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Sábado, 26 de julho de 2025

Criação e memória em acervos históricos

Continuação da capa

Sérgio Guerini/Divulgação -
De 1965, "Um pouco de prata para você" ilustra o trabalho de Antonio Dias em parceria com o MAM
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A exposição do acervo próprio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - além de obras cedidas da coleção Gilberto Chateaubriand ao museu - é característica comum das três mostras que vão até março, uma dedicada à obra de Antonio Dias (1944-2018) e duas temáticas combinadas, com foco nos gêneros de retrato e paisagem, da pintura.

Antonio Dias - O ilusionista

Aberta em setembro de 2018, no terceiro do MAM, a mostra entrou em cartaz menos de dois meses da partida do artista, em 1º de agosto do ano passado. As 56 obras são peças do acervo próprio do MAM e da Coleção Gilberto Chateaubriand, cedidas ao museu.

Prorrogada até 24 de março, "O ilusionista" reúne trabalhos construídos em diversos suportes e materiais, conforme o paraibano, nascido em Campina Grande em 1944, começou a fazer nos anos 1960, já morando no Rio de Janeiro.

Foi nessa época que, após frequentar as aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes, Dias conheceu artistas do neoconcretismo carioca e entrou fundo na alta diversidade de técnica suportes, em especial o papel artesanal, na linha que Hélio Oiticica (1937-1960) apelidou de "antiquadros".

Tais inovações ganharam peso em duas marcantes exposições realizadas em 1965 pelo mesmo Museu de Arte Moderna: "Opinião 65" e "Propostas 65". No mesmo ano, Dias ganhou o Prêmio de Pintura da Bienal de Paris, que o motivou a desembarcar na capital francesa, em 1966, vivendo posteriormente também na Itália (Milão) e na Alemanha (Berlim e Colônia). Em 1992, voltaria à Europa, como professor de academias de Belas Artes em Salzburgo, na Áustria, e da Karlsruhe, na Alemanha.

Curadores da exposição, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes ressaltam que Dias "encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira", em um ciclo virtuoso de mão dupla. "Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as quase 60 obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do Museu".

Um dos destaques da mostra, "O espetacular contra-ataque da arraia voadora", de 1966, combina pinturas em guache e nanquim com colagem sobre papel, na simétrica dimensão quadrada de 33 por 33 centímetros.

Constelações e Horizontes

Também com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, duas mostras vão até 10 de março investigando as variedades de retratos e paisagens, no segundo andar do MAM.

Com mais de 220 obras, de mais de 140 artistas brasileiros e estrangeiros, "Constelações" e "Horizontes" abordam, respectivamente, os gêneros de retratos e paisagens, em r gravuras, objetos, fotografias, vídeos e instalações.

"Em algumas obras, nem o corpo todo aparece, apenas pedaços ou sinais", explica Fernanda Lopes, que selecionou as mais de 120 peças de "Constelações - O retrato nas coleções MAM Rio", entre títulos pertencentes à coleção própria do Museu de Arte Moderna, à de Gilberto Chateaubriand, e à de Joaquim Paiva, sobre um dos gêneros mais antigos da pintura.

Não faltam artistas retratados por colegas, como Milton DaCosta (1915-1988) nas cores da Djanira (1914-1979) e um expressivo autorretrato do cearense Antonio Bandeira (1922-1967), entre diversos trabalhos desse gênero de outros importantes expoentes do modernismo brasileiro como Anita Malfatti, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, Maria Leontina, Ismael Nery e Vicente do Rego Monteiro.

Por mais corriqueiro que já fosse esse hábito no período modernista, o MAM lembra que, dois séculos antes, "não era qualquer um que podia ser retratado". Até o século 18, pinturas com retratos pessoais eram restritos a membros de famílias reais, militares de alta patente vitoriosos em guerras e integrantes do alto clero religioso, conforme explica a curadoria na apresentação de "Constelações".

Já "Horizontes A paisagem nas coleções MAM Rio" revisita esse outro gênero clássico com mais de 100 obras de quase 70 artistas, pertencentes a diferentes gerações, como Regina Vater, Carlos Zilio, Alfredo Volpi, Thereza Simões, José Pancetti, Daniel Murgel, Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Cícero Dias, Ernesto de Fiori e Eduardo Coimbra.

A exposição tem como ponto de partida as pinturas de paisagem, de modo a revisitar e também repotencializar este que é um dos gêneros clássicos da pintura. A mostra abrange mais de uma centena de obras de quase 70 artistas, de diferentes gerações, como Regina Vater, Carlos Zilio, Alfredo Volpi, Thereza Simões, José Pancetti, Daniel Murgel, Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Cícero Dias, Ernesto de Fiori e Eduardo Coimbra. Todas as obras integram o acervo do MAM Rio, pertencentes à coleção própria e à de Gilberto Chateaubriand.

Fábio Ghivelder/Divulgação - Quadro sem título de Iberê Camargo, de 1953, é uma das paisagens expostas pelo MAM em "Horizontes"
Romulo e Valentino Fialdini/Divulgação - Em seu "Autorretrato", de 1950, Antonio Bandeira é um dos diversos artistas que figuram em "Constelações"

Serviço

Sérgio Guerini/Divulgação -
De 1965, "Um pouco de prata para você" ilustra o trabalho de Antonio Dias em parceria com o MAM

MUSEU DE ARTE MODERNA Avenida Infante Dom Henrique, 85, Centro (Aterro, altura do Castelo). Tel.: 3883-5600. De terça a sexta, das 12h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h. Ingressos: R$ 14. Entrada gratuita às quartas. www.mamrio.org.br.

METAIMAGENS Instalações, vídeos, pinturas e realidade virtual de Cesar Oiticica Filho. Foyer (pátio térreo). Até 24 de fevereiro.

CONSTELAÇÕES E HORIZONTES. Mais de 220 obras, de 140 artistas, representando dois gêneros clássicos da pintura: retratos e paisagens, respectivamente. 2º andar. Até 10 de março.

ANTONIO DIAS - O ILUSIONISTA. Acervo do MAM e da coleção Gilberto Chateaubriand, reunindo 56 obras do artista paraibano (1944-2018). 3º andar. Até 24 de março.