Por Coisas da Política
GILBERTO MENEZES CÔRTES - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Flávio Bolsonaro não agrada à Faria Lima
Publicado em 07/12/2025 às 06:59
Alterado em 07/12/2025 às 08:24
Flavio Bolsonaro e o amigo Queiroz, administrador das rachadinhas: caso poderá voltar aos debates na campanha eleitoral Reprodução
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O centro financeiro brasileiro da Faria Lima, que concentra a riqueza do país e defende os privilégios dos rentistas, tinha um candidato preferencial para concorrer com o presidente Lula em outubro de 2026. Cansados da polarização entre o PT (e partidos de esquerda) e a ultradireita, que é representada pela família do ex-presidente Jair Bolsonaro, os empresários financeiros de São Paulo tinham preferência pela candidatura do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), para ser o ungido pelo ex-presidente que já estava inelegível até 2030 e agora cumpre pena de 27 anos e três meses; e assim, imaginava a nata do sistema financeiro, Tarcísio seria capaz de atrair mais eleitores ao centro e romper com a polarização.
Na avaliação do empresariado paulista (do setor financeiro e da economia real), a presença de qualquer membro da família Bolsonaro numa cabeça de chapa em 2026 seria muito desgastante e um alvo fácil para críticas do governo Lula depois dos estragos que o filho 03, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), fez nos Estados Unidos ao induzir o governo Trump a impor tarifas de importação ao Brasil para forçar o governo Lula a interferir no julgamento de Jair Bolsonaro e demais participantes da trama golpista. Nada funcionou. O ex-presidente e o grupo já estão cumprindo pena, enquanto os julgamentos e condenações ainda continuam.
Para piorar, o presidente Trump, cuja avaliação desceu ladeira abaixo desde que anunciou o tarifaço em abril (sua aprovação caiu de 52%, em fevereiro, para 42% em fins de novembro, e a reprovação saltou de 44% para 55%, um aumento de 11 pontos no mesmo período), percebeu que, ao contrário do que tentavam convencer o filho 03 e o economista Paulo Figueiredo, neto do último ditador do país, o general João Figueiredo, o Brasil não é uma ditadura, nem faz “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro.
E o clã Bolsonaro e os que apoiaram, na primeira hora, o tarifaço contra o Brasil, como o governador Tarcísio de Freitas, que, ao ser cobrado pelas lideranças empresariais paulistas, duramente afetadas pelas tarifas, tentou dar uma guinada de 180 graus, de setembro em diante, foram ficando mais desconcertados.
A Lula coube defender a soberania nacional. O tarifaço lhe devolveu a popularidade. Enquanto isso, o filho 03 e família não escondiam o riso amarelo à medida em que os presidentes Trump e Lula aprofundavam o diálogo que vem sendo traduzido em recuo de tarifas.
Ainda falta muito, como na carne, no café, nas madeiras serradas, móveis e os produtos derivados, como a celulose, mas os empresários respiram aliviados com o aprofundamento das negociações com agenda promissora entre os dois países, que precisam somar esforços e explorar mutuamente os potenciais de suas economias. No comércio exterior, os empresários e consumidores americanos já perceberam que o Brasil é um parceiro que traz soluções e não problemas, para reduzir os preços da carne e do café. Mas os desafios são muitos maiores e promissores em investimentos mútuos na mineração e nas etapas seguintes da industrialização dos metais críticos das terras raras, itens fundamentais à transição energética e veículos elétricos.
Clã anuncia Flávio e derruba mercados
O clã Bolsonaro, que sequestrou a agenda política do Congresso desde a retomada dos trabalhos do Legislativo, com a urgência da votação de um projeto de anistia que só visava ao ex-presidente, amarrou o país à tornozeleira de Jair Messias, bem antes de o ministro Alexandre de Moraes determinar o uso do equipamento, em casa, em 28 de julho. A medida visava monitorar possível fuga antes do veredito (a tentativa de Jair Bolsonaro de destruí-la com uso de solda elétrica na madrugada de sexta-feira para sábado, 22 de novembro, confirma a suspeita). O filho 01, Flávio Bolsonaro, convocou, sábado à noite, vigília de apoiadores na porta do condomínio onde o ex-presidente usava casa bancada pelo PL, no Jardim Botânico, em Brasília.
Os fatos se precipitaram. Moraes determinou a prisão de Bolsonaro à Polícia Federal e o ex-presidente, indagado sobre o que tinha acontecido por uma policial, foi curto e direto: “Meti ferro quente em cima”. Na semana seguinte, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal entrou na reta final do julgamento dos embargos declaratórios, rejeitados por 4 a 0, e a prisão definitiva para cumprimento da pena de 27 anos e três meses foi iniciada na Polícia Federal em 27 de novembro. A partir daí, as visitas passaram a ser restritas, mas o senador Flávio Bolsonaro, por ter carteira de advogado (OAB), tinha o privilégio de visitar o ex-presidente a qualquer hora. Assim, depois de rusgas com a madrasta, a quem os filhos 01, 02 e 03, juraram respeito e lealdade, o senador anunciou na noite de quinta-feira, 4 de dezembro, que tinha sido indicado pelo pai como o candidato do PL.
