Jornal do Brasil
DA REDAÇÃO - O robô Spirit da Nasa, que está explorando Marte há seis anos, pode estar com os dias contados. Desde abril do ano passado, o laboratório ambulante de 180 quilos e seis rodas está atolado num banco de areia, dentro de uma cratera do planeta vermelho. A última tentativa de libertá-lo, em novembro passado, fez com que ele chafurdasse ainda mais. O problema é que, ao permanecer estático, o Spirit fica acumulando poeira em seus painéis solares, o que prejudica o recarregamento das baterias.
O Spirit está no Hemisfério Sul de Marte, onde é outono, e a quantidade de luz do Sol diária disponível para o robô, movido a energia solar, está diminuindo. Isso poderia resultar no encerramento precoce das suas atividades. Para piorar, a inclinação dos painéis solares do Spirit, de quase cinco graus em direção ao sul do planeta, é desfavorável para captar a radiação nesta época do ano marciano, que também tem suas estações de outono e inverno.
Ventos
A menos que a inclinação possa ser melhorada ou, com muita sorte, os ventos marcianos reduzam o acúmulo de poeira nos painéis solares, a quantidade de luz do sol disponível vai continuar a cair até maio. Em maio ou até antes, o Spirit talvez não tenha energia suficiente para continuar em operação.
Na taxa atual de acúmulo de poeira, a inclinação dos raios solares forneceria apenas energia para fazer funcionar os aquecedores para sobrevivência durante o solstício do inverno de Marte diz Jennifer Herman, engenheira de energia de robôs do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.
Mas nem tudo está perdido. Se não puder ficar circulando pelo solo marciano, o Spirit pode fazer escavações onde está, numa das extremidades da Cratera de Troia. Por isso, a Nasa está avaliando estratégias para mover os painéis solares. Assim, mesmo se o Spirit não consiguir escapar à armadilha de areia, continuaria em atividade. Essa decisão será tomada provavelmente em fevereiro pela agência espacial americana.
O Spirit ainda tem valor significativo para pesquisa exatamente onde se encontra acredita Ray Arvidson, da Universidade de Washington. Nós podemos estudar o interior de Marte.
Um estudo do interior do planeta pode usar transmissões de rádio para medir o tremor do eixo de rotação de Marte, o que não pode ser feito por um robô móvel. Este experimento e outros podem fornecer mais e variadas descobertas de uma missão que já superou as expectativas. Afinal, a meta inicial era manter o robô operando por apenas três meses. E ele está em funcionamento há seis anos. O Spirit chegou ao solo marciano em 3 de janeiro de 2004; no dia 24 do mesmo ano, o seu gêmeo Opportunity pousou em outra região de Marte.
Uma das descobertas que o Spirit poderia fazer, estando imóvel, é sobre a natureza do núcleo do planeta se ele é líquido ou sólido
A missão dos robôs tem sido extremamente proveitosa. Em 2004, o Opportunity comprovou que Marte já teve água em estado líquido. O Opportunity concluiu recentemente uma investigação de dois anos de uma enorme cratera de 800 metros chamada Victoria e agora se dirige para a cratera Endeavour, que fica a aproximadamente 11 quilômetros de Victoria. Desde o desembarque, o Opportunity já percorreu mais de 18 quilômetros e produziu mais de 132 mil imagens.
Missões ao planeta vermelho completam 50 anos
Marte já foi quente e húmido o suficiente para suportar a existência de lagos de água em estado líquido. As evidências foram obtidas através de imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter da Nasa, que se encontra atualmente em órbita do planeta, e publicadas na edição de janeiro da revista científica Geology . A sonda é uma das muitas que foram enviadas ao planeta vermelho desde 1960.
Por ser um mundo onde a a vida poderia ter evoluído, Marte é uma espécie de menina dos olhos dos cientistas que atuam na área de exploração espacial. Os EUA planejam fazer uma viagem tripulada até lá ainda na primeira metade deste século. Mas as viagens não-tripuladas ao planeta vermelho começaram há 50 anos.
Em 1960, a antiga União Soviética tentou enviar a primeira sonda espacial à Marte, inaugurando a era das missões espaciais ao planeta vermelho. Foram quatro anos de tentativas. Os EUA entraram nesta corrida dois anos depois e acabaram chegando antes com a Mariner 4.
Pioneira
Lançada novembro de 64 pela Nasa, a Mariner 4 foi a primeira sonda a passar pela órbita de Marte, numa distância de cerca de 9.900 quilômetros do planeta vermelho em julho de 1965, um ano depois do seu lançamento. A Mariner 4 fez 22 fotos de Marte, descobriu crateras e confirmou a presença de uma atmosfera tênue.
Os soviéticos tiveram relativo sucesso em 1971, com a sonda Mars 2, que transmitiu dados até 1972. Uma parte da sonda destinada a pousar na superfície do planeta apresentou falhas durante a descida e foi destruída ao chocar-se com o solo sem retornar nenhum dado. Mesmo assim, tornou-se o primeiro objeto feito pelo homem a tocar a superfície de Marte.
No mesmo ano, 1971, com a missão Mars 3, a URSS conseguiu fazer com que uma sonda pousasse por lá, mas os equipamentos pararam de funcionar 20 segundos após o pouso.
Foi apenas com as missões Viking, em 1976, que uma sonda americana pousou em solo marciano. As missões Viking 1 e 2 tentaram encontrar microrganismos em Marte, mas os resultados foram negativos. De qualquer modo, foram colhidos 4.500 dados e imagens da superfície do planeta. Em 1997, a missão Mars Global Surveyor, da Nasa, marcou o regresso a Marte após quase duas décadas de ausência. Até 2005, a missão já tinha enviado mais informação do que todas as outras missões juntas.
Atualmente a Mars Reconnaissance Orbiter, lançada em agosto de 2005, tem a finalidade de procurar evidências de existência de água. Os resultados agora apresentados poderão vir a ter importantes implicações para a área da astrobiologia e para os cientistas que continuam à procura de evidências de existência de vida em Marte.