Cecilia Minner, JB Online
RIO DE JANEIRO - Ao contrário do que muitos pensam, é possível conviver bem com o diabetes que acomete de 3% a 5% da população brasileira e levar uma vida saudável. Basta ter o controle constante da glicemia. Porém, furar o dedo com frequência para medir o nível de glicose no sangue e tomar picadas de insulina várias vezes ao dia, para muitos, é um tanto incômodo. Mas uma nova opção de tratamento, mais prático, acaba de chegar ao Brasil. A inovadora técnica de administração de insulina computadorizada, combinada com um medidor de glicose contínuo, promete mudar o perfil dos diabéticos tipo 1 ou 2 e proporcionar a eles melhor qualidade de vida. Por meio de uma cânula subcutânea, fina e flexível, o paciente têm sua glicose controla 24 horas por dia, em tempo real, e recebe automaticamente a quantidade exata que precisa de insulina.
Caracterizada por um aumento anormal da glicose no sangue, a diabetes pode ser do tipo 1, quando a doença é auto-imune, e se dá devido à destruição das células beta responsáveis pela produção de insulina hormônio que coloca o açúcar dentro da célula. E o tipo 2, que também requer uma pré-disposição genética, e está relacionado, geralmente, à obesidade e ao sedentarismo. O mal, considerado a quarta causa de óbito no país, se não cuidado pode levar a complicações, como cegueira, doenças cardiovasculares e insuficiência renal.
Chamado Paradigm Real Time (da Medtronic), a nova tecnologia para tratar a diabetes, engloba um aparelho que lembra os antigos pagers: pequeno, pesa cerca de 100 gramas e pode ser adaptado à cintura do paciente. Desenvolvido para oferecer um tratamento personalizado, a bomba de insulina é programada de acordo com o perfil do paciente. Ela envia doses de insulina para o organismo de duas maneiras: basal, que são pequenas quantidades durante 24 horas, e o bolus, enviada imediatamente antes das refeições.
É um tratamento individualizado. Existem pessoas mais sensíveis à insulina que precisam, então, de uma dose mais baixa do hormônio, por exemplo. Já alguns necessitam de insulina basal mais elevada durante a manhã, outros à noite explica a endocrinologista Vivian Ellinger, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Fabricado nos Estados Unidos, o Paradigm Real Time, além de uma bomba inclui um pequeno aparelho que mede o nível de glicose do paciente, em tempo real, e o transmite por radiofrequência, sem fio, para o monitor da bomba.
A cada cinco minutos, no monitor, é disponibilizado um resultado sobre a glicose. Números, gráficos e setas indicam a direção e a velocidade de oscilação da concentração do açúcar.
A bomba possibilita ao paciente atuar rapidamente para evitar uma hipoglicemia ou hiperglicemia avalia a endocrinologista Denise Reis Franco.
Com a tecnologia, é possível também avaliar de que forma as refeições, os remédios e o estilo de vida afetam os níveis glicêmicos.
Com menu em português, o aparelho é de fácil navegação, o que dá ao paciente independência em relação ao médico só é preciso reprogramar o Paradigm, com o endocrinologista, de seis em seis meses. Além disso, o aparelho é capaz de registrar seis dias de monitoração, e por meio de um download, as informações podem ser enviadas ao médico via internet.
Giovana Garlo, de 8 anos, foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos cinco anos de idade. Ao urinar freqüentemente na cama, sua mãe desconfiou e a levou ao médico. Durante os anos de tratamento com seringa ou caneta , em que ela tomava picadas de insulina seis vezes ao dia, sua mãe não dormia com medo da filha ter uma hiperglicemia durante à noite. Hoje, Giovana usa a bomba com o medidor de glicose. Caso ela tenha picos de glicemia durante à noite, o aparelho apita ou vibra até que ela pressione o botão para a infusão da insulina. A tecnologia representou uma independência entre mãe e filha.
Com a bomba, é como se eu não fosse diabética. Tenho mais liberdade para comer o que quiser, como os docinhos das festas, pois a minha glicemia é o tempo todo controlada conta Giovana.
Esse tipo de tecnologia pode ser, a longo prazo, vantajoso economicamente. Pois com maior controle dos níveis glicêmicos, evita que o paciente desenvolva no futuro complicações decorrentes da diabetes, como cegueira, tornando-o incapaz de ter uma vida normal.
Estima-se que no Brasil 2 mil pessoas já usem as bombas. Porém o aparelho ainda é de difícil acesso para a maioria da população: custa em torno de R$ 10 mil.
Exercício físico e banho não atrapalham uso do produto
José Antônio Martins, de 42 anos, sofreu um acidente de carro quando adolescente, e quebrou a bacia. A fratura empurrou o fêmur para cima, o que acabou atingindo o pâncreas e, conseqüentemente, a produção de insulina. Martins, então, tornou-se diabético.
Cheguei a emagrecer 20 kg e tive picos altíssimos de glicemia até ser diagnosticada a diabetes conta Martins. Depois comecei a fazer o tratamento com a caneta de insulina e as coisas foram se normalizando. Mas era muito incômodo. Tinha de me picar toda hora. Estava em um bar, e tinha que ir ao banheiro volta e meia, isso pegava até mal.
Há cinco meses, Martins passou a fazer uso do Paradigm Real Time e, segundo ele, começou a levar uma vida como se não tivesse a doença.
Continuo tendo uma alimentação regrada, mas estou comendo mais. Já até engordei comenta. Hoje, jogo bola três vezes na semana e nado meia hora, vários dias na semana, sem me preocupar com os níveis de glicemia.
Giovana Garlo, de 8 anos, conta que há pouco tempo foi a um parque aquático e que ficou a maior parte do tempo sem o aparelho.
De vez em quando eu ia até a minha mãe, a gente conectava a bomba, aplicava uma dose de insulina, e eu voltava a brincar explica. Mas, geralmente, eu que faço tudo sozinha.
Os aparelhos não são à prova d'água, mas permitem que o paciente desconecte-os com facilidade. O sugerido é que ficar no máximo duas horas sem eles.
As cânulas da bomba e do medidor de glicemia são finas e flexíveis, então, não incomodam, mesmo durante a prática de exercícios físicos. Podem ser aplicadas no tecido subcutâneo do abdômen, coxa, glúteo ou braço precisam ser áreas que não sejam muito magras. As cânulas precisam ser trocadas de três em três dias.
As freqüências das ondas de transmissão do produto são mínimas, então não há restrições de uso junto a outros aparelhos eletrônicos. Mas no caso de pacientes com marcapasso, o medidor de glicemia deve ser colocado em direção diferenciada.
Desenvolvida para ser durável e não precisar de manutenção, um alarme do aparelho soa a cada 4 semanas para alertar o usuário que as baterias pilha palito precisam ser trocadas.
O Paradigm Real Time só não deve ser usado por aqueles que possuam alergia a cateter.