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Cabeça de Yalodê

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Vejo nuvens pesadas ao fundo. O que isso significa para você? Para alguns pode parecer o fim do mundo, para outros o tempo de ter que vencer. O que eu posso fazer? É assim a minha história, minha cabeça de Yalodê! Bertolt Brecht, o poeta alemão, alertou para quem quiser ver: “Se aquele que foi abatido não lutou sozinho, o inimigo ainda não venceu.” Você me entendeu? Posso explicar melhor, “quando o tempo fica feio e pode ficar pior, nóis chama o formigueiro que é o povo no terreiro e quero ver lutá mió”. Isso quem disse foi a cega Berenice no cordel do catimbó. Não é hora de temer, muito menos desesperar. Na cabeça trançada trago a ideia das lutas, você tem que compreender, é cabeça de Yalodê! O que se vê na disputa é muita gente enganada sem notar que é vítima da verdade quebrada e confundida com a mentira. Aí essa mesma gente pira e começa a achar que ser brasileiro é ser contra o povo? O ódio mandando num povo? Gente vestida de verde e amarelo, sem lembrar que verde é a mata que querem desmatar? O amarelo ouro querem acabar, assim como o azul das águas em desrespeito à Yemanjá? Repare no que diz o vilão vestido de herói no ponto alto da batalha: “A Amazônia atrapalha”. Nessa hora conturbada o que vamos fazer?

Tenho explicado para todo mundo saber, que votar contra si não é ganhar, é perder. Pega essa visão, vem da cabeça de uma Yalodê. Nós somos maioria, a gente que realmente faz o Brasil crescer. A atendente do dentista já me falou o que vai fazer: “Sou evangélica, votei errado no Rio, ao pastor não vou mais obedecer. Minha filha é bióloga por causa do governo que criou as cotas, nem preciso dizer, é feio cuspir no prato de comer.” É isso aí, não descansar, não arrefecer. Agora a mulher quer seus direitos preservar e quem está dormindo têm direito de acordar. Com um país tão violento é mais armas que você realmente quer, é isso que você me diz? O Estado não vai nos proteger? É justiça com as próprias mãos, cada um vai resolver? São perguntas de uma cabeça Yalodê. Então querem voltar a história para antes de Cristo nascer? Olho por olho, dente por dente? Vamos pagar imposto pra quê? O que é de arrepiar é pensar quem vai continuar a morrer, pobre, preto, artista, LGBT. Você sabe, você vê. É isso que move uma cabeça Yalodê.

Nossa bandeira não pertence a só um grupo ou uma só voz. Todos no mesmo barco depois de tantas vitórias pra livrar do esculacho nossa gente popular que é desprezada diariamente, tantas vitórias pra exigir justiça para os inocentes. É desastrosa a mão da linha dura, é criminosa a tortura e é injusta qualquer ditadura pra mim e pra você. Penso essas coisas e isso me cura, é cabeça de Yalodê! Um democrata não teme o debate, é com ideias que se combate numa cabeça Yalodê. Não é hora de ir pra fora, nem hora de escafeder. É hora de ficar aqui e assegurar que a liberdade não vai se perder. Tenho esperança e experiência, isso é luta antiga numa cabeça Yalodê. Aprendi com o meu povo africano, fundador deste Brasil, que a vida de nenhum ser humano pode seguir sem ele escolher. Por isso o ensino tem que ser igual para todo mundo, para todo mundo ter clareza do proceder. Já vou me despedir tenho muito o que fazer: enquanto houver uma criança fora da escola minha palavra vai inquirir, vai requerer. Ou alguém aqui duvida das vitórias conseguidas por gente que mudou sua realidade porque pôde entrar na faculdade? Não me lembro quando aprendi as coisas que acabei de dizer, só tem uma explicação, é cabeça de Yalodê. Você pode crer, a gente antes de lutar tem o costume de cantar porque a música faz parte da força do querer.

Quero trabalho, saúde, escola pra eles, pra mim e pra você. Quero pensamento solto, livre pra falar e escrever. Desde a minha ancestralidade a palavra liberdade é o mesmo que viver. É o que digo pra você, cabeça de Yalodê.