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Déficit de atenção acomete 4% dos adultos

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Cecilia MInner, Jornal do Brasil

RIO - O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) costuma ser mais diagnosticado em crianças, mas não é uma doença exclusivamente pediátrica. Afetando 4% da população adulta, o mal caracteriza-se pela diminuição das funções do córtex pré-frontal área do cérebro responsável pela inibição do comportamento e controle de concentração.

Como as principais causas são pré-disposição genética, tabagismo materno durante a gravidez, anoxia e complicações no parto, já se nasce com TDAH. Os sintomas surgem entre 7 aos 12 anos, e são os principais responsáveis pela queda do rendimento escolar. Porém, em mais de 50% dos casos, as manifestações persistem até a vida adulta, segundo a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA).

Hoje mesmo vivi um drama. Fui ao supermercado, passei muito tempo fazendo compras e na hora de pagar, me dei conta de que não tinha levado o cartão. Morri de vergonha. Sou muito agitada, falo sem parar e atropelo as pessoas. Começo a fazer várias coisas e não termino nada. Há pouco tempo, entrei na aula de ioga, e fui convidada a sair do grupo pois minha agitação atrapalhava o nirvana alheio contou, em ritmo acelerado, a designer Renata (nome fictício), 42 anos, que sofre de TDAH.

As características do distúrbio revelam-se de maneiras diferentes conforme a faixa etária. Enquanto o TDAH em crianças apresenta-se como inquietação motora, dificuldades de atenção nas aulas e na realização de tarefas escolares, no adulto os sintomas são predominantemente cognitivos.

Eles não têm o grau de hiperatividade observado em crianças, apenas inquietude, como balançar as pernas e mexer-se muito na cadeira afirma o psiquiatra Paulo Mattos, presidente da ABDA.

Planejamento

Na vida adulta, ficam mais evidentes as imperfeições das funções executivas: planejamento, organização e execução de tarefas. Geralmente, os adultos têm dificuldade de definir prioridades. Com isso, ficam sobrecarregados, estressam-se e interrompem no meio o que estão fazendo. É comum também a ocorrência de atrasos, esquecimentos e desatenção.

Não consigo programar o meu dia, emendar um compromisso no outro. Tenho sempre que voltar em casa porque esqueço alguma coisa. Sou conhecida na família como a atrasada confessa a dona-de-casa, Lurdes (nome fictício), de 50 anos.

Cerca de 70% dos casos de TDAH estão associados a ansiedade, depressão e uso de drogas, além de transtornos do apetite e do sono.

Como até há muito pouco tempo não se sabia ao certo o que era TDAH, as crianças cresciam com o problema. Eram apelidadas na escola e excluídas do meio social. Então, acabavam buscando as drogas como fuga explica a psiquiatra e psicoterapeuta Rita Jardim.

A junção das doenças nos adultos dificulta ainda mais o diagnóstico, feito a partir de uma análise do quadro clínico (sintomas apresentados). É necessário que os sinais de desatenção e hiperatividade e impulsividade sejam persistentes.

Além disso, é imprescindível que os sintomas apareçam na infância, pois se a pessoa os adquiriu na adolescência ou adulto não se trata de déficit de atenção. Em cerca de 10% dos casos, o distúrbio é conseqüência de uma lesão cerebral.

O tratamento adotado pelos médicos especializados é multimodal: combina medicamentos a Ritalina é o mais prescrito com psicoterapia a Terapia Cognitiva Comportamental é a mais indicada para tratar TDAH. A meditação também contribui para a remissão do distúrbio.

Há dois anos, surgiu no Brasil a neuropsicoterapia, tratamento que consiste em estimular o cérebro.

Através de um aparelho chamado Neuropathways, que conecta o cérebro do paciente a um computador, é possível selecionar freqüências e estabelecer critérios de amplitude do sinal para um treinamento cerebral. Isso, em no máximo um ano, leva à correção dos comprometimentos funcionais cerebrais explica o psicólogo e mestre em neurociência Leonardo Mascaro, que acabou de lançar o livro A Arquitetura do Eu.

Porém, o tratamento ainda não foi reconhecido pelos médicos.