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NOVA YORK - A preocupação deriva principalmente de uma série de relatórios de casos que demonstram uma forma rara de fratura na perna que rompe completamente o fêmur depois de traumas apenas moderados, ou até sem traumas.
As fraturas nessa porção espessa dos ossos tipicamente resultam de acidentes de automóveis, ou ocorrem em pessoas idosas e frágeis. Mas os relatórios de caso demonstram o padrão incomum de fratura em pessoas que tenham usado os medicamentos que geram massa óssea, conhecidos como bisfosfonatos, por cinco anos ou mais.
Algumas pacientes reportaram que, depois de semanas ou meses de dores inexplicadas, seus fêmures simplesmente se partiram enquanto elas caminhavam ou estavam em pé.
- Muitas das mulheres que passaram por isso informam que sentiram seu osso se quebrando antes que elas caíssem - disse o Dr. Dean Lorich, diretor associado de cirurgia ortopédica traumática no Hospital de Cirurgias Especiais da Universidade Cornell e no hospital New York-Presbyterian/Weill.
Lorich e seus colegas publicaram em 20 de junho, no Journal of Orthopaedic Trauma, um estudo em que reportam sobre 20 pacientes desse tipo de fratura. Das 20, 19 usavam o remédio conhecido como Fosamax há em média 6,9 anos.
No ano passado, o Journal of Bone and Joint Surgery publicou um relatório de pesquisadores de Cingapura sobre 13 mulheres que haviam sofrido fraturas em situações de baixo trauma, nove das quais eram usuárias por longo prazo da terapia Fosamax.
Os médicos enfatizam que o problema parece ser raro para uma classe de medicamentos que previne fraturas e ajudou a salvar as vidas de muitas mulheres pacientes de osteoporose. A cada ano, 300 mil adultos norte-americanos sofrem fraturas de bacia.
A Merck, que comercializa o Fosamax, diz que estudará se o padrão incomum de fraturas realmente tem incidência mais elevada entre os usuários do remédio.
Arthur Santora, o diretor executivo de pesquisa clínica do grupo, apontou que esse tipo de fratura responde por apenas 5% a 6% das fraturas de bacia, e que remédios como o Fosamax reduzem os riscos para os 95% restantes de pacientes.
Esse padrão de fratura não emergiu em estudos sobre medicamentos para os ossos realizados com grupos de controle aos quais eram ministrados placebos. Mas esses estudos só duraram cerca de três a cinco anos, enquanto os estudos de acompanhamento dos usuários de remédios duraram mais.
Agora que o padrão de fraturas foi identificado, os pesquisadores esperam que mais médicos publiquem relatórios a respeito da tendência.
- Tenho diversos pacientes que sofreram problemas desse tipo. Antes dos recentes artigos a respeito, havia alguns caso aqui e acolá, mas agora o total parece estar em ascensão - disse a Dra. Susan Ott, professora associada de Medicina na Universidade de Washjington.
Os ossos estão em constante processo de remodelagem. Com a dissolução de porções microscópicas de velhos ossos, um processo conhecido como reabsorção, e a reconstrução de ossos novos.
Depois dos 30 anos de idade, mais ou menos, os ossos das mulheres começam a se dissolver mais rápido do que podem ser reconstruídos, e depois da menopausa elas podem desenvolver ossos finos e quebradiços que se fraturam com facilidade.
Os bisfosfonatos incluem o Fosamax; o Actonel, da Procter & Gamble; e o Boniva, da GlaxoSmithKline, e eles ajudam a retardar esse processo.
Mas alguns especialistas estão preocupados que as rachaduras microscópicas nos ossos que resultam do desgaste normal não sejam reparadas quando o processo de remodelagem óssea é suprimido.
Um estudo envolvendo beagles, realizado em 2001, administrava doses elevadas de bisfosfonatos aos cachorros e constatou um acúmulo de danos microscópicos, ainda que não houvesse provas de que os ossos se tivessem enfraquecidos.
Em setembro do ano passado, o jornal médico Bone reportou um estudo com 66 mulheres, financiado pela Eli Lilly, que demonstrava associação entre o uso do Fosamax e o acúmulo de danos microscópicos nos ossos.
Em janeiro de 2006, o jornal médico Geriatrics publicou um incomum relatório em primeira pessoa no qual a Dra. Jennifer Schneider, 59, médica em Tucson, Arizona, escreveu que ela estava no metrô, em Nova York, quando o trem balançou. "Senti um estalido, e caí", ela relembrou em entrevista. "Sabia que tinha fraturado o fêmur".
Schneider, que tomava Fosamax há sete anos, disse que sentia dores nas coxas mas que raios-X e tomografias não mostravam problemas.
Nos últimos anos, outro efeito colateral incomum vem sendo associado aos remédios para os ossos: a osteonecrose da mandíbula, na qual a mandíbula de um paciente apodrece e morre. A maioria das vítimas é de pacientes de câncer que estão consumindo uma poderosa forma intravenosa do medicamento, mas um pequeno número de casos em pacientes comuns foi reportado.
Os estudos sugerem que existem poucos benefícios adicionais em usar os remédios para os ossos por mais de cinco anos. Lorich afirma que os médicos deveriam monitorar o metabolismo dos usuários de longo prazo e que alguns dos pacientes deveriam considerar a hipótese de suspender o uso dos remédios.
Quando fraturas ocorrem, os cirurgiões precisam ser alertados quanto ao uso do medicamento em longo prazo, porque ela poderia requerer tratamento mais agressivo e demorar mais a ser curada.
Ott diz que o foco deveria ser usar remédios para os ossos em pacientes com pelo menos 3% de risco de fraturas nos próximos 10 anos (uma ferramenta online de análise de risco de fraturas está disponível na Internet, no endereço www.shef.ac.uk/FRAX.)
- Muitas dessas pessoas não estão recebendo tratamento adequado e claramente benéfico. Minha maior recomendação cautelar é que os bisfosfonatos não deveriam ser usados em pessoas que não apresentem risco elevado de fratura - disse Ott.