderosas armas de convencimento econômico, sem preferência pelas armas da tradição bélica. Seria a medição de forças vista sob outro aspecto, além do convencional. A cruel guerra de pressões, não necessariamente na dependência de sangue. A receita passa a ser o estrangulamento do inimigo, que morre por falta de ar, sem o antigo preferencial recurso dos tiros e dos canhões.
A lembrança dessa antevisão se renova no caso presente da Venezuela. Os Estados Unidos estão exercitando uma guerra psicológica contra o ditador Maduro. Seus navios e aviões cercam os mares e ares, ameaçam com frotas poderosas, mostram que têm tudo para avançar e liquidar a fatura, se tiverem de apelar para o favor da inquestionável diferença de poderes de ataque e defesa entre os dois países. Contudo, preferem provocar o constrangimento, e nisso obtêm real proveito, porque já vai balançando instável o regime de Caracas. Jonathan Fairbanck, conhecido especialista em conflitos internacionais, figura entre os que aplaudem a tática de Trump, pois, admite, ela é benevolente, poupa muitas vidas.
No caso das operações que se processam no Caribe, cenário da pressão econômica, o avanço mais audacioso foi o aprisionamento, semana passada, de um cargueiro de petróleo, o que significa asfixiar a economia venezuelana no que ela tem de mais sensível, pois é com esse comércio que sobrevive, sem o recurso de nenhum outro. A intenção é que as crescentes dificuldades levem a uma convulsão interna, isto é, os próprios venezuelanos e seus generais cuidem de se livrar do fiasco bolivariano, porque a invasão terrestre, mesmo se armada do pretexto do ataque ao narcotráfico, só por imposição do irremediável.
( O combate às drogas já levou à destruição de barcos suspeitos, morrendo mais de 80 pessoas, mas ainda não sensibilizou a Casa Branca para uma vigorosa campanha destinada a sensibilizar milhões de viciados. Trump devia pedir ao seu povo para cheirar menos… Porque, se faltar mercado de consumo de cocaína, a produção e o comércio criminoso vão à ruína).
Valeria, a propósito, uma avaliação mais cuidadosa sobre o poder das sanções econômicas aplicadas contra as populações civis, tendo-se, como certo, que costumam ser tão cruéis como as armas que ferem, porque provocam prologados sofrimentos, desemprego, miséria e fome, sem nunca afetar a vida e o conforto dos poderosos. Maltratam as populações, transformando-as em multidões de miseráveis. Que os digam os cubanos, mais de meio século vítimas da guerra das sanções.
O Brasil nem de longe sofreu as mesmas dores, quando Trump nos castigou com o tarifaço sobre o que os americanos importam, medida que não passou de míssil de pequeno alcance, se comparado com as restrições comerciais que pesam sobre outros países. Mas sabemos que os prejuízos são enormes.
Talvez fosse excesso de imprudência achar que o governo brasileiro tem nada a ver com essa história, quaisquer que sejam seus desdobramentos e consequências. Mas, na verdade, estamos diante de um conflito capaz de nos custar vários problemas; entre os quais um desafio humanitário já bate à porta de Roraima, onde desembarcam milhares de venezuelanos, que chegam diariamente fugitivos da ditadura. Somos vizinhos de um grande problema; e não há vizinhança capaz de escapar de estilhaços, quando as coisas explodem tão perto.
A isso soma-se a intimidade do governo brasileiro com o regime de Maduro, já antigo desagrado por parte dos Estados Unidos. Como haveremos de sair dos embaraços, se a temperatura subir no Caribe? Nem os técnicos da diplomacia sabem dizer.