CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Pela 1ª vez, 'cachorro fantasma' é capturado na Amazônia boliviana

O 'cachorro fantasma' também é conhecido como 'cachorro de orelhas cortadas' e 'cachorro da Amazônia'

Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 21/03/2023 às 16:14

Alterado em 21/03/2023 às 16:20

O 'cachorro fantasma' tem nadadeiras para desbravar pântanos Renata Leite Pitman

Em uma área periférica da cidade de Trinidad - capital do departamento boliviano de Beni - foi capturado um filhote da espécie Atelocynus microtis que, apesar de sua aparência, não tem parentesco com cães domésticos.
Em Beni, dizem que é mais fácil encontrar uma onça na selva do que o "cachorro fantasma", uma vez que o esquivo animal de hábitos noturnos evita o contato com humanos.

O animal estava preso nos campos da Universidade Autônoma de Beni (UAB), e o médico veterinário, pesquisador e professor da UAB, Marco Greminger, disse à Sputnik que capturou o pequeno animal e o tratou no hospital universitário devido a problemas de saúde. Após um dia, ele foi solto.

"Fizemos estudos biométricos e vimos que ele é um filhote de sete ou oito meses, porque os testículos da parte abdominal ainda não desceram. Embora estivesse magro, tinha um peso referencial dentro do normal. Sua frequência cardíaca estava alterada porque ele estava nervoso com a manipulação que fizemos", disse Greminger.

A espécie se alimenta de frutas, bem como de pequenos mamíferos e répteis. O pesquisador observou que seus pés têm uma membrana que o ajuda a se mover em rios e terrenos pantanosos. Sua visão também seria adaptada para se guiar no escuro.
"Temos amostras para fazer vários testes. Esses dias choveu muito aqui. Quando o tempo melhorar, vamos tentar colocar câmeras de armadilha para ver a família dele", explicou o veterinário.

No hospital da Faculdade de Ciências Pecuárias, o cachorro de orelhas curtas recebeu soro, vitaminas, água, carne e frutas. O médico decidiu liberá-lo para não o sujeitar a mais estresse, e antes de o devolver à natureza cuidou de remover todos os vestígios de odor humano.
Greminger também se comunicou com a bióloga brasileira Renata Leite Pitman, que se dedica a investigar essa espécie na Amazônia. Pitman conseguiu colocar colares de chip em cinco animais da espécie Atelocynus microtis para monitorá-los.

 

Mais felino do que canino?

Mesmo com jeito e forma canina, Atelocynus microtis não é parente dos cães com os quais os humanos convivem. Ao estudar o filhote, Greminger notou que seus dentes são mais parecidos com os de um gato do que com os de um cachorro. Ele considerou que são necessárias mais análises para saber se esta espécie pode ser reproduzida com cães domésticos.

Para o biólogo Huáscar Bustillos, "é de um gênero completamente diferente dos cães domésticos e não poderia haver hibridização".

No entanto, a proximidade da cidade e dos animais domésticos pode afetar a saúde desse canídeo silvestre. Isso explicaria o estado de fraqueza em que o filhote foi encontrado.
"Existem muitos cães naquela área, então há um potencial zoonótico que pode afetar esses indivíduos. Esse bichinho tem comportamento crepuscular noturno. É relativamente solitário, só se reúne na época reprodutiva. Apesar dos estudos feitos no Brasil, seu conhecimento ainda precisa ser aprofundado", disse Bustillos. (com Sputnik Brasil)