
Por Coisas da Política
WILSON CID - [email protected]
COISAS DA POLÍTICA
Ideias sobre a carestia
Publicado em 11/02/2025 às 10:34
Alterado em 11/02/2025 às 10:34
A tentação de apelar para soluções populistas sempre bate à porta de um presidente, seja qual for sua origem partidária ou convicções ideológicas. Quando a carestia sobe e os alimentos disparam, para vencer o problema fica o governante tentado a controlar os preços dos principais gêneros de primeira necessidade e utilidades domésticas. Lula, pelo que se vê, tem conseguido escapar desse apelo, à primeira vista do agrado da população, mas de consequências inevitáveis, a primeira das quais é a certeza da crise gerada pelo desabastecimento. Faz bem em resistir.
Sob a ingerência de decisões desse tipo, a produção some do mercado, foge das gôndolas dos armazéns, esconde-se nos estoques estratégicos para esperar a volta à normalidade. Nos tempos do governo José Sarney, quando se tentou exercer poderoso controle de preços, a república caiu na ditadura dos ágios e do mercado negro, e até aviões eram empregados para detectar pastos camuflados, onde os bois estavam a salvo dos frigoríficos. Duraram pouco os efeitos da política de tabelamento, porque o mercado tem suas regras, que sempre vencem pelo cansaço. Caíram os “soldados do Sarney”, gente de boa vontade, policiais improvisados, que marchavam heroicamente contra os produtores inimigos. A realidade mandou todos de volta pra casa.
Antiga essa tentativa de conter preços, no peito e na raça, quando o governo pretende ganhar a simpatia popular, transferindo para os ombros de quem produz os problemas que a política não sabe resolver. No curso de Humanidades, a gente estudava rudimentos mercadológicos, e já se sabia sobre a experiência dos Editos de Diocleciano, isso nos 301 a.C, quatro anos antes de morrer. Foi quando uma rigorosa tabela de preços consentidos nada conseguiu para melhorar a vida do povo romano; que, na verdade, piorou, porque veio a escassez de sal, óleo e pão. Fome e miséria em meio a boas intenções.
Depois dele, frequentaram a História outras atitudes popularescas, igualmente fracassadas, nos governos que teimam em admitir que é neles, e com eles, que a vida se tornar um sacrifício permanente. No Brasil de hoje, o tabelamento também estaria condenado ao fracasso, porque, entre outros fatores que se associam, sabemos que a agressão à economia popular nasce da carga tributária, a mais robusta do mundo. Quando isso acontece, produzir, principalmente da parte dos pequenos e médios empresários, vira temeridade. Além do ônus tributário, eles enfrentam os modais escassos ou superados, o que encarece sensivelmente o transporte dos alimentos, criando cenas patéticas, como se viu, semanas atrás, milhares de sacas de cebolas deterioradas no Nordeste, apodrecidas por falta de transporte. Entre outras dificuldades na lista dos alimentos, que desafiam os recordes do agro. Para confirmar que somos mesmo um país que cultiva contrastes.
Agora, em meio a clamores, incomodado pelo noticiário sobre os preços de alimentos, o presidente Lula trouxe sua contribuição. Falando aos baianos, com uma ideia jamais acusada de originalidade, recomendou que o comprador, diante de preços excessivos, simplesmente deixe de comprar. Não comprar nem consumir. Já que o governo não encontra melhor caminho, o cidadão então é chamado a desconhecer a dificuldade, mesmo que, aceitando tal convite, pode enfrentar perigoso desdobramento, porque, estando tudo com preços inacessíveis, não comendo o minimamente indispensável, as camadas mais pobres estão condenada à inanição.
A oposição não perdeu tempo, e acha que, indiretamente, mas sob o mesmo raciocínio, se o desejável é não gastar, o presidente pode estar tolerando que também deixemos de pagar os impostos, que agridem os bolsos muito mais que o feijão e arroz...
(Num campeonato de sugestões engenhosas, o governo já insinuara que os consumidores optem por produtos de validade vencida ou próximo de vencer. E rezar para que, seguindo tal alternativa, milhares de pessoas não padeçam nos ambulatórios, intoxicadas pela ingestão de produtos impróprios)
Quando, há poucos dias, registrou-se a posse de Sidônio Palmeira no ministério, para orientar a política de comunicação do governo, sendo muitas as suas responsabilidades, foi dito que, entre elas, precisa ganhar prioridade a missão de instituir a verdade como lema e bandeira da mensagem presidencial desejável. O modelo pode não ostentar, de imediato, a simpatia das grandes massas, mas chegará o momento em que servirá, e muito, para o presidente fechar o mandato sob o respeito da nação, mesmo sem os aplausos da unanimidade.