IÚRI SOLOZOBOV, JB Online
RÚSSIA HOJE - Em junho, foi realizada em Ecaterimburgo a primeira conferência de cúpula oficial dos países do Bric. Líderes de Brasil, Rússia, Índia e China discutiram problemas vitais da atualidade em alto nível. Iúri Solozóbov, diretor do Centro de Política Energética Internacional, comenta sobre o sinal que a cúpula do grupo BRIC emitiu para os sete países mais desenvolvidos do mundo (G-7) e quais serão as perspectivas de desenvolvimento de encontros desse formato.
Em meados de junho, na cidade russa de Ecaterimburgo, foi realizada a primeira conferência de cúpula dos países do grupo BRIC. Como resultado desse encontro foi aprovada uma declaração conjunta que reflete as abordagens comuns sobre problemas mundiais da atualidade, bem como uma declaração paralela sobre segurança alimentar global. Além disso, as partes decidiram iniciar a elaboração de parâmetros para uma nova arquitetura financeira mundial.
A ideia de reunir em um grupo países completamente diferentes, omo Brasil, Rússia, Índia e China, é uma iniciativa dos analistas da Goldman Sachs, que fizeram no início do novo milênio previsões de que em 2050 as economias dos Novos Quatro superarão totalmente o atual líder, o grupo dos Sete Grandes (G-7). Segundo avaliações posteriores, o BRIC poderá alcançar o G-7 já em 2027.
Se os países participantes do BRIC puderem encaminhar os seus interesses econômicos por uma única via fortalecerão signifi cativamente a sua influência na arena econômica, e, consequentemente, também na política internacional. Mas este último elemento não é um objetivo em si mesmo. Como propôs o presidente russo, Dmitri Medvedev, participarão da coordenação das atividades do novo bloco instituições públicas como, por exemplo, ministérios da Agricultura e ministérios que têm sob sua responsabilidade o desenvolvimento das relações econômico-comerciais.
Isso quer dizer que as atividades dos países do BRIC serão, acima de tudo, voltadas internamente, o que confirma também o ministro de assuntos estratégicos do Brasil, Roberto Mangabeira Unger. Segundo suas palavras, os encontros do grupo BRIC não são contra quem quer que seja, e, muito menos, contra os Estados Unidos .
No mundo ocidental esperava-se dos líderes dos países do BRIC grandes sensações, uma espécie de demonstração de renúncia ao dólar, ou declarações sobre a adoção de nova moeda para as reservas internacionais. Entretanto, os países do BRIC manterão a maior parte das suas reservas internacionais em ativos denominados em dólares norte-americanos, e como titulares de 42% de todas as reservas mundiais em divisas e players econômicos responsáveis, não estão interessados na sua desvalorização (segundo dados de março, a China têm títulos dos Estados Unidos no valor de US$ 767,9 bilhões, o Brasil, no montante de US$ 126,6 bilhões, a Rússia, no valor de US$ 138,4 bilhões). Desse ponto de vista, a cúpula de Ecaterimburgo demonstrou de forma patente o caráter nãoagressivo do novo bloco.
A cooperação no interior do grupo BRIC é estrategicamente vantajosa para os países participantes: nas previsões feitas em abril pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o desenvolvimento da economia mundial diz-se que por causa da crise os países do G-7 perderão cerca de 7% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Já a perda das economias dos Novos Quatro será significativamente menor, ou seja, cerca de 4,6%. E a China só diminuirá o ritmo de crescimento.
Partes fortes se complementam
No grupo desses quatro países cada um deles é forte à sua maneira. A Rússia é o maior fornecedor de produtos de energia, o Brasil é o maior em produtos agrícolas, a Índia é a maior em produtos intelectuais, e a China em recursos humanos. Aliás, questões como qual será o líder da emergente Aliança dos Quatro e se esse grupo não destruiria a concorrência interna, ficaram até agora em aberto. Agora, na Rússia está sendo elaborado um programa especial que permitirá duplicar o comércio nos próximos cinco anos. Aliás, pretende-se fazer avançar a tradicional estrutura de circulação de mercadorias para inovações e tecnologias avançadas. Estão sendo elaborados programas bilaterais para a conquista conjunta do espaço cósmico, para a criação de novos de tipos de equipamentos militares de defesa, na área de nanotecnologias e de energia. Assim, com a cooperação da Rússia, especialistas brasileiros criarão foguetes cósmicos capazes de colocar em órbita satélites de grande porte.
Por outro lado, a Rússia também pode pedir algo emprestado aos colegas dos Novos Quatro. São, por exemplo, tecnologias brasileiras de perfuração profunda na plataforma continental e produção de biocombustíveis, a experiência indiana na área de produtos farmacêuticos e da produção de biofertilizantes. Sem dúvida, diante de nós estão se abrindo as mais variadas possibilidades: econômicas, humanitárias e de política externa. E espero que no interesse recíproco encontremos os pontos em comum e que detectemos novas e avançadas soluções que sejam do interesse de nossos povos , assim Dmitri Medvedev fez o balanço da cúpula de Ecaterimburgo.