Na semana passada, o Rio de Janeiro ganhou o único centro cirúrgico robotizado da cidade, no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul.
Cinco médicos do grupo de Urologia e seis da equipe de Cirurgia Geral do Samaritano passaram por um treinamento, durante uma semana, no serviço de cirurgia robótica do Florida Hospital Celebration Health, nos Estados Unidos, na Flórida. O local é referência mundial em cirurgia robótica, com médicos que possuem a maior experiência no mundo neste tipo de procedimento - cirurgia minimamente invasiva e com resultados extremamente eficazes.
No centro de treinamento, The Nicholson Center, os profissionais operaram animais para treinar como manusear a tecnologia. Com a chegada do robô no hospital, médicos do Celebration acompanharam as primeiras operações. "Inicialmente, optamos por implantar a cirurgia robótica em duas especialidades: Urologia e Cirurgia Geral. Nesta iniciação do serviço de robótica, ocorrida nos dias 5, 6, 7 e 8 de dezembro, foram realizadas seis cirurgias", conta a diretora do Samaritano, Cristina Quadrat.
Segundo o urologista Fernando Vaz, que trabalha no hospital e acompanhou o treinamento, o equipamento cirúrgico é muito sofisticado. “Se numa operação normal, para ser bom, é preciso praticar 50 vezes, nessa tem que repetir 200”, avaliou.
Planos para um futuro próximo
Além das duas especialidades recém-implantadas, o hospital pretende ter também cirurgias robóticas de cabeça e pescoço, ginecológicas e torácicas, que são atualmente as demandas que mais crescem mundialmente no uso da robótica. A previsão é de que em 2013 já haja todas as especialidades de cirurgia robótica no Samaritano. "Nosso objetivo é acompanhar a tecnologia mundial e proporcionar mais conforto e facilidade ao paciente", disse Cristina.
"Hoje o Hospital Samaritano, pertence ao grupo Amil, que demonstra grande preocupação em investir na tecnologia. Todo o investimento do grupo consiste em ter a medicina carioca como medicina de ponta. Tudo o que houver de mais moderno na medicina será acompanhado pelo hospital”, afirmou a médica.
Enquanto em uma cirurgia aberta é necessário de cinco a oito dias, como tempo médio de internação, na robótica, de acordo com Cristina, o paciente ficará internado em "até no máximo dois dias, com o mínimo de sangramento, tendo uma recuperação pós-operatória muito mais rápida", acrescentou.
Investimentos e preparação
De acordo com a diretora, cada operação na parte hospitalar, custa aproximadamente R$ 25 mil. No total, para se implantar o serviço de cirurgia robótica no hospital, como as obras nas salas e a compra dos equipamentos, foram investidos cerca de R$ 10 milhões.
"Para se tornar um cirurgião robótico, é necessário cumprir etapas de treinamentos. Além disso, é preciso saber como lidar com o robô, como encaixar os braços no robô, etc. Esta é uma exigência da Intuitive Surgical, empresa que fabrica o equipamento", disse Cristina.
Fernando Vaz ressaltou ainda que os resultados de ambas as técnicas, a tradicional e a robótica, são iguais após um mês de recuperação, mas pondera que esse procedimento é o “futuro”. “É uma operação do futuro, mas essa transição no método tem que ser feita com calma para que os pacientes de hoje não sofram com a inexperiência dos médicos sobre o assunto”, advertiu.
Para ele, o hospital agiu de forma responsável ao chamar especialistas para acompanhar os cirurgiões já treinados na técnica. “Foram operados seis doentes, todos com cirurgias muito bem sucedidas. Esta foi uma grande aquisição do hospital”, destacou.
A introdução da técnica pelo Hospital Samaritano se deve ao empresário Edson Godoy Bueno, proprietário da Amil e do próprio Samaritano.
Cirurgias robóticas
Nos Estados Unidos e na Europa, instrumentos mecatrônicos usados nas cirurgias robóticas para auxiliar em operações de alta complexidade vêm sendo utilizados desde o começo da década de 2000. Os benefícios desse tipo de técnica estão na precisão dos braços mecânicos utilizados, na pouca invasibilidade do procedimento e no processo de recuperação muito mais tranquilo se comparado ao das cirurgias tradicionais. Dissecções muito difíceis, como no caso do câncer, e reconstruções, como em cirurgias pancreáticas ou biliares, são exemplos em que essa técnica inovadora é utilizada.
Segundo o portal do Hospital Albert Einstein, a Cirurgia Robótica Minimamente Invasiva, que pode ser aplicada para tratar diversas patologias, auxilia os pacientes no pós-operatório por diminuir a dor e o desconforto e reduz a perda de sangue. Além disso, evita a contração de infecções hospitalares. Para se ter uma noção, a OMS estimou que, em 2011, 14% dos pacientes internados no Brasil contraíram alguma infecção em sua estada no hospital.
O método deste tipo de operação é similar ao da laparoscopia, na qual o médico é auxiliado por uma câmera, sem a necessidade de expor o organismo aos riscos de uma intervenção tradicional. No entanto, com os braços mecânicos, o cirurgião, que recebe treinamento especializado para tal, ganha em mobilidade, como se estivesse ele mesmo a realizar o procedimento.
Robôs no SUS
No Brasil, o serviço é oferecido em hospitais particulares e pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que passou a realizar cirurgias robóticas em março deste ano para cirurgias de cabeça e pescoço pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde então, as intervenções foram estendidas às áreas de ginecologia, urologia e abdômen.
Dois a três cirurgiões de cada serviço estão participando de treinamentos no exterior para adquirir a expertise necessária para operar o robô. De acordo com o diretor-geral do INCA, Luiz Antonio Santini, cirurgiões jovens têm sido escolhidos para que permaneçam mais anos operando e beneficiando mais pacientes.