Milton Teixeira*, JB Online
RIO - Em 1938, com a urbanização e ajardinamento do canal da Lagoa e a ligação do Leblon à Gávea por bondes que agora faziam um percurso mais direto pela nova ponte sobre o citado canal, permitindo a ligação entre as avenidas Ataulfo de Paiva e Visconde de Pirajá, esta última em Ipanema possibilitaram um rápido desenvolvimento do bairro, que desde cedo passou a abrigar residências elegantes.
A realização da corrida de automóveis do Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, efetuada com regularidade desde 1933, colocou o Leblon como sede do mais importante certame automobilístico da América Latina, atraindo muitos turistas. A corrida começava na Gávea, na Marquês de São Vicente, e passava logo depois pela Visconde de Albuquerque.
Depois de algumas provas, o circuito passou a começar e terminar na própria avenida, defronte ao Hotel Leblon, o primeiro do bairro, ali instalado desde 1926, pelo prefeito Alaor Prata.
A remoção da favela da Praia do Pinto, na Lagoa, feita à partir de 1954, pelo Prefeito João Carlos Vital, permitiu que amplas áreas fossem ganhas para urbanização e firmou o bairro como local de residências e clubes elegantes. O último lote livre do bairro foi ocupado no início da década de 1970, pelo condomínio residencial batizado de Selva de Pedra , nome de uma novela televisiva popular á época.
A Rua Sambaíba era o antigo Caminho do Pau, por se iniciar na rua do Pau, hoje Dias Ferreira, indo até o alto do morro Dois Irmãos. Depois, ainda no século XIX, tomou o nome de Caminho do Guimarães, devido ao seu mais famoso morador, o português José de Guimarães Seixas, o líder do Quilombo Leblon. Reconhecido como logradouro público pelo Decreto Municipal no. 3.832, de dois de abril de 1932, assinado pelo prefeito Pedro Ernesto, que lhe deu a denominação atual. O Decreto Municipal no. 6.065, de 28 de setembro de 1937, assinado pelo prefeito Henrique Dodsworth, alterou seus limites, pois perdeu o trecho inicial para a Timóteo da Costa.
O nome Sambaíba vem do tupi e significa cajueiro bravo, árvore muito comum na região em seus primeiros tempos.
Ao final do século XIX, às vésperas da Lei Áurea, existiam dentro da cidade do Rio de Janeiro diversos quilombos de negros fugidos. Havia-os em Vila Isabel, Penha, Engenho Novo, bem como nas matas do Corcovado, Santa Teresa e Laranjeiras. Destes, o mais curioso foi, sem dúvida o do Leblon, ou do Seixas .
José de Magalhães Seixas (alguns grafam José de Guimarães Seixas) nasceu em Portugal em 1830 e com quatorze anos emigrou para o Brasil, naturalizando-se em 1875. Dedicou-se ao comércio de malas e artigos de couro, fundando casa comercial no Centro, onde amealhou fortuna. Com ela, comprou em 1878 do Tabelião Francisco José Fialho (1820? -1886) enorme chácara de dois milhões e setecentos mil metros quadrados na base do Morro Dois Irmãos, no Leblon, onde, em meio a luxuriantes jardins de camélias banhadas por regato de águas cristalinas, ergueu bonita casa. Esta ficava onde hoje existe o Clube Federal, na base do Pico dos Dois Irmãos (533m de altitude), na rua Alberto Rangel, ao final da rua Sambaíba.
Eram terras que de 1845 a 1857 pertenceram ao francês Carlos Leblon, que ali manteve uma empresa de pesca de baleias. Seixas abraçou a causa da abolição e não poucas vezes abrigou dezenas de negros fugidos numa caverna que existiu nos fundos da chácara, cuja entrada ocultava por portão recoberto de Coroas de Cristo. Era tão bem feita a camuflagem que o quilombo escapou incólume de todas as revistas policiais.
A 13 de março de 1887, dia de seu aniversário, Seixas deu monumental festa em sua casa, convidando para o banquete a fina flor do abolicionismo. Compareceram o deputado Joaquim Nabuco, o vereador João Clapp, os jornalistas José do Patrocínio (também vereador), Luiz de Andrade, Domingos Gomes dos Santos, Campos da Paz, Luiz da Fonseca, Ernesto Senna, Arthur Miranda, Brício Filho dentre outros. No final da festa, os convidados receberam a visita de cinquenta negros quilombolas alí acantonados, cujo líder fez tocante e inocente discurso de agradecimento. Respondeu Joaquim Nabuco com o mesmo linguajar dos escravos, bradando oração tão emocionada que levou os ouvintes ás lágrimas.
* Historiador