Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Articulação em crise
Publicado em 02/12/2025 às 12:21
Alterado em 02/12/2025 às 12:21
A história se repete. Sempre quando chega dezembro, passa a figurar entre os encargos mais desafiadores para o governante cuidar da pauta de suas prioridades para o ano seguinte. Mesmo sendo algo difícil, é preciso tentar; pensar no que consertar ou dar prosseguimento ao que se herdou do exercício que vai terminar. Uma preocupação maior para presidente e ministros que detêm áreas estratégicas na chegada da hora inevitável de definir caminhos, muito mais agora, quando se aproxima o julgamento dos resultados de um período administrativo de três anos; o governo é chamado a prestar contas, o que fez e justificar as muitas coisas adiadas. Por acréscimo, o ano chega com a exigência de novos compromissos e, por mais, o fato de avizinhar-se a temporada eleitoral, marcadamente um período de cobranças.
Se parece não haver maior divergência quanto a isso, avaliam os analistas políticos as questões essenciais, sobre as quais deve refletir o governo Lula nesta fase de transição; como encarar os desafios que o aguardam no 2026 que vai chegando, e qual a disposição para enfrentá-los. Se são muitos e diversos esses desafios, a fixação de prioridades a que referimos torna-se indispensável, valendo afirmar que isso já independe da disposição do presidente de ter ou não plano de concorrer a novo mandato.
Diria, antes de tudo, que a primeira tarefa que aguarda o governo é a reorganização dos planos de articulação com as bases políticas que o sustentam, dentro e fora do Congresso. Ressente-se de melhores resultados nesse campo, mostra-se desguarnecido, o que atestam tropeços recentes, como a desastrosa derrubada de vetos no licenciamento ambiental, a mutilada PEC da segurança pública e a evidente má vontade do Senado na sabatina do candidato presidencial para a vaga aberta no Supremo Tribunal. Fatos que se somam a outros, para aprofundar a fase crítica entre os poderes Legislativo e Executivo.
As dificuldades têm origem no modelo geralmente adotado para as relações institucionais e partidárias entre presidente, senadores e deputados. Quando chegam os momentos de conflito tem faltado aos encarregados do diálogo maior competência para superar dificuldades, sobram impaciências e pressa nas retaliações. O que se tem visto são interlocutores temperamentais, o que, para o exercício da política, é remédio totalmente inadequado.
(Às queixas e críticas quanto à pobreza das articulações cabe uma ressalva, que, por justiça, vem em favor do PT. O governo lhe deve gratidão, pois o partido sabe como calar os sindicatos de trabalhadores e servidores, abafa greves, desestimula paralisações, o que tem sido um bálsamo para Lula. Com os problemas que temos hoje, fossem presidentes Collor, Fernando Henrique e Temer, as barricadas e piquetes estariam nas ruas. Entende-se: no tempo de outros governos o PT estimulou o espírito grevista, e aprendeu como anestesiá-lo. Nisso articula com destreza).
Aqui fala-se de uma desafiadora carência nas paragens do Executivo, mas não apenas nele. O balanço do velho ano é negativo, quando se impõe avaliar as relações entre os três poderes. Não apenas um. Fica muito a desejar e deplorar, se se tem em conta que falta harmonia entre eles. Muitas vezes escapa até mesmo o diálogo respeitoso. O diálogo, como se viu neste 2025, dificultado em numerosos episódios, cedeu espaço para um poder avançar sobre atribuições do outro, confiscar prerrogativas e arranhar os princípios elementares da autonomia. Se ficou muito a desejar, conservemos a esperança de que se respeitem mais no novo ano.