Rússia Hoje, JB Online
REDAÇÃO - No Brasil, como na maioria dos países da América Latina, para onde, durante muitos séculos, vieram imigrantes de outros continentes - como Europa, Ásia e África - se formou uma relativamente pequena, porém importante, diáspora russa. Os seus centros históricos passaram a ser o industrializado estado de São Paulo, o estado do Rio Grande do Sul e a cidade do Rio de Janeiro.
Os destinos dos imigrantes russos que chegaram ao Brasil no início do século 20, no período compreendido entre as duas Grandes Guerras Mundiais, ou na década de 1950, procedentes da China, poderiam servir de excelentes enredos para romances de aventura - e estão à espera de seus Doistoiévskis, Tolstóis, Shólokhovs e Nábokovs. A conservação das raízes russas, da cultura, da língua e transmissão delas aos filhos e aos netos não foi nada fácil nas condições em que durante muitas décadas as relações entre os países e as pessoas eram determinadas pelas atmosferas ideológicas. No Brasil, inclusive, possuir uma biblioteca em língua russa poderia ser considerada possível ameaça ao regime militar. Muitos dos russos-brasileiros conseguiram, pela primeira vez, visitar a Rússia, a pátria histórica de seus antepassados, somente na década de 1990. A chama da vida social e cultural da diáspora russa no Brasil, que passou por ascensos e por difíceis períodos, nunca se apagou.
Os seus centros foram os templos da religião ortodoxa, cujo primeiro foi consagrado em setembro de 1909, na cidade de Campina das Missões, que criaram nos locais sólida residência, clubes, sociedades culturais e educacionais. Foram as sociedades educacionais e culturais Esperança ( Nadiejda ) e Volga, o coral Melodia, em São Paulo, a sociedade de cultura Volga, no Rio Grande do Sul, o Instituto de Cultura Brasileiro-Russo M. Iu. Liérmontov e a Casa Russa, no Rio de Janeiro.
A importante e singular comunidade de russos conservadores ("starovery ) mora e trabalha com sucesso nos estados de Goiás e de Mato Grosso do Sul. Mesmo depois de muitas décadas eles não perderam a sua língua, a crença e os costumes. Observam os antigos ritos, não abandonam a tradicional cozinha russa e vestem a roupa nacional. A sua língua russa, da mesma forma que a língua dos russos de Harbin e dos descentes de imigrantes da primeira onda, que se estabeleceram no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, dá, de alguma forma, a possibilidade de restabelecer a atmosfera do fim do século 19 e do início do século 20 na Rússia, e, desta forma, restabelecer o elo dos tempos e se recuperar das tentativas de violação que foram adotadas durante muitas décadas.
Hoje, os russos-brasileiros têm todos os motivos para aspirar que o elo com a pátria histórica, plenamente restabelecido depois de 1991, se desenvolva e se amplie. Sentimos as demandas para que a Rússia moderna dedique permanente atenção aos compatriotas que vivem no exterior. Mostram isso, claramente, os dias da Rússia realizados no Brasil, em outubro do ano passado, e a primeira liturgia ortodoxa diante da estátua do Cristo Redentor, no Corcovado, no Rio de Janeiro. Por sua vez, os atuais russos-brasileiros também aspiram se consolidar, criar condições para a conservação da língua e levar a eles o orgulho de pertencer a um povo que deu grande contribuição para o desenvolvimento da moderna civilização.
Em 2007, no Brasil, foi criado o Conselho de Coordenação dos Compatriotas, que realizou em abril de 2009 a sua terceira conferência e que adotou a resolução de criar o grupo jovem. Todos os russos-brasileiros estão se preparando para comemorar, em 2009, o centenário da imigração russa para as regiões do sul do país. Nas cidades de Porto Alegre, Campinha das Missões e Santa Rosa moram mais de 10 mil emigrantes da Rússia. Esses contatos entraram para a nossa vida cotidiana e estamos preparados para trabalhar para que eles nunca mais sejam interrompidos.
Sergio Palamarczuck - Presidente da Slavian Tours Viagens e Turismo