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Cirurgião José Ribamar comenta desafios e recompensas da profissão 

Médico recebeu a Medalha Pedro Ernesto e o Título de Cidadão Carioca em novembro

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Quando deixou a cidade natal, São Luís, Maranhão, rumo ao Rio de Janeiro, o cirurgião geral José Ribamar Sabóia de Azevedo, então apenas uma criança de 13 anos de idade, jamais poderia imaginar que receberia, mais de meio século depois, as duas honrarias máximas concedidas pela Prefeitura do Rio: a Medalha de Mérito Pedro Ernesto e o Título de Cidadão Carioca. A homenagem ocorreu em 17 de novembro, em sessão solene na Câmara dos Vereadores, onde o cirurgião (juntamente com os médicos Francisco Barreira e Glaciomar Machado) foi condecorado por sua brilhante carreira.

"Todas as profissões, eu diria, exigem uma grande dedicação. A medicina mais do que qualquer uma delas, porque você lida com a vida humana. E quando você lida com a vida humana, você tem que dar o que você tem de melhor”, revela o Dr. Ribamar, em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil.

Dono de um vasto currículo, construído ao longo de décadas dedicadas à medicina, Ribamar ainda se emociona ao falar sobre o sentimento de “gratidão” que seu trabalho lhe proporciona e sempre proporcionou: “Ser médico é um privilégio. A medicina vai lhe impor um compromisso de uma vida toda, mas ao mesmo tempo ela vai lhe retribuir com o melhor dos sentimentos de gratidão, que é o de salvar uma vida”.

“Eu costumo dizer que isso equivale a uma relação de confiança entre dois seres humanos, em que alguém se entrega desacordado, inerte, e anestesiado, a alguém acordado e armado. Então, você tem essa experiência das relações humanas, e ao mesmo tempo tem a gratidão, de uma pessoa que você pouco viu, pouco conhece, que se torna do seu íntimo convívio, pela realização sua de ter ajudado. Os clientes agradecem o meu trabalho e eu agradeço a confiança. O sentimento é de natureza diferente, mas o nível de intensidade de ambos talvez seja o mesmo”, exalta o cirurgião, que operou o deputado Roberto Jefferson, delator do escândalo do mensalão. 

Analisando sua carreira em perspectiva, é impossível não construir um paralelo com o desenvolvimento da medicina ao longo dos últimos 50 anos, que, de acordo com Ribamar, equivaleu a “uma diferença de séculos”. “A diferença entre a medicina de quando eu entrei na faculdade e a medicina de hoje é enorme, não dá para comparar. E para você acompanhar isso você tem que se manter permanentemente estudando e se atualizando. Agora, existem os ingredientes básicos, na questão do respeito ao cliente, do que você pode fazer de melhor, etc.”

Para o cirurgião, é imprescindível para a medicina que o profissional constantemente se atualize “não apenas tecnicamente e cientificamente, mas também emocionalmente”. Reconhecendo que a idade lhe trouxe maturidade, ele a considera fundamental na formação do bom médico. 

Na visão de Ribamar, a tecnologia, desde que aliada a um profissional capacitado, é de extrema importância, sendo responsável pela constante melhora nos procedimentos cirúrgicos, por exemplo: “A tecnologia anda junto, né? Você ouvir o doente, examinar o doente, procedimentos clássicos, são coisas que jamais serão banidas de uma boa medicina. Antigamente tínhamos um mero raio-X, hoje nós temos toda uma gama de imagens computadorizadas, ressonância magnética, tomografia, ultrassonografia digitalizada, bem como outros exames complementares e cada vez mais sofisticados. Não pode haver, realmente, o abuso, mas também não pode haver a ingenuidade de que isso não pode ser usado. Tem que ser usado com generosidade", afirma. 

Ribamar reconhece o valor da Medalha de Mérito Pedro Ernesto e do Título de Cidadão Carioca que recebeu da Câmara Municipal do Rio em novembro, mas avalia a premiação mais como uma conseqüência do trabalho bem feito do que como uma conquista, um objetivo concretizado: “Isso pra mim é uma honra, lógico. Eu nasci no Maranhão (São Luís) e recebi o título de cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro. Mas a carreira de qualquer pessoa não deve visar 'eu quero conquistar aquilo’, não, quero trilhar uma boa trajetória, quero ao longo da minha vida construir uma consistente escala de valores e de atitudes, e no final deixar um legado". 

O reconhecimento seria então um incentivo: "Me estimula mais, me dá uma dimensão da minha gratidão e da consciência do meu dever. Contudo, não me traz, digamos assim, a autorização para pensar que eu já alcancei o que eu tinha que alcançar. O que o médico tem que alcançar é inatingível, mas ele tem que continuar buscando sempre". 

Em sua constante busca pela "perfeição" no exercício, cheio de desafios, da medicina, Ribamar valoriza o desenvolvimento de um tipo de sensibilidade em suas inúmeras atividades como cirurgião, a que compara com uma sensibilidade artística: "Não é só o conhecimento que conta. Essa sensibilidade está na interpretação dos exames, na interpretação dos sintomas dos pacientes, e também nas manifestações emocionais que são estabelecidas na relação médico-paciente. Em qualquer relação interpessoal há um sentimento. O médico tem que se empenhar no tratamento do doente, e o doente tem que confiar no seu médico. Essa sensibilidade representa uma arte". 

As virtudes do bom médico, analisa, resultam de um lapidamento de qualidades inerentes à pessoa: "Nós todos nascemos com um conteúdo de bagagem que nós podemos aperfeiçoar com o tempo, pelas nossas atitudes, pelas circunstâncias, etc. É essa boa interação com o ambiente ao redor, né? Se você vier com uma boa 'bagagem genética' e conseguir aperfeiçoar suas atitudes, você vai obter grandes conquistas", garante. 

Formado em medicina pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1968, Ribamar também concluiu mestrado e doutorado na mesma universidade, em cujo hospital, afirma, "fazia de tudo". "A nossa enfermaria da UFRJ foi o berço da medicina no Rio de Janeiro. Fazíamos cirurgia urológica, cirurgia cardíaca, cirurgia digestiva, cirurgia ginecológica, e por aí vai. Então, eu me criei no ambiente da cirurgia geral, mas com o desenvolvimento da medicina, que foi se segmentando, eu também tive que fazer uma limitação de atividades", pontua. 

Apesar de ainda praticar hoje uma "cirurgia bem geral", houve um foco no aparelho digestivo: "Me dediquei muito a cirurgia laparoscópica, a cirurgias modernas, me envolvi muito nessa nova maneira de realizar os procedimentos cirúrgicos, e realmente é muito gratificante você fazer esses tratamentos completos, cirurgias avançadas, com mecanismos de instrumentalização. Isso tem sido muito bom", comenta o cirurgião. 

Entre as cirurgias digestivas mais realizadas está a bariátrica, cujo número vêm aumentando consideravelmente no Brasil nos últimos anos. Aqui, mais de 50% da população está acima do peso. Ribamar comenta que é uma cirurgia que se enquadra em sua área de atuação, bastante vasta, mas está longe de ser uma das que mais realize: "Há médicos hoje que só fazem cirurgia bariátrica, e muito bem feita aliás, por esse aspecto da segmentação progressiva da cirurgia. Em relação a mim, faço uma cirurgia bem diversificada do aparelho digestivo. Faço também cirurgia de tireoide, cirurgia ginecológica, cirurgia oncológica bastante, então eu mantenho um espectro de atuação bem amplo na minha atividade profissional".