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Mais antigo do Rio, Quilombo São José da Serra agita Catete
Por REVISTA PROGRAMA
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Publicado em 22/05/2025 às 12:02
Alterado em 22/05/2025 às 12:02

Completando 10 anos de concessão do direito de uso da terra, o Quilombo São José da Serra, em Valença, figura entre 53 quilombos rurais e urbanos do estado. Conhecido por muitas conquistas, é o mais antigo do território fluminense. Aqui no município do Rio, o Quilombo São José da Serra se faz representar pela primeira vez com sua arte na exposição "Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra", que será inaugurada no projeto Sala do Artista Popular (SAP), do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), Catete, dia 22 de maio, às 17h. A mostra é formada por bonecas realizadas em palha de milho e bucha seca, matéria-prima para criações de rara beleza. Todas estão à venda.
A famosa roda de jongo do Quilombo (já houve em Valença festa para até 4 mil pessoas) ilumina a abertura com os tambores iniciando os trabalhos às 18h30. O conjunto da obra simboliza um patrimônio com mais de 150 anos de História. Parte dela está registrada no catálogo realizado especialmente para a SAP, com a pesquisa do antropólogo Cesar Baía e imagens do fotógrafo Francisco Moreira da Costa. Cada visitante recebe o catálogo de graça. De graça também é a entrada no CNFCP, contíguo ao Museu da República, bem ao lado da estação Catete do Metrô.
O antropólogo César Baía destaca no texto do catálogo: “A história desse quilombo remonta a um passado de luta, resistência e herança cultural dos escravizados da Fazenda São José, no século 19, que se reflete nas práticas e tradições mantidas por seus descendentesnno território, entre elas, o Jongo e o saber-fazer bonecas de palha de
milho e bucha seca, objeto desta exposição na SAP. Das mãos das mulheres do quilombo surgem bonecas que fazem a vida se alargar. Mais do que simples brinquedos, essas bonecas são símbolos de liberdade, memória e identidade, uma celebração do protagonismo das mulheres de São José da Serra. Cada boneca carrega afeto e histórias de um passado ainda presente, sendo testemunho de luta e resistência. Cada traço é um segredo. Nos fios da palha e da bucha está a alma do território”.
“Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra” é uma exposição que atrai, à primeira vista, pela beleza e harmonia do feminino que transborda das criações delicadas. Parece mesmo uma arte secular. A Secretária da Associação do Quilombo, Luciene Valença, coordenadora das atividades, afirma que as bonecas de palha de milho e bucha dão continuidade ao fazer ancestral, mesmo sendo uma arte recente, em torno de 20 anos.
“No Quilombo, a renda da mulher é que faz diferença na vida da família. Nosso artesanato tem uma importância imensa por tudo que significa”, define Luciene Valença. A criação das bonecas se inicia em meados dos anos 2000, para geração de renda e aproveitamento da bucha e da palha de milho antes descartadas. Diante da grande quantidade de matéria-prima, um técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater) levou até lá uma professora que ensinou o artesanato das bonecas a Tia Tetê, matriarca já falecida.
Em seguida, no ano de 2007, o Artesanato Solidário/ Artesol e o Ministério do Turismo, com apoio da Prefeitura Municipal de Valença, organizaram um curso para que Tia Tetê repassasse a técnica a um grupo maior. Terezinha do Nascimento Fernandes era carinhosamente tratada por todos como Tia Tetê (1944-2023), nascida e criada no território da Fazenda São José. Tia Tetê foi das principais vozes na luta pelo reconhecimento territorial e contra o racismo estrutural, esteve à frente do centro de Umbanda local, a Tenda Espírita São Jorge Guerreiro e Caboclo Rompe Mato, responsabilidade herdada de sua mãe, Zeferina do Nascimento (1925-2003).
Como informa o catálogo da exposição, “Tia Tetê integrava práticas religiosas à mobilização política, reforçando a identidade coletiva e a noção de pertencimento e proteção do território. As bonecas transformaram palha de milho em arte e memória viva”. Para Luciene Valença o trabalho das artesãs fortalece os laços entre as gerações. “Assim também como o nosso terreiro de Umbanda, que graças a Deus, reúne várias gerações e cuida do nosso Jongo, mantemos o ensino do nosso artesanato, dentre outros trabalhos criativos que realizamos no Quilombo. As mulheres do Quilombo fazem coisas incríveis. E realmente isso ajuda muito a gente, não só financeiramente, mas também reforça aspectos de pertencimento”, conta.
Serviço: Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra" / Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - Museu de Folclore Edison Carneiro – Rua do Catete, 179. Catete – RJ. / Tel. 21 3032.6052 / Inauguração: 22 de maio, 17h | Roda de jongo, 18h30. / Encerramento da exposição: 29 de junho / Dias e horários de visitação: Terça a sexta-feira, das 10h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h. / Atenção: Os horários de funcionamento podem estar sujeitos à alteração devido à greve dos servidores da Cultura. Informe-se no site www.cnfcp.gov.br.