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ANM discute doenças transmitidas por mosquito e situação epidemiológica atual

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Em Simpósio realizado na última quinta-feira (22) na sede da Academia Nacional de Medicina, o Dr. David Uip, Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, realizou conferência abordando a situação das principais arboviroses (doenças transmitidas por mosquito) circulantes no Brasil – Dengue, Zika e Chikungunya. O médico infectologista, Professor Titular de Doenças Infecciosas da USP, apresentou também o plano de combate e controle de arboviroses implementado no estado de São Paulo.

O Dr. David Uip iniciou sua exposição fazendo um importante registro acerca da precarização dos serviços de saúde no Brasil. Segundo o médico e gestor, o modelo de municipalização empregado atualmente prevê a seguinte distribuição: ao Governo Federal cabe a formulação de políticas públicas e o financiamento; ao Governo Estadual, a governança e o co-financiamento; e, ao Governo Municipal, o atendimento aos pacientes, o controle do vetor e a descoberta de novos focos. Tal distribuição gera uma expectativa de ação municipal em contrapartida a uma situação de subfinanciamento e má gestão. Para reverter este quadro, o Governo Estadual de São Paulo estabeleceu um pacto junto às prefeituras municipais, visando assumir protagonismo no controle e combate das arboviroses.

No que se refere às políticas públicas, o Dr. David Uip ressaltou que o trabalho que vem sendo desenvolvido com os vírus Zika e Chikungunya baseia-se em grande medida no que foi feito anteriormente, nas quase três décadas de combate à dengue, que, em São Paulo, alcançou uma redução de 77% na incidência da doença e uma redução de 84% nas taxas de mortalidade. O principal desafio a ser vencido, neste caso, foi o grande número de municípios existentes no estado de São Paulo (645) e as grandes diferenças existentes entre eles.

Apresentando o cenário atual da Dengue no Brasil, salientou a grande discrepância existente entre as diferentes regiões, apontando para uma concentração de 59,8% dos casos na região Sudeste, contra apenas 2,6% da região Norte, por exemplo. No caso específico do estado de São Paulo, uma das principais características da epidemia de Dengue é a heterogeneidade da distribuição da doença: ainda que haja 30,8% dos municípios em estágio inicial de transmissão, há também 24,5% em estágio de emergência.

Sobre Chikungunya, o Secretário de Saúde do Estado de São Paulo classificou-a como a arbovirose circulante com o quadro mais preocupante, principalmente por se tratar de uma doença insidiosa, prevalente e, o mais importante, no início do processo de ser causadora de mortes. Segundo especialistas, a cada epidemia a doença parece se tornar ainda mais severa. A prioridade, dentro deste cenário, é o estabelecimento de critérios rigorosos para o diagnóstico da Chikungunya, melhorando a discrepância que existe atualmente entre o número de casos notificados e os casos confirmados.

Para o médico, outra característica que torna a Chikungunya perigosa é seu caráter crônico: o tempo pelo qual os sintomas podem se estender varia muito de paciente para paciente, o que reduz as possibilidades de monitoramento desse paciente uma vez que ele sai da fase aguda. Em termos de gestão pública, a demanda por atendimento e os gastos provenientes do paciente com Chikungunya têm potencial para superarem em muito os gastos relacionados à dengue, por exemplo.

Situação completamente diferente se observa com relação ao Zika vírus, classificada pelo Dr. David Uip como similar a uma “tempestade” – a assustadora expansão da doença pelo país não deve se manter por muito mais que três anos, segundo o médico.

O principal desdobramento negativo associado ao zika vírus é o aparecimento da chamada síndrome congênita – dentro da qual se enquadra o surto de microcefalia registrado nos últimos meses. Os estudos apresentados indicam que, até o dia 13 de setembro de 2016, foram notificados 678 casos de microcefalia, dos quais 319 estão em investigação, 338 casos foram descartados, 14 sugestivos de infecção congênita e 07 casos confirmados com amostra positiva para Zika.

Em resposta ao atual cenário, o governo de São Paulo montou força-tarefa para combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da Dengue, da febre Chikungunya e do Zika vírus. Formado por policiais militares, agentes da defesa civil, médicos e enfermeiros da Polícia Militar, o grupo conta também com o reforço de 500 novos agentes comunitários de saúde. O objetivo do trabalho é localizar e eliminar os criadouros, uma vez que 80% dos criadouros do mosquito estão dentro das casas.A estratégia faz parte do chamado Plano Estadual de Combate às Arboviroses. Entre outras medidas, o plano prevê treinamento de profissionais de saúde para diagnóstico e manejo clínico de casos suspeitos e realização de exames sorológicos.

Ao final de sua apresentação, o Dr. David Uip apresentou as ações de combate de arboviroses para o 2º semestre de 2016, que incluem a organização de mutirões em parceria com a Defesa Civil do Estado, com voluntários de entidades religiosas e organizações não-governamentais; a remuneração extra para agentes municipais que atuarem em mutirões de combate ao Aedes nos finais de semana; a coleta de pneus em parceria com a iniciativa privada em 300 municípios do Estado; o firmamento de parcerias com a iniciativa privada, ONGs e entidades de classe, além da mobilização para o Dia Nacional de Mobilização para o Combate ao Aedes aegypti.