Para a maioria dos meninos, o pai é sempre um herói. É igual para o pequeno Émile (Jules Lefebvre). As histórias de seu pai são as melhores do mundo, e suas profissões, inigualáveis. Esse é o ponto de partida da dramédia ‘As histórias de meu pai’ (‘Profession du père’, 2020), de Jean-Pierre Améris, que chega aos cinemas nesta quinta (9). O roteiro, assinado por Améris e Murielle Magellan, parte do livro de Sorj Chalandon, e traz uma figura peculiar no personagem paterno, André (Benoît Poelvoorde, de ‘Aconteceu perto de sua casa’). A trama se passa no começo dos anos de 1960, e André conta ao filho suas grandes peripécias, como campeão de judô, paraquedista, jogador de futebol, espião, e até mesmo Conselheiro de Charles de Gaulle!

Contudo, chega o momento da missão mais importante de André, e ele pede ajuda ao seu filho que deverá se arriscar por seu país (supostamente, vai ajudar a salvar a Algéria e, como tem um coleguinha de classe fugido da guerra naquele país, se envolve ainda mais na missão). Mas, e se as histórias do pai forem lorotas? Émile (que tem sonhos intensos, baseado no que escuta do pai) começa a se questionar. A mitomania do pai é vista com ingenuidade pelo olhar do filho, que o venera. O livro é muito mais soturno. Mas, para o filme, o diretor mudou um pouco o tom, dando toques de comédia.

Améris aponta, no entanto, que há um lado bastante dramático, sério no filme, sobre um pai que abusa de seu filho psicologicamente. Desde o início, o diretor conta que tinha Poelvoorde em mente como protagonista para o filme, que aborda “não apenas o impacto duradouro da Guerra Franco-Argelina e suas consequências, mas também o impacto da saúde mental e do trauma em uma família quando uma (ou ambas) das pessoas que sofrem são pais”, disse ao site ‘Franco Files UK’, quando entrevistado sobre o filme.

Por isso, ‘As histórias de meu pai’, não é o típico filme infanto-juvenil que pode parecer. Ele também tem um lado sombrio.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.