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União da Ilha traz Vinicius de Moraes para a Sapucaí

No ano de seu seu centenário, o poetinha é lembrado em diálogos imaginários com sua obra e vida 

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Vinicius de Moraes, cuja pluralidade é reconhecida em suas obras, pensamentos e paixões, recebe no ano em que é comemorado seu centenário uma homenagem da União da Ilha do Governador. Para compreender melhor o homem e o poeta, a escola resolveu criar um diálogo imaginário com seus poemas, contos e entrevistas.                                       

A agremiação conta a infância, as memórias, a poesia, a religião e a visão política do 'poetinha'. Tom e João Gilberto; Carlos Lyra e Nara Leão; Caymmi e quarteto em Cy; Toquinho e Clara Nunes; Maria Medalha e Maria Creusa; Bethânia, Joyce e Miúcha, também não poderiam faltar a essa homenagem. 

E nesse diálogo fictício entre a escola e o poeta, a morte é o fecho inevitável.

"Eu morro ontem/ Nasço amanhã/ Ando onde há espaço: – Meu tempo é quando.

Quem vai pagar o enterro e as flores Se eu me morrer de amores?

Amigos meus, está chegando a hora/ Em que a tristeza aproveita pra entrar 

E todos nós vamos ter que ir embora/ Pra vida lá fora continuar/  Prontinha pro show voltar 

E em novo dia/ A gente ver novamente/ A sala se encher de gente/ Pra gente comemorar

E no entanto é preciso cantar/ Mais que nunca é preciso cantar/ É preciso cantar e alegrar a cidade/ Quem me dera viver pra ver/ E brincar outros carnavais

A bênção, que eu vou partir/ Eu vou ter que dizer adeus".

FICHA TÉCNICA: 

Enredo: "Vinícius no Plural. Paixão, Poesia e Carnaval"

Diretor de Carnaval: Márcio André

Carnavalesco: Alex de Souza 

Diretor de Harmonia: Almir Frutuoso

Intérprete: Ito Melodia

Mestres de Bateria: Odilon e Riquinho

Rainha de Bateria: Bruna Bruno

Mestre-Sala:Ubirajara

Porta-Bandeira: Cristiane Caldas

Comissão de Frente: Sérgio Lobato

HISTÓRIA

Corria o carnaval de 1953 e Maurício Gazelle, Orphilo Bastos e Joaquim Lara de Oliveira tiveram a ideia de fundar uma escola de samba que congregasse os amigos que batiam uma bolinha no time do União, no bairro da Cacuia, Ilha do Governador. A intenção inicial era disputar os concorridos prêmios do carnaval insulano, que reunia escolas como a Unidos da Freguesia, Império da Ligação, Paraíso Imperial e Unidos da Cova da Onça. Nenhuma destas agremiações disputava o carnaval no centro da cidade. Afinal, eram escolas simples e pobres, com cerca de 100 componentes e estrutura primária. Desfilar “na cidade”, acarretaria gastos que nenhuma delas podia arcar.

Reunião na antiga sede da União da Ilha

Uma assembleia, realizada no dia 7 de março de 1953 e composta por 59 fundadores, deu origem ao “G.R.E.S. União”. Maurício Gazelle foi eleito o primeiro presidente. A nova escola, que se reunia no armazém de Maurício para planejar os desfiles, teve um início de carreira avassalador. Em 1954, em sua estreia, conquista o título com o enredo ‘Força Aérea Brasileira’, em homenagem à força armada que ocupa grande parte do bairro com seus quartéis. As vitórias sucederam-se. Até 1959, conquistaria todos os títulos dos carnavais da Ilha e chegou ao hexacampeonato.

Alegoria do ano de 1963

Com tamanho êxito, o passo natural seria a inscrição na Associação das Escolas de Samba, o que ocorreria em 1959, com vistas ao carnaval seguinte. Assim, em 1960, estreia no Terceiro Grupo, na Praça Onze, agora já batizada como “União da Ilha do Governador”. Durante a década de 60, a União alternou bons e maus momentos, chegando a figurar no Segundo Grupo. Era uma escola pobre, que dependia apenas de contribuições de comerciantes, mas foi a única agremiação do bairro que reuniu condições para sobreviver. Aos poucos as concorrentes do carnaval da Ilha foram morrendo e seus componentes integrando-se à União.

Desfile de 1975: A União chega ao Grupo Principal

Em 1970 começa a ascensão da escola, que atinge o segundo lugar no terceiro grupo com ‘O Sonho de Um Sambista’, conquistando o direito de voltar ao Segundo Grupo. Firma-se nesta divisão, até que a conquista em 1974 com ‘Lendas e Festas das Yabás’, a leva para o desfile das grandes escolas, em 1975. A estreia, embalada pelo belo samba ‘Os Confins de Vila Monte’, é boa. Consegue o 9º lugar entre doze concorrentes, que a alça ao Primeiro Grupo.

O grande impacto, porém, viria em 1977. ‘Domingo’ é classificado por vários especialistas como o melhor desfile já apresentado. Em uma época em que o desfile já se mostrava contaminado pelo vírus do gigantismo, o que se viu na passarela foi o contrário: em vez dos carros alegóricos gigantescos, pequenos tripés e muita simplicidade; foram utilizados carrinhos de pipoca reais, assim como um barco cedido pelo Ministério da Marinha. As fantasias, de simples concepção e sem luxo, condiziam perfeitamente com o enredo, que se destinava a narrar como é o dia da semana destinado ao descanso.

