CINEMA

‘Eu deveria estar feliz’, de Claudia Priscilla, será lançado dia 7 nos cinemas

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 29/08/2023 às 15:04

Cláudia Priscilla, diretora de 'Eu deveria estar feliz", que estreia dia 7/9 nos cinemas. Foto: Claudia Priscilla

O documentário ‘Eu deveria estar feliz’ segue a jornada de quatro mães completamente diferentes entre si que viveram depressão pós-parto, conseguindo superá-la através do afeto.

A narrativa segue a característica da obra de Priscilla, já expressa em seus trabalhos anteriores que tiveram muito sucesso. Entre outros, “Bixa Travesti” e “Olhe pra mim de novo”.

O cerne de “Eu deveria estar feliz” foca realmente em muitos pontos que suscitam reflexões e debates relacionados com esse quadro depressivo.

Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, Priscilla falou sobre o filme, a principal motivação para realizá-lo, os desafios que precisaram ser vencidos e novos projetos.

 

JORNAL DO BRASIL -Qual a principal motivação para ter realizado “Eu deveria estar feliz”?

CLAUDIA PRISCILLA - Fui convidada para dirigir o filme pelo produtor Ric Vidal. A ideia nasceu de uma percepção da história pessoal dele e isso me impactou muito. Tivemos uma sintonia já na primeira reunião e iniciamos um processo intenso de construção do filme que foi sendo maturado coletivamente por uma equipe maravilhosa de mulheres. A minha motivação principal foi fazer um filme que aborda o gênero – esse tema que me encanta e permeia meus trabalhos – que problematiza a ideia romântica da maternidade. Tocar nesse ponto nevrálgico da nossa sociedade patriarcal que silencia as mulheres que denunciam que esse papel é uma construção política e social, e não um destino natural desses corpos.


Houve dificuldades para abordar um assunto tão delicado - por sinal, a característica de seus filmes? No caso de “Eu deveria estar feliz”, quais os desafios que precisaram ser vencidos?

Minha primeira preocupação é sempre fazer um filme com afeto – em todas as conotações que a palavra traz. Para isso, a construção da intimidade é fundamental.
Antes de abrir a câmera, já tinha pensado e discutido a narrativa fílmica com cada uma das mulheres que são retratadas no documentário, e isso foi fundamentação para a construção de um vínculo de confiança. A troca é essencial no meu processo criativo.
Meu maior desafio nesse filme foi acessar os lugares de dor de mulheres que vivenciaram a depressão pós-parto e transmutaram o sofrimento em amor. O filme traz uma reflexão sobre a complexidade de se parir como mãe. Pode ser um processo difícil e tortuoso como também pode não acontecer e se transformar em uma dor incomunicável. É impossível sair ilesa dessa experiência abissal.


O tema – ainda pouco explorado pelo cinema – certamente contribuirá para a continuidade do debate em muitas ocasiões, inclusive nas que vocês estão promovendo. Qual sua expectativa para os resultados?

O documentário propõe um mergulho no tema através da singularidade das experiências de cada personagem. É necessário individualizarmos cada história para o aprofundamento de um tema tão delicado como a depressão pós-parto. São as vivências desses corpos que nos possibilitam iluminar um pouco esse tema ainda tabu. Eu acredito na potência do audiovisual como ferramenta para discussão de temas importantes para a sociedade.
O documentário tem uma distribuição de impacto que contempla um aplicativo para auxiliar mulheres em depressão pós-parto – desenvolvido pela equipe da Unifesp, sessões especiais do filme para ONGs e entidades ligadas ao tema. Como também um projeto de lei para homologar o Dia Nacional do Combate à Depressão Pós-Parto, em curso em Brasília.

 

Já tem algum novo projeto em mente?

Estou finalizando a série “Religare Queer” sobre mulheres da comunidade LGBTQIAP+ e suas relações com as religiões – coprodução com a GNT e em pré-produção da série “Puta retrato”, sobre trabalhadoras sexuais, com codireção do Kiko Goifman para o Canal Brasil. E sempre tem filmes que estão prontos para sair do papel em busca de patrocínio.

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