Esta sexta-feira (14) marca o Dia Mundial de Conscientização do Diabetes, mas o cenário brasileiro não tem refletido índices favoráveis. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, o índice de pessoas com diabetes aumentou de 5,5% para 6,9% nos últimos anos. A data chama a atenção para a importância do diagnóstico precoce da doença que, associada a outros fatores, pode acarretar problemas graves à saúde. Segundo dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF), que lidera a campanha, mais de 400 milhões de pessoas ao redor do mundo são portadoras da doença. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, já são cerca de 14 milhões e todos os dias são estimados 500 novos casos. A Organização Mundial da Saúde afirma que a quantidade de diabéticos no mundo pode dobrar na próxima década se não forem tomadas medidas urgentes.
Para marcar a data, diversas atividades já estão marcadas de acontecer no Brasil. Vários edifícios e monumentos serão iluminados e entre eles cartões postais como o Cristo Redentor e o Maracanã. A ideia da data de conscientização surgiu em 1991 e 160 países participam da iniciativa. Neste ano, o tema central da campanha foca no estímulo da adoção de uma alimentação saudável, da prática do exercício físico e do fortalecimento da educação sobre o diabetes. As ações serão realizadas em uma parceria da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e contam com o apoio de várias outras entidades.
De acordo com o médico Luiz Alberto Turatti, vice-presidente da SBD, o Brasil ainda está distante de um cenário que possa ser considerado ideal. Para o especialista, ainda falta muita educação sobre o diabetes no país. “No Brasil, três em cada quatro pacientes de diabetes não possuem um controle adequado da doença e podem vir a desenvolver complicações. O tratamento é baseado num tripé que envolve hábitos alimentares, atividades físicas e o uso das medicações em conformidade com as prescrições. Seguindo isso, o paciente tem grandes chances de controle da doença e consegue assim diminuir as chances de vir a apresentar complicações”, enumera.
Turatti diz também que o número de diabéticos está aumentando no mundo por conta do aumento do número de obesos e de pessoas sedentárias. O especialista lembra ainda que o Brasil atualmente figura a quarta posição no ranking mundial em relação ao número de diabéticos. “Falta educação sobre o diabetes hoje no Brasil. O individuo que sabe que é diabético muitas vezes não possui compreensão real do que é a doença e de quais são as complicações em longo prazo. Cerca de 50% dos diabéticos brasileiros nem sabem que tem a doença e só vão procurar ajuda quando os níveis de açúcar estão muito elevados”, conta.
Apesar da gravidade da doença, de acordo com a médica Rosane Kuppfer, responsável pelo Serviço de Diabetes do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede), nas últimas décadas a sobrevida dos pacientes tem aumentado. “O diabetes tipo um, por exemplo, se manifesta no público infanto-juvenil. Com o devido acompanhamento clínico, este grupo chega à idade adulta com uma qualidade de vida melhor, mais saudável", afirma.
Sobre os avanços recentes que aconteceram nas pesquisas relativas à doença, Luiz Alberto Turatti explica que a inclusão de novas drogas no tratamento da doença foi fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Segundo o médico, todas as drogas disponíveis fora do país estão disponíveis também no Brasil, mas que por serem drogas caras, acabam não sendo disponibilizadas nos serviços públicos de saúde. Sobre a possibilidade ainda da cura do diabetes, o especialista diz que as maiores dificuldades estão relacionadas ao comportamento da doença. “A base da doença é muito complexa, o diabetes não é causado por um mecanismo único. As medicações vão atuar em alguns desses mecanismos, mas como é uma doença multifatorial você acaba não conseguindo a cura com as medicações”, explica.
Diabetes: uma doença silenciosa
Diabetes é uma doença relacionada ao metabolismo da glicose e é causada pela ausência ou pela má absorção de um hormônio produzido pelo pâncreas chamado insulina, cuja função é promover a quebra das moléculas de glicose transformando elas em energia. De acordo com Turatti, existem dois tipos de diabetes mais comuns: o tipo um e o tipo dois. “Cerca de 90% dos casos são o que chamamos de diabete tipo dois, que geralmente acomete indivíduos com mais de 40 anos e está relacionada a maus hábitos alimentares, inatividade física e obesidade”, explica.
Segundo o médico, o diabetes tipo um geralmente acomete crianças e adolescentes e é auto-imune, ou seja, não tem relação com a manutenção de uma vida saudável. “O problema do diabetes é que ele é, na maioria das vezes, uma doença silenciosa. O paciente só vai apresentar sinais quando os níveis de açúcar estão muito elevados e, se paciente não faz o tratamento de controle adequado, corre risco de ter infartos, derrames, falência dos rins, cegueira, impotência e mais uma série de complicações”, enumera.
Congresso de Diabetes no Rio de Janeiro
O 1° Congresso Regional de Diabetes no Rio começou na última quinta (13) e vai até este sábado. No evento estarão especialistas que irão debater temas relevantes sobre a doença, além de novas tecnologias e quais são os tratamentos praticados atualmente. O encontro acontece no Hotel Royal Tulip, em São Conrado, Zona Sul do Rio. O Iede terá um estande onde receberá os congressistas que desejarem participar de encontros para falar sobre o planejamento alimentar do paciente e como avaliar o pé diabético de risco. Serão sorteados também exemplares do Manual de Educação em Diabetes para os participantes.
*Do programa de estágio do JB