A reação da plateia foi imediata e a União da Ilha foi apontada como a grande favorita do carnaval de 1977. Mas o júri preferiu dar a vitória à Beija-Flor de Joãosinho Trinta, deixando a União da Ilha na terceira posição. O carnaval leve e alegre instituído pela carnavalesca Maria Augusta Rodrigues tornaria-se marca registrada da União da Ilha. Em 1978, outra vez a escola chega perto do campeonato com ‘O Amanhã’. Os enredos da escola, que apontavam por um caminho diferente das narrativas de feitos históricos que até então predominavam, eram curiosamente classificados de abstratos pelos concorrentes.

A popularidade da escola cresceu. Em 1979, mais um grande desfile com o enredo ‘O que Será?’. O carnaval de 1980 sintetizou a breve história da escola mais simpática e brincalhona do carnaval carioca. O enredo ‘Bom, Bonito e Barato’ levou a União à melhor classificação em todos os tempos: o vice-campeonato.

Desfile de 1982

Em 1982, outro grande momento com ‘É Hoje’, de Didi e Mestrinho, baseado na obra do cartunista Lan, famoso por retratar a alegria do carnaval. Este samba é um dos mais regravados da História, merecendo versões de, entre outros, Caetano Veloso e Fernanda Abreu. E também lançou um artifício que se tornou lugar comum nos sambas da escola: o verso “A minha alegria atravessou o mar”, relativo à condição geográfica do bairro, seria recriado por vários anos, adaptando-se aos enredos que se seguiram.

No mesmo ano, a União da Ilha deu um passo importante: inaugurou sua quadra, que até hoje é uma das maiores e mais confortáveis do Rio. Os ensaios da escola tornaram-se os mais concorridos e animados. Com isso, a escola começou a investir em sofisticação, tanto nas alegorias e fantasias quanto nos enredos. Carnavalescos renomados passaram pela União em busca do título inédito. Arlindo Rodrigues, em 1986, desenvolveu o enredo ‘Assombrações’, que levou a escola ao quinto lugar e à grande consagração popular. Max Lopes, em 1988, com ‘Aquarylha do Brasil’, alcançou a sexta colocação.

Desfile de 1989

Um porre de felicidade. Esse foi o carnaval de 1989, com o enredo ‘Festa Profana’. Relatando a história do carnaval, a União da Ilha fez uma apresentação impecável, que levantou o público do Sambódromo. Além de fantasias e carros de belo acabamento que nada deviam às concorrentes em grandiosidade, trouxe um samba que caiu na boca do povo: “Eu vou tomar um porre de felicidade/Vou sacudir, vou zoar toda a cidade”. Em um dos carnavais mais equilibrados da História, a União chegou em terceiro lugar, um ponto atrás da campeã Imperatriz.

A década de 90

O carnaval de 1998 marcou a estreia do carnavalesco Milton Cunha na escola. Vindo da Beija-Flor, apresentou o enredo ‘Fatumbi – Ilha de Todos os Santos’, sobre a vida do fotógrafo francês Pierre Verger. No ano seguinte, no entanto, Milton viveu a maior emoção de sua vida e a escola passou por um de seus momentos mais difíceis. Um incêndio a menos de 20 dias do carnaval destruiu por completo o barracão, na Avenida Venezuela. O que se seguiu foi um emocionante episódio de amor à escola: um verdadeiro mutirão tomou conta da quadra e do novo barracão para reconstruir, em tão pouco tempo, o que o fogo destruiu. Cada pessoa se dedicou da forma que pôde e a União da Ilha estava, a uma semana do desfile, com seu carnaval refeito.

Quando se pensava que tudo estava pronto, mais um golpe: uma tempestade destruiu grande parte das alegorias, depositadas em um terreno. Um novo mutirão foi feito. E, contrariando todas as previsões, a União da Ilha pisou forte na avenida e homenageou o jornalista Barbosa Lima Sobrinho.

A queda para o Grupo de Acesso

Em 2001, o maior revés da história da União da Ilha: o rebaixamento para o Grupo de Acesso. Com o enredo ‘A União faz a força, com muita energia’, a escola enfrentou problemas com alegorias e fantasias e fez um mau desfile, apesar de ter um dos mais belos sambas do ano. No Grupo de Acesso, uma nova luta: voltar ao Grupo Especial. No carnaval de 2003, a escola saiu da Avenida consagrada. O desfile sobre Maria Clara Machado, concebido por Paulo Menezes, encantou público e mídia, mas os jurados deram o título à São Clemente. Em 2006, a história se repetiu: mais um desfile consagrador com ‘As Minas Del Rei São João’, de Jack Vasconcelos. E, infelizmente, ainda não seria dessa vez que a União conseguiria convencer o júri.

Em 2009, o desfile campeão! A União voltou!

O dia 21 de fevereiro de 2009 entrou para a história da União da Ilha do Governador. Sexta escola a desfilar na Marquês de Sapucaí, no sábado de carnaval, a Ilha contagiou a Avenida e fez um desfile empolgante com o enredo ‘Viajar é preciso: Viagens extraordinárias através de mundos conhecidos e desconhecidos’, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcellos. desta vez, sagrou-se campeã do Grupo de Acesso. Durante a apuração, na Praça da Apoteose, na Quarta-Feira de Cinzas, a União da Ilha conquistou nota 10 em quase todos os quesitos. O sonho de voltar ao Grupo Especial após oito anos no Acesso tornava-se realidade.