O caso ganhou manchete às 12h45 de sexta-feira no site “Metrópoles” e, ao lado do silêncio dos líderes do “Centrão”, que preferiam a candidatura de Tarcísio de Freitas, houve uma enorme reação dos mercados financeiros. O dólar começou a subir e o índice Bovespa, da B3, a cair. E o movimento se acelerou depois das 14 horas, quando o presidente do PL, deputado Valdemar da Costa Netto, decretou: “Se Bolsonaro decidiu, está decidido”. O dólar, que tinha aberto o dia negociado a R$ 5,3204, subiu 2,57 - a R$ 5,44. Já a Bovespa, que tinha superado os 160 mil pontos e flertava com os 165 mil pontos por volta do meio-dia, começou a cair depois da notícia do Metrópoles, e despencou 4,25% - para os 157.463 pontos, depois da confirmação de Costa Neto.
A interpretação foi de que a Faria Lima, à parte as denúncias que devem crescer contra o candidato, que antes de ser eleito senador escapou de processo por prática de “rachadinhas” com os salários dos funcionários lotados na Alerj, quando era deputado estadual (o que pode ser retomado se for derrotado e perder o foro especial), considera Flávio um candidato com telhado de vidro, por transações imobiliárias suspeitas, e por carregar o sobrenome.
Embora perdendo para Lula nas pesquisas eleitorais recentes, o governador de São Paulo era apontado com mais chances contra Lula. Flávio, sem o “Centrão” apoiando sua candidatura, aumenta as chances de uma vitória de Lula. Portanto, o anúncio de Flávio foi um balde de água fria que derrubou nada menos que 60 das 65 ações que compõe o Ibovespa. Subiram apenas os papéis da petroquímica Braskem, cujo controle pode estar passando de mão, os dos motores Weg (por redução de tarifas nos EUA), e ainda as ações da Klabin (+1,47%) e da Suzano (+1,94%), por expectativa de redução de tarifas na celulose. E a queda conjunta no valor das ações dos grandes bancos passou de R$ 62 bilhões. Decididamente, o mercado não gosta de Lula.
As nuvens da política
Além de dar importância relativa a pesquisas eleitorais muito distantes das eleições, gosto de lembrar Magalhães Pinto, que comparava a política às nuvens. Veja o que acontecia há uma semana, quando Lula já tinha confirmado, pelo Diário Oficial da União, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo. O nome mais palatável junto aos 81 senadores que aprovam indicações ao STF, STJ e órgãos de governo, como o Banco Central e agências reguladoras, era o do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apadrinhado por seu sucessor no comando do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP). Os sinais de guerra do senador amapaense, que marcara para o dia 10 a apreciação do nome na Comissão de Constituição e Justiça, e depois a votação em Plenário, indicavam rejeição a Messias, por não ter o mínimo de 41 votos. Aos 80 anos, o que o faz acumular mais sabedoria ou matreirice política, Lula tratou de evitar o confronto e soprou as nuvens para longe, ao não enviar a mensagem.
O prazo de Alcolumbre ficou nu no meio do salão e virou um nu sem graça antes do Carnaval. Por sinal, como o Congresso entra em recesso dia 19 e retoma os trabalhos em 1º de fevereiro, é mais provável que a votação fique para o Carnaval de 2026. E quem levou a sério os amuos de Alcolumbre nos últimos dias deve ter ficado sem graça após o senador rasgar elogios a Lula, no Amapá, na última sexta-feira. Há muita coisa em jogo para a Câmara e o Senado aprovarem antes do recesso, como a Lei Orçamentária Anual de 2026 e dois novos nomes para assumirem diretorias no Banco Central a partir de janeiro.
A última mudança nas nuvens foi uma jogada de mestre, quase um roque (troca de posição entre o Rei e a torre no jogo de xadrez). A cantilena bolsonarista para tentar livrar o presidente e seus acólitos da prisão se apoiava em dois fundamentos: o presidente eleito (pela oposição) se comprometeria a indultar ou anistiar Jair Bolsonaro em 2027; e uma eleição em massa de candidatos daria maioria ao bolsonarismo no Senado. Isto posto, o próximo passo, em 2027, seria a apresentação de processos de “impeachment” a ministros do STF, a começar por Alexandre de Moraes, e outras autoridades que atravessaram a vida da família Bolsonaro. Seria um mote da campanha eleitoral em 2026. Como foi a descrença na urna eletrônica em 2022.
Pois o decano do Supremo, ministro Gilmar Mendes, instou os seus colegas do STF a decidir, em colegiado de 10 membros, sobre o velho artigo (anos 50) que permite a qualquer cidadão propor o impedimento de ministros. Uma contradição com a aprovação ao novo membro do STF, que exige maioria simples (41 votos) ou outras cláusulas pétreas que pedem 2/3 dos votos ou 3/5 dos votos. A oposição bolsonarista está se sentindo nu no meio do salão.
Mas as nuvens podem mudar de posição até a próxima semana e o Ano Novo.