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Samba chora por Tia Doca

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Luiz Felipe Reis, Jornal do Brasil

RIO - "Madureira chorou. Madureira chorou de dor. Quando a voz do destino, obedecendo ao divino, a sua estrela chamou". Os famosos versos da canção Madureira chorou, talhada por Carvalinho e J. Monteiro serviram para ilustrar o sentimento deixado pela morte de uma das personagens mais queridas do mundo do samba carioca, a pastora da Velha Guarda da Portela, Jilçária Cruz Costa, de 76 anos, conhecida como Tia Doca.

A sambista morreu no domingo à tarde no Hospital dos Servidores do Estado (Iaserj), no Centro, após sofrer um infarto. A família informou que o corpo será velado hoje, a partir das 7h, na quadra da Portela, Rua Clara Nunes, 81, em Madureira. O sepultamento será às 16h, no cemitério de Irajá. Ela tentava se recuperar de um derrame ocorrido no último dia 17 de janeiro, e que a fez ser internada às pressas no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, subúrbio do Rio.

Após ser transferida para o Iaserj, na última quarta-feira Tia Doca chegou a receber alta do Centro de Terapia Intensiva (CTI) e seu quadro de saúde era estável.

Ela tinha uma identificação muito forte com a tradição das rodas do Rio. O seu pagode acontece há mais de 30 anos. É uma perda irreparável, mas vamos seguir os conselhos dela, que dizia que a roda nunca poderia acabar promete o cantor Dudu Nobre.

A verdadeira tia do samba

Ele, que conhecia a pastora desde os 5 anos e, aos 12, já freqüentava sozinho o famoso pagode comandado pela portelense, em Madureira, afirma que Doca era a mais importante matriarca dos sambas espalhados pela cidade.

Ela dava significado especial à palavra "tia". Perguntava se eu estava bem, se tinha almoçado, essas coisas... lembra Nobre. Participava das reuniões que ela organizava como ninguém desde que me entendo por gente. É como perder uma das pessoas mais importantes da minha família.

Recentemente, ela pôde ser vista nas telas de cinema, participando do documentário O mistério do samba, dirigido por Carol Jabor e Lula Buarque de Hollanda.

A Portela sempre foi uma grande família, e Tia Doca era uma das mais importantes e queridas figuras lembra o cantor e compositor Noca da Portela. Era a nossa ilustre pastora. Nosso coração está de luto, uma tristeza profunda toma conta de todos os que amam o mundo do samba.