Jornal do Brasil
RIO - Uma equipe de cientistas de vários países divulgou ontem um estudo revolucionário sobre o Ardipithecus ramidus, um antigo hominídeo que, há 4,4 milhões de anos, habitava a região onde hoje fica a Etiópia. Ardi, como foi batizado o esqueleto, viveu na África um milhão de anos antes de Lucy, a famosa Australopithecus afarensis, até então o ancestral mais antigo e famoso. Aliás, Ardi também era uma fêmea.
Ardi é claramente um ancestral humano e seus descendentes não viraram chimpanzés ou macacos, relataram os pesquisadores na revista Science.
Os pesquisadores salientaram que Ardi é agora o hominídeo mais antigo que se conhece, mas não é o elo perdido. Segundo eles, o elo perdido o ancestral comum aos humanos e aos macacos de hoje era diferente de ambos. A criatura, de 1,2 metro de altura, é um milhão de anos mais velha que Lucy.
Ela tinha uma cabeça semelhante a de um macaco e dedos dos pés oponentes, que permitiam que ela subisse em árvores com facilidade, mas suas mãos, pulsos e pélvis mostram que ela caminhava como um humano moderno e não como um chimpanzé ou um gorila.
As pessoas meio que assumiram que os chimpanzés modernos não evoluíram muito, que o último ancestral comum era mais ou menos como um chimpanzé e que a linhagem humana passou por toda a evolução afirmou Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que ajudou a coordenar a equipe de pesquisa. Mas Ardi é ainda mais primitiva que um chimpanzé disse White.
O estudo genético sugere que os humanos e nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, diferenciaram-se há 6 milhões ou 7 milhões de anos, embora algumas pesquisas sugiram que isso pode ter ocorrido há 4 milhões de anos.
Surpresas
Os especialistas em evolução humana estão constantemente à procura do ancestral comum entre o Homo sapiens e o chimpanzé, a espécie mais parecida com humanos hoje existente. Ardi, porém, não é este ancestral.
Ardi nos encheu de surpresas, pois, apesar de ser um mosaico, apresenta características mais parecidas com às dos humanos do que com às dos chimpanzés disse C. Owen Lovejoy, professor de antropologia da Kent State University e um dos autores do estudo.
O estudo do Ardipithecus ramidus sugere que, há quase 5 milhões de anos, estes hominídeos já cooperavam uns com os outros. Em praticamente todos os primatas machos, exceto no caso dos hominídeos, os dentes caninos eram grandes, pois serviam como armas para ameaçar e atacar oponentes.
Já o Ardipithecus ramidus macho apresentava caninos pequenos que não eram usados como armas em conflitos dentro do grupo. Eles provavelmente viviam em uma sociedade formada por casais específicos. Os machos obtinham e compartilhavam alimentos com as fêmeas que, por sua vez, cooperavam umas com as outras nos cuidados dos bebês.
Ardi, segundo os pesquisadores, provavelmente era onívora (comia de tudo) e se alimentava de frutas, cogumelos, e, talvez, de alguns animais invertebrados pequenos. O esqueleto de Ardi, que inclui crânio com dentes, braços, mãos, pélvis, pernas e pés, mostra que ela era uma fêmea grande, medindo cerca de 1,20 metro e pesando aproximadamente 50 quilos.
Apesar do corpo e do cérebro de Ardi serem semelhantes em tamanho com os de um chimpanzé, ela caminhava ereta e não se balançava entre árvores como os macacos de hoje. Embora fosse bípede, ela podia subir em árvores de modo mais eficiente que os humanos atuais. No entanto, Ardi não era capaz de fazer longas caminhadas, afirmaram os cientistas.
O primeiro fóssil do Aripithecus ramidus foi descoberto em 1992, perto do vilarejo de Aramis, na Etiópia. Desde então, já foram encontrados 110 fósseis desta espécie, representando 36 indivíduos. Mas Ardi é formada por partes de um esqueleto de um só indivíduo. Os pesquisadores demoraram 17 anos para finalmente divulgarem suas descobertas na edição de outubro da revista Science.
O que encontramos foi uma cápsula do tempo tão repleta de conteúdos que foi preciso todos estes anos para podermos analisar e relatar nossas descobertas diz Tim White Dois séculos depois do nascimento de Charles Darwin, podemos verificar que ele estava certo. Valeu a pena esperar para sabermos mais sobre o hominídeo mais próximo do nosso ancestral comum com o chimpanzé até hoje conhecido.