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Medicina de viagem: portadores de doenças crônicas podem viajar?

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Octavio Azeredo, Jornal do Brasil

RIO - Portadores de doenças crônicas devem tomar cuidados redobrados se pretendem viajar. A falta de informação faz com que estes pacientes embarquem sem saber ao certo que condições vão enfrentar. Fatores como clima, fuso horário, altitude e contato com novos microorganismos. Estas mudanças, associadas ao estresse, às condições do meio de transporte, à idade e à presença de problemas de saúde prévios, devem ser levadas em conta no planejamento da viagem.

O planejamento é uma etapa fundamental para redução de transtornos e riscos para a saúde durante viagens. Condições como gravidez, presença de doenças (imunodeficiências, diabetes, doenças cardíacas, doenças pulmonares), deficiência física e idade (crianças e idosos) podem influenciar nos riscos e devem ser levados em consideração durante a escolha do roteiro, do meio de transporte e do tipo de hospedagem diz a médica infectologista Luciana Pedro.

Estabilidade

Durante as viagens, as mudanças na alimentação, na atividade física, na altitude, na temperatura e no fuso horário podem agravar doenças pré-existentes. E é aconselhável que antes de viajar, os indivíduos que já portam alguma doença crônica se informem sobre a qualidade da assistência médica no local de destino, e se certifiquem da cobertura do plano de saúde ou seguro de viagem, em caso de complicações.

Para portadores de enfermidades crônicas, a infectologista indica que as viagens devem ser programadas durante um período de estabilidade da doença, e que é totalmente desaconselhável viajar logo após o início ou troca da terapêutica, pelo risco de intolerância aos medicamentos e pela necessidade de avaliação médica frequente.

Para os indivíduos que dependem de procedimentos específicos, como hemodiálise, por exemplo, é essencial que se tenha um local pré-definido para realização do procedimento durante a viagem, o que depende não só de uma infraestrutura adequada no local de destino, mas também da disponibilidade da unidade de saúde. O planejamento nestes casos é imprescindível e, muitas vezes, implica custos diz a infectologista.

Pressão no avião é um risco para cardíacos e outros pacientes

Viagens aéreas podem representar um risco adicional para os portadores de doenças crônicas. A infectologista Luciana Pedro explica que, segundo pesquisa, os aviões a jato, em geral, voam a uma altitude 9 mil e 11 mil metros e mantém uma pressurização interna de 544 mmHg, equivalente à pressão atmosférica de um local com cerca de 2.500 metros de altitude. Neste ambiente, existe apenas 71% do oxigênio disponível em um local no nível do mar, como o Rio de Janeiro.

Os indivíduos saudáveis, em geral, não apresentam qualquer desconforto com os níveis de oxigênio encontrados no interior dos aviões. Pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, no entanto, podem apresentar complicações e, portanto, devem ser submetidas a uma avaliação clínica antes de uma viagem aérea.

Os viajantes com doença cardíaca devem observar os cuidados adequados à sua condição, além das medidas de proteção em relação às infecções. São desaconselháveis viagens para regiões com altitude elevada ou que exigem um grau de esforço físico maior que o desejável para o indivíduo. É importante ter a liberação do cardiologista antes de viajar explica Luciana.

Para os viajantes com doenças pulmonares, a variação da temperatura, da umidade do ar e da concentração de oxigênio na atmosfera pode provocar o aparecimento de manifestações. Além disso, em clima frio, a aglomeração de pessoas em ambientes fechados facilita a transmissão de doenças respiratórias, como a gripe e a tuberculose que, em geral, são mais graves em pessoas que já possuem doenças pulmonares.

As medicações habitualmente utilizadas, incluindo as de emergência, devem ser levadas junto com a prescrição médica. Antes de viajar, além da atualização das vacinas de rotina, deve ser avaliada a indicação de vacinas específicas como, por exemplo, contra gripe e pneumonia.

Em muitas nações, só é possível adquirir medicamentos com receita médica de profissionais do próprio país. E, em áreas mais remotas, a obtenção de remédios pode ser impossível. A infectologista dá uma dica:

As pessoas que fazem uso de remédios regularmente devem fazer, com o médico, uma estimativa da quantidade necessária para o período da viagem. Os medicamentos devem ser levados em dobro em relação à quantidade calculada. Para minimizar os problemas decorrentes de extravio, uma parte dos medicamentos deve ser transportada na bagagem de mão e a outra deve ser enviada junto com a bagagem despachada.

Outra dica importante para evitar transtornos com as inspeções alfandegárias, é levar uma prescrição médica especificando o medicamento, o princípio ativo e a quantidade que estará em poder do viajante. Nos casos dos pacientes diabéticos, em uso de insulina, a entrada de seringas e agulhas, em alguns países, é permitida, apenas, com justificativa médica.