CINEMA

‘Roberto Farias, memórias de um cineasta’, de Marise Farias, estreará em Gramado

Festival acontece de 11 a 19 de agosto. Filme estará na mostra competitiva de Longas-Metragens Documentais

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 09/08/2023 às 10:07

Cineasta Marise Farias Elza Afonso

Dirigido e roteirizado por Marise Farias, filha mais nova de Roberto Farias, “...Memórias de um cineasta” retrata a vida e obra do diretor de cinema e televisão que conquistou um diálogo direto com o público através de vários filmes.

Entre outros, sucessos como “Assalto ao trem pagador” (1962), a trilogia com o cantor Roberto Carlos (1968 a 1971), “Pra frente Brasil” (1982) e “Rico ri à toa” (1957), seu filme de estreia na direção.

Roberto trabalhou na área durante sete décadas e reconhecia a importância do audiovisual na formação e defesa da identidade nacional. Sua visão política estava presente também em filmes como “Selva trágica”, que fala da exploração de trabalho escravo nas plantações de mate, e “Assalto...”, que aborda o racismo e a impossibilidade de ascensão social da população negra e pobre das favelas.

Em 2007, como presidente da Academia Brasileira de Cinema, e atendendo à proposta do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB), criou o Prêmio Preservação, que entre outras razões objetivou o aumento da conscientização de que o cinema, como arte estratégica, faz parte da identidade de um povo que, através da cinematografia de seu País, pode refazer os caminhos de sua história e de sua cultura.

Montadora e diretora, Marise começou a fazer seus primeiros curtas de ficção em Super 8 quando era adolescente. Atualmente, desenvolve também projetos de preservação da memória do pai. “Roberto Farias, memórias de um cineasta” marca sua estreia na direção.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, a cineasta falou sobre seu novo filme, lembrou a carreira de Farias e destacou a importância da restauração fílmica para a preservação de nossa memória cultural.

 

JORNAL DO BRASIL - Fale um pouco mais sobre seu filme que eterniza nas telas a obra de um dos maiores cineastas do cinema brasileiro.

MARISE FARIAS - A ideia do filme partiu de um desejo meu de manter viva a memória de meu pai, tanto do ponto de vista afetivo como para realizar um registro da sua participação na história do cinema brasileiro. Achei que poderia contar de uma forma bem particular sobre a figura dele como pai e como cineasta. Pensei em realizar uma obra que dialogasse com um público o mais amplo possível, para as pessoas conhecerem o espírito de alguém apaixonado por cinema e que não só deixou filmes de grande sucesso, como “O assalto ao trem pagador” (1962), “Pra frente Brasil” (1981), a trilogia de filmes com Roberto Carlos, “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1987), mas também exerceu uma atuação política decisiva para afirmação do cinema brasileiro quando foi diretor da Embrafilme entre 1974-79.

Para mim é uma missão de muita responsabilidade fazer um filme sobre um cineasta consagrado que foi meu pai e ao mesmo tempo estrear na direção de um longa-metragem documental. Passei quatro anos pesquisando sobre a obra dele, organizando os acervos, e para contar essa história acabei me inserindo no filme como a personagem filha.

Muitas histórias ótimas ficaram de fora e serão publicadas em um livro de memórias que meu pai nunca publicou, que encontrei nos arquivos do computador dele depois da sua partida.

Acho que o público vai gostar de conhecer a trajetória do Roberto Farias em 90 minutos de filme.


Entre tantos títulos em sua carreira de sucesso, Roberto sempre teve um carinho muito especial por “Rico ri à toa”. Como você recorda a relação desse filme com Roberto?

Meu pai tinha muito orgulho da restauração feita pelo CPCB - Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro do seu primeiro filme, “Rico ri à toa”, de 1957, porque esse filme marca sua estreia como diretor. Para ele foi importante que aquela obra fosse resgatada e salva do desaparecimento definitivo. É uma comédia musical, com Violeta Ferraz e Zé Trindade, que traz uma rara participação de Dolores Duran no cinema, músicas de João do Vale, Sivuca, imagens do Rio de Janeiro do final dos anos 50, o comportamento daquela época, as piadas e toda a influência que ele recebeu como assistente de direção nas chanchadas e dramas da Atlântida. Neste filme, meu pai já começa a abordar a temática da pobreza e da imobilidade das camadas sociais. Em que o pobre não consegue melhorar de vida, tema que ele desenvolve no filme “O assalto ao trem pagador”. Para ele foi uma grande sorte que o filme tivesse feito enorme sucesso de público, porque ele recuperou os 200 contos que ele havia conseguido com o pai dele que empenhou a casa da família em um empréstimo com um agiota de Nova Friburgo. E eles tinham apenas 120 dias para fazer o filme, editar, exibir e devolver o dinheiro.


Já tem algum novo projeto em mente?

Atualmente, estou editando os textos das memórias do meu pai, que pretendo publicar, e também tenho um projeto com a Mapa Filmes, de realizar um documentário sobre literatura afro-brasileira. Outro projeto que tenho em mente é restaurar toda a obra do meu pai.

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