CINEMA

Crítica - ‘Indiana Jones e a relíquia do destino’: despedida algo morna do grande herói de ação do cinema

Cotação: três estrelas

Por TOM LEÃO
nacovadoleao.blogspot.com.br

Publicado em 06/07/2023 às 15:42

Alterado em 06/07/2023 às 15:42

Aos 80 anos, Harrison Ford retorna para a última grande aventura de Indy Divulgação (detalhe do cartaz do filme)

George Lucas tinha um sonho: fazer a sua própria versão do herói espacial ‘Flash Gordon’, com algo mais. Fez ‘Star Wars’. Steven Spielberg amava os serials, filmes de aventuras que passavam em capítulos nas matinês dos cinemas. Criou (junto com Lucas) o fabuloso personagem Indiana Jones. Indy é o maior herói de filmes de ação e aventuras do cinema moderno. Seus dois primeiros filmes são maravilhas irretocáveis.

A primeira vez que vimos Indy foi no sensacional ‘Caçadores da arca perdida’ (‘Raiders of the Lost Ark’), em 1981. É um filme de tirar o folego, da primeira à última cena. Nós simplesmente ficamos colados na poltrona e não conseguimos tirar os olhos da tela, ir ao banheiro ou olhar o relógio. São duas horas de pura emoção, alegria e adrenalina. O sucesso foi tanto (claro), que, dois anos depois, veio a sequência, ‘O templo da perdição’ (‘Temple of Doom’, 1984, até os nomes são legais), com ainda mais ação non-stop, adrenalina, e umas cenas bastante escabrosas envolvendo crianças escravas e corações sendo tirados do peito de gente viva em rituais! Foi tão hardcore, que certas cenas foram suprimidas para exibição na TV.

Alguns anos depois veio o suposto fecho de uma trilogia, com Indy encontrando seu pai (feito por Sean Connery) e vivendo mais uma aventura envolvendo nazistas e relíquias religiosas, ‘A última cruzada’ (‘The last crusade’, 1989). Embora boa, esta aventura foi menos trepidante do que as duas anteriores. E como o título, meio que induzia, deveria ser a última. Assim o personagem hibernou no cinema por duas décadas, até ser acordado para uma quarta aventura (com mais nazistas) e um filho no meio (o insuportável Shia Labeouf), em ‘O reino da caveira de cristal’ (‘The Kingdom of the Crystal Skull’, 2008).

Então, chegamos à quinta aventura de Henry ‘Indiana’ Jones Junior, sempre interpretado por Harrison Ford (que, ainda hoje, aos 80 anos, exala as emoções do Indiana, dando uma âncora de segurança ao todo). O que o novo filme traz de novo? Nada. A não ser que Ford, agora um idoso, teve de cortar um dobrado em certas cenas, mesmo com dublês. Desta vez é para ser a última aventura mesmo. Ela transcorre no fim dos anos 1960, mas começa com um prólogo que se passa em meados dos 40s. Então, Ford teve seu rosto ‘da época’ reconstruído para tal (usaram imagens dele dos primeiros filmes, recompostas digitalmente). Aliás, grande parte da sequência da (longa) aberturaé pura animação CGI, tudo artificial.

Mais uma vez, Indy está às voltas com nazistas. Desta vez, um engenheiro alemão (Madds Milkesen, ótimo) que ajudou a levar o homem à lua (como, na real, o fizeram Werner von Braun e outros) e que, apesar de bem quisto pelo governo americano, tem planos malignos, envolvendo uma traquitana criada 2.000 anos antes pelo matemático grego Arquimedes, que pode levar à abertura de uma fenda no tempo. E assim ele voltar ao começo da guerra e tomar o lugar de Hitler, como Füher!

Mas, até chegar lá (em cerca de 2h20 de filme, o mais longo da série!), há muitas reviravoltas e surpresas. O que envolve uma afilhada de Indy, a intrépida Helena (Phoebe Waller-Bridge, da série ‘Fleabag’), e um menino árabe (uma versão do Short Round, do segundo filme), que ajudarão Indy na empreitada em busca do tal artefato (além de um desperdiçado Antonio Banderas), antes que os nazistas o encontrem.

Tudo é muito movimentado (embora repetitivo), e personagens do passado, como Marion Ravenwood (Karen Allen) e Sallah (John Rhys-Davies), reaparecem. Mas faz falta o toque Spielberg (que dirigiu todos os anteriores). Ele é quem deveria ter fechado a saga de seu ‘filho’. Nas mãos do competente James Mangold (‘Logan’), ficou apenas ok. Mesmo a trilha de John Williams, não passa de uma colcha de retalhos do que ele já fez, forçando emoções aqui e ali. Com isso, o filme não alcança o nível de envolvimento e emoção que poderia ter. É apenas uma (boa) aventura corriqueira. Contudo, emociona quando ouvimos, pela última vez, o tema marcante, antes dos créditos finais.

Todos os filmes anteriores estão disponíveis no Disney+, para onde este novo deve seguir, até o final deste ano.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.

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