Editorial, Jornal do Brasil
RIO - Com 22 metros de altura, um monumento irrompe do asfalto, na interseção da Rua Visconde de Pirajá com Avenida Henrique Dumont, em plena Zona Sul do Rio. Construído em junho de 1996 para, nas palavras do arquiteto Paulo Casé (seu idealizador), enaltecer a presença do pedestre nas ruas e resgatar a memória da cidade , o Obelisco de Ipanema desde então vem recebendo mais críticas que aplausos. Passados quase 13 anos, a obra agora está ameaçada de vir ao chão, desde que o prefeito Eduardo Paes, em entrevista ao Jornal do Brasil de domingo, deixou a questão a critério da população carioca.
Erigido ao custo de US$ 100 mil, no bojo do projeto Rio Cidade (uma das bem-vindas prioridades da primeira administração de Cesar Maia, entre 1993 e 1997), o obelisco nasceu praticamente junto a outros irmãos igualmente polêmicos: os postes de iluminação pública inclinados (que, dentro do espírito jocoso do carioca, receberam o apelido de postes bêbados ) e da passarela em arco, que liga o nada ao lugar algum. Em verdade, o obelisco e a passarela foram erguidos em homenagem ao Rio Antigo, no exato local onde antes se situava o Largo do Bar 20 (o nome origina-se de um café, em referência à Rua Visconde de Pirajá, que anteriormente se chamava Rua 20 de Novembro). O discutível bom gosto das obras tentava criar para o bairro uma identidade arquitetônica própria, ao mesmo tempo em que deixava o nome do então prefeito marcado na história urbanística da cidade. Para o bem ou para o mal.
O que se percebe hoje, no entanto, é que o obelisco se encontra em estado de abandono. As faixas no chão estão sem pintura e a lâmpada central não é acessa desde a inauguração. A passarela está suja, com a pintura gasta, repleta de pichações. Nas suas bases, o lixo se acumula. Pedestres e motoristas reclamam que o monumento, plantado no meio da rua, atrapalha a fluidez do trânsito e até provoca acidentes, devido ao gelo baiano colocado na pista de rolamento.
Paulo César Ribeiro, professor de engenharia de transporte da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), garante que, do ponto de vista da engenharia de tráfego, seria melhor que o obelisco jamais tivesse sido instalado. O engenheiro até concorda com a permanência da obra caso fosse bem sinalizada o que, segundo ele, não é o caso. As reclamações que mais se ouvem dos moradores tampouco são estéticas, e sim, práticas. Problemas como a segurança do trânsito, os custos de manutenção, os vendedores ambulantes e até os pombos que se alojaram no arco são citados. A presidente da Comissão de Amigos do Jardim de Alah, Gladys Nunes, apoia a demolição total do monumento e diz ter o respaldo da maioria dos comerciantes e moradores das redondezas.
A ideia de uma consulta popular, como a proposta pelo prefeito Eduardo Paes, soa, assim, como a melhor e mais democrática saída para decidir o destino da obra. A tirar pelas declarações dos líderes comunitários e de boa parte dos moradores que ali vivem e passam diariamente, aquele monumento ao mau gosto está com os dias contados.