
Sarah Quines - Dos griôs da África para o sul do Bronx e periferias em todo o mundo: a trajetória do hip hop completa 50 anos em 2023. A ideia de uma coletividade diaspórica está presente desde o começo da cultura, como contam personalidades históricas do hip hop ouvidas pela Agência Brasil e pela TV Brasil para celebrar o Dia Mundial do Hip Hop neste 12 de novembro.
Foi nesta data que o rapper estadunidense Afrika Bambaatta criou a organização não governamental (ONG) Universal Zulu Nation. A ONG, criada em 1973, além de realizar festas, organizava reuniões com vistas a atrair os jovens e apresentar o hip hop como alternativa para as gangues e as drogas. Em agosto do mesmo ano, a realização da block party dos irmãos Cindy Campbell e Kool Herc é considerada o pilar fundante da cultura hip hop.
No Brasil, comunidades de centros urbanos de todo o país se comunicam nas diversas linguagens que compõem a cultura hip hop e tem como pilares o grafite, breaking, DJ e MC. "Pra mim o sul do Bronx é só uma metáfora, porque o sul do Bronx pode ser o Capão Redondo [zona sul paulistana], é o Alto José do Pinho [em Recife], é a periferia de São Luís, a periferia de Manaus. É a periferia de qualquer outra grande cidade do mundo", aponta o DJ Eugênio Lima, um dos pioneiros na capital paulista.
"O hip hop começa dessa forma: a gente se reescrevendo, se entendendo como ser humano, como ser cultural. Os próprios quatro elementos do hip hop eram muito contestados como arte, como algo que pudesse prover algo: o break não era dança, o grafite não era arte visual, o DJ não era músico, então quem sobrava?", questiona o rapper brasiliense Gog.
"[O hip hop] traduziu no dia a dia o que as pessoas falavam de forma complexa e complicada. Todo mundo fala assim: ‘Mano, você pode melhorar’. Mas ninguém fala assim: ‘Vem comigo’."
Construção
Em julho deste ano, a Construção Nacional da Cultura Hip Hop, que reúne representantes do movimento em todo o Brasil, oficializou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o pedido de registro do hip hop brasileiro como Patrimônio Cultural do Brasil. Segundo o instituto, "o processo está agora na fase de verificação e averiguação da documentação inicial para que prossiga em tramitação no âmbito do Iphan nos próximos anos".
"O hip hop brasileiro é um hip hop que pauta a transformação social da realidade e tem conquistado ao longo dos últimos 40 anos um processo de emancipação crítica e econômica para várias periferias do país", defende o rapper Rafa Rafuagi, facilitador geral da Construção.
O grupo também busca propor políticas ao governo federal. Para o artista, o investimento no hip hop "muda a vida das pessoas na medida em que libera recursos e esses recursos vão diretamente para dentro das periferias".