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Exame de sangue pode dar diagnóstico de dengue mais rápido

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JB Online

RIBEIRÃO PRETO - Um novo estudo recomenda que a rede pública de saúde adote exame de sangue para detecção do antígeno NS1 como diagnóstico da dengue. Além de comprovar que o resultado obtido com esse teste é mais rápido e eficaz do que os disponíveis atualmente, a pesquisa identificou que o NS1 é detectável até o sétimo dia da doença com segurança.

A dengue é uma doença aguda, de rápida evolução, com sintomas semelhantes ao de outras infecções, mas que em um número reduzido de casos pode assumir extrema gravidade, a chamada dengue hemorrágica. Sem uma terapia específica, a redução das complicações e consequentemente da mortalidade depende do diagnóstico precoce e do manejo correto do paciente.

A proteína NS1 tem sido reconhecida como um importante imunógeno em infecções por dengue, além de estar presente em altas concentrações no soro de pacientes infectados com o vírus durante a fase clínica inicial da doença.

O primeiro trabalho no Brasil a avaliar o desempenho da detecção dessa proteína como método de diagnóstico de dengue foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

- As análises da sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivos e negativos mostram que esse teste poderia entrar como rotina na detecção viral no sistema público de saúde, proporcionando diagnóstico mais rápido da dengue - disse Benedito Antônio Lopes da Fonseca, professor da disciplina de Moléstias Infecciosas e Tropicais de FMRP-USP e coordenador da pesquisa, à Agência FAPESP.

A pesquisa analisou amostras de 250 pacientes com suspeita de terem contraído a doença atendidos no Pronto Atendimento do Centro Saúde Escola e na Enfermaria de Moléstias Infecciosas e Tropicais do Hospital das Clínicas da FMRP-USP. Os resultados obtidos com o teste NS1 foram comparados com os apontados pelos métodos de diagnóstico usados atualmente.

O estudo mostrou que o teste de NS1 teve maior eficiência do que os demais métodos. O diagnóstico fornecido pelo teste apresentou sensibilidade e especifidade maiores que o isolamento do vírus e a amplificação do genoma do mesmo pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), usada nos primeiros cinco dias da doença. A acurácia do teste de NS1 foi de 79,2% e a do PCR de 74,4% , disse o infectologista.

A principal vantagem da detecção da proteína NS1 é a rapidez do resultado.

- Em cerca de duas horas do momento em que o sangue do paciente é coletado até a entrega do resultado o NS1 possibilita a análise de 90 amostras. Já o PCR geralmente demora de duas a três horas para ficar pronto e, nesse período, possibilita a análise de cinco a dez amostras - explicou Fonseca. Além disso, segundo o pesquisador, o PCR é um método caro, que requer técnicos experientes e equipamentos de laboratório especializados.

Porém, vale ressaltar que o diferencial do PCR é que ele identifica também o sorotipo que está circulando. E esse é um aspecto importante, pois uma das hipóteses do surgimento da dengue hemorrágica é a infecção sequencial, ou seja, em uma infecção secundária, causada por um tipo de vírus da dengue diferente do responsável pela infecção primária , disse.

O NS1 apresenta vantagem também sobre a técnica de detecção de anticorpos da classe IgM (imunoglobulina M) antidengue, chamada MAC-Elisa. Esta não pode ser utilizada para diagnóstico na fase aguda da doença porque a IgM se torna detectável entre cinco e dez dias depois do aparecimento da febre em casos de infecção primária e, em alguns casos, é de difícil detecção em infecções secundárias. Por isso, costuma ser utilizada somente a partir do sexto dia da doença.

- A questão é que, nesse momento, o paciente ou já sarou ou evoluiu para um quadro mais grave. Já a proteína NS1 é detectável desde o primeiro até o sétimo dia da doença, permitindo o diagnóstico rápido e a implementação das medidas terapêuticas - disse Fonseca.

O diagnóstico nessa fase é extremamente importante. Como o tratamento se resume em hidratação vigorosa, essa estratégia é contraindicada em outras doenças com manifestações clínicas semelhantes, como, por exemplo, a hantavirose.

Em São Paulo, o teste de NS1 foi adotado pela Secretaria Estadual da Saúde nas cidades com maior incidência da dengue, para diagnóstico de casos suspeitos em que o doente chegue com até três dias da doença.

Um dos objetivos é detectar e identificar marcadores para diferenciação da dengue clássica da dengue hemorrágica, o que não foi possível durante o estudo em questão devido a pequena amostra de casos de febre hemorrágica.

Com informações da Agência Fapesp