CINEMA
‘Nelson Pereira dos Santos - Vida de cinema’ tem lançamento nacional nesta quinta
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 16/11/2023 às 16:02
Alterado em 16/11/2023 às 22:24

O cineasta, fundador do cinema brasileiro moderno, é autor de inúmeros clássicos. Entre outros títulos, um dos mais celebrados é “Rio 40 graus”, considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. Produzido em 1955, continua atual até os dias de hoje.
As diretoras Aída Marques e Ivelise Ferreira, por sua vez, realizaram um excelente filme sobre ele, não só documentando sua vida e obra, mas também eternizando seu legado.
Filho de pais de origem italiana, o cineasta nasceu em 22 de outubro de 1928, na capital paulista, onde foi criado no bairro do Bixiga, e faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 2018, aos 90 anos
Ao longo de sua carreira, dirigiu mais de vinte filmes, além de ter atuado como montador, roteirista e produtor.
“Nelson Pereira dos Santos – Vida de cinema” constrói sua narrativa a partir de entrevistas concedidas pelo próprio diretor, além de trechos dos seus filmes.
Para estruturá-lo, foram necessários anos de pesquisa sobre Nelson e sua obra. Além de arquivos do próprio diretor, depositados na Academia Brasileira de Letras, as diretoras pesquisaram também em materiais da produtora dele e também em acervos no exterior – França, Portugal, Itália, EUA e Cuba.
O documentário foi selecionado para a Mostra Cannes Classics, na última edição do Festival de Cannes, um dos maiores eventos cinematográficos do mundo.
As diretoras falaram ao JORNAL DO BRASIL.
Há sempre muitas motivações para fazermos algo. Mas há aquela mais forte que dá o impulso final. No caso desse filme, poderíamos concluir que esse impulso pode ser atribuído ao fato do convite ter vindo do próprio Nelson?
Ivelise Ferreira - Bem, o impulso veio de um desejo antigo de fazer um filme sobre Nelson. Fomos casados por 30 anos. Ele havia terminado de escrever o roteiro sobre o imperador D. Pedro II, adaptação da obra de José Murilo de Carvalho. Nelson me chamou e falou: "Ivelise, vou me aposentar, não vou filmar o D. Pedro II". Então, falei: "está na hora de fazer um filme sobre você, você concorda?" Ele concordou: "pode seguir em frente". Daí inicia o processo de realizar o filme sobre ele. Convidei Aída para produzir e no meio do processo, na procura por um diretor, Nelson perguntou: "por que vocês não dirigem juntas o filme?" Foi o que fizemos.
Aída Marques - Claro que foi muito bom o Nelson nos ter convidado, mas eu acho que o impulso definitivo, realmente, foi o fato de poder fazer um filme sobre ele, de contar essa história, a história dele, dos filmes dele, e a importância que isso tudo tem para o cinema brasileiro
Sabe-se que para estruturação do filme foram necessários anos de pesquisa sobre o Nelson e também sobre a obra dele. Vocês falariam um pouco mais dessa pesquisa que, como foi divulgado, incluiu arquivos do cineasta em vários locais aqui e no exterior, como França, Portugal, Itália, EUA, Cuba...?
Ivelise Ferreira - A maior parte desses arquivos já estavam em nossa casa em fitas de vídeo e eu já os conhecia, e Aída transcreveu para CD, para iniciarmos a pesquisa. O Nelson tem um arquivo desde os tempos de "Rio, 40 graus", que está depositado no Arquivo Nacional e na Academia Brasileira de Letras. Partimos desse arquivo que contém muitas entrevistas concedidas ao longo de sua vida. Em seguida, a pesquisadora Laís Rodrigues fez um intenso trabalho de pesquisa em arquivos de imagens como o INA, a Cinemateca Brasileira, Cuba, MoMA, dentre outros, e através dessa pesquisa tivemos conhecimento de imagens que não conhecíamos. Foi um levantamento muito bonito da história do Nelson e de seu cinema. Ficamos muito satisfeitas, mas infelizmente não pudemos usar grande parte do material pesquisado, e tivemos que priorizar. Por exemplo da Itália, acabou não entrando nada, nem dos EUA, uma pena.
Aída Marques - Realmente, a pesquisa foi bastante grande em vários países e muitas mídias. Eu já estava fazendo essa pesquisa há algum tempo porque eu fiz um pós-doutorado na USP com os Ismail Xavier sobre Nelson, e depois participei com Nelson na ocupação no Itaú cultural. Fiquei um ano vendo os arquivos quando do pós-doutorado, então bastante material já estava levantado, mas eu precisei, junto com Ivelise, rever isto tudo, e obviamente, começar a fazer um recorte no material tão maravilhoso, com tanto conteúdo, tão vasto e proveniente de tantas fontes.
E o patrocínio, houve dificuldades para consegui-lo? Abrindo um parêntesis, uma vez o CPCB (Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro), entidade que presido, fez um levantamento com o tema e o resultado indicou que um dos maiores problemas do nosso cinema é, de fato, a busca do patrocínio, mesmo se tratando de um nome como o do Nelson.
Ivelise Ferreira - Foi difícil no início, mas depois que a Prefeitura de Niterói entrou com patrocínio em seguida, vieram Canal Brasil e Globo Filmes. Acho que essa questão de patrocínio se dá também nos filmes de ficção.
Aída Marques - A gente teve muita dificuldade com patrocínio, inclusive perdemos editais com poucos concorrentes, não dá para entender. Eu queria salientar que o Canal Brasil e a Globo Filmes foram os primeiros patrocinadores a entrar no projeto, a acreditar no projeto, agora a questão dos editais realmente é muito arbitrária, você não entende o que está acontecendo, a gente acabou de perder agora um edital de distribuição para o filme através da Lei Paulo Gustavo, do Estado do Rio. É inacreditável, até porque o filme não fala só do Nelson, mas do Brasil e do cinema brasileiro, das nossas questões.
Mas em resumo e felizmente, o filme foi feito e tem tido muito sucesso onde já foi mostrado. Vocês já têm algum novo projeto em mente?
Ivelise Ferreira - O filme foi para o Festival de Cannes na Mostra oficial Cannes Classics, Festival Internacional do Rio, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e entra em cartaz nesta quinta-feira, 16 de novembro, nos cinemas. Na torcida! Depois, vai para o Canal Brasil, Globo News e Globoplay. Sim, já estou trabalhando em um novo documentário em Ouro Preto, mas ainda é cedo para falar.
Aída Marques - A grande felicidade é a gente poder constatar que as pessoas gostam do filme, que as pessoas se emocionam quando assistem ao filme, apesar desses percalços financeiros, de produção. Eu tenho dois projetos de ficção, uma adaptação do escritor Stefan Zweig e um argumento original.