Antonio Prada, Portal Terra
PEQUIM - A cena é conhecida. E virou marca. Phelps remove os fones de ouvidos dois minutos antes de cada prova começar. Fez isso diversas vezes nos Jogos Olímpicos, nas eliminatórias, semifinais e finais das provas no ginásio Cubo d'Água.
Ganhou oito ouros. Quebrou recordes. Virou mito. Depois de 40 exames antidopings, antes e durante as competições, há quem acredite que o aditivo que move o corpanzil com tempos agora memoráveis nas piscinas sai dos dois pequenos alto falantes que entram pelas grandes orelhas e ocupam o cérebro.
O doping musical do garoto branco de Baltimore, 23 anos, é o negro rap. Ouvir música aumenta a capacidade de oxigênio no sangue e melhora a performance do atleta, segundo o Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências do Cérebro, em Leipizig, na Alemanha. E isso é ilegal, atestam alguns especialistas.
Quem defende a tese é o doutor Alexei Koudinov, editor do Doping Journal Web site, baseado em Israel, que não tem dúvidas: "ouvir música com fones de ouvido antes do início de uma competição é método inválido e os ouros e recordes de Michael Phelps em Pequim são falsos. As medalhas deveriam ir para outros competidores", escreveu.
Koudinov utiliza várias análises, entre as quais a do doutor Stefan Koelsch, do instituto alemão, para tentar enquadrar o uso da música como doping. Segundos os estudos, que divulgam como o corpo reage à música, os sons podem ter influências sobre a taxa de respiração, a qual altera os níveis de oxigênio no sangue. O relatório reporta mudanças claras na taxa de respiração durante a audição de músicas.
O artigo cita ainda pesquisas da Universidade de Pávia, na Itália, realizadas com crianças, que concluem que a retirada de um estímulo musical momentos antes de uma prova de natação induz aos efeitos reportados por Koelsch.
A pesquisa mostra que a música causa melhor saturação de hemoglobina com o parâmetro de oxigênio, comparado com iniciativas sem música, indicando incremento na taxa de transferência de oxigênio (método considerado proibido em competições de acordo com o Código Mundial Anti-Doping, artigo M1, atualizado em 2008).
A utilização da música minutos antes de uma competição ainda não foi avaliada pela Agência Mundial Anti-Doping (Wada).
Enquanto isso, Phelps dá play no seu ipod e recebe adrenalina na beira da piscina, ao som, entre outros, do rapper norte-americano Lil Wayne, que carrega tatuagens pelo corpo inteiro e tem cara de bad boy: 'I'm me, so Who are you? You're not me; You're not me and I know that ain't fair, but I don't care' (Eu sou eu, então quem é você? Você não é eu; Você não é eu e eu sei que não é justo, mas eu não ligo).