CADERNO B
Monarco era elegância, dignidade e beleza
Por LUÍS PIMENTEL
Publicado em 17/08/2023 às 15:33
Monarco era presidente de honra da Portela Divulgação
Ele nasceu em 1933 (dia 17 de agosto) e morreu em 2021. Estaria completando agora 90 anos de idade. Foram 88 de vida, mais de seis décadas de samba. Craque da elegância, da dignidade e da beleza, Monarco tinha a voz, a postura e o equilíbrio do bom e velho (sempre renovado) samba brasileiro. Tinha os traços firmes, marcados e marcantes do homem brasileiro. E num momento em que se fala tanto em ética (e na falta dela), posso garantir que Monarco teve também a cara da ética, no que a ética tem de melhor. Por isto, transmitia tanta confiança. E tanta gente confiava nele.
O cidadão que recebeu em 2005 a Medalha Pedro Ernesto pelos relevantes serviços prestados à nossa MPB teve o nome de batismo de Hildemar Diniz. Mas ficou conhecido e amado mesmo foi como o Monarco da Velha Guarda da Portela, compositor que enchia os olhos, autor de sambas que estão entre os mais deliciosos da nossa música e do repertório de excelências como Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Martinho da Vila e Beth Carvalho. Para quem não liga o nome à pessoa ou ao vozeirão que se dividia entre o grave e suave sem desafinar nem atordoar os ouvidos, é autor de pérolas como “Lenço”, “Vai vadiar”, “Tudo menos amor”, “Coração em desalinho”, “Passado de glória”, “Rancho da primavera” e mais um caminhão de obras-primas.
Com o seu eterno e indiscutível amor ao samba e à Portela, Monarco formou duas gerações, dentro da própria família, de seguidores dos seus passos. O último pilar da ponte já é uma referência marcante no mundo da música, a neta Juliana (cantora e atriz), filha de seu filho Mauro Diniz – também compositor e um instrumentista de altíssimo nível. Teve mais um filho que entrou cedo e continua no ramo: o cantor e compositor Marquinhos Diniz, uma das feras do Trio Calafrio. Todos seguem a tradição do velho Hildemar, da velha guarda, da escola de samba querida e também dos principais parceiros de Monarco, como Alcides Dias Lopes (o Malandro Histórico da Portela), Chico Santana, Manacea, Mijinha e Candeia. Infelizmente, todos também já mortos.
Monarco deixou alguns discos gravados (com certeza, bem menos do que mereceu), inclusive no Japão. Até pouco antes de nos deixar ainda corria para cima e para baixo (quando fazia bom tempo, viajava até para a França), em busca de shows que garantiam o seu sustento. Mas sempre sem perder a tranquilidade, a cordialidade e o bom humor.
Foi um dos artistas mais bonitos e dignos que eu conheci.