ARTES
O universo onírico de Chagall
Por PATRÍCIA SECCO
Publicado em 11/12/2025 às 07:04
Alterado em 11/12/2025 às 11:47
Marc Chagall: pintor, ceramista e gravurista surrealista Foto: divulgação
Existem artistas que não apenas pintam — eles sonham acordados. Marc Chagall foi um desses visionários que transformaram memórias em poesia visual, fazendo do cotidiano um espetáculo sobrenatural.
Em Vacas sobre Vitebsk, por exemplo, essa memória ganha corpo e cor: um homem suspenso no ar, um bode azul que repousa como se flutuasse sobre um violino, uma cabra vermelha que toca o seu arco imaginário e, abaixo deles, a pequena Vitebsk — cidade natal do artista — adormecida sob um sol que parece respirar.

Cows over Vitebsk - 1966 Imagem: reprodução
Chagall não narra paisagens; ele convoca lembranças ancestrais. Sua paleta é feita de infância e nostalgia, e de tradições judaicas.
O azul aqui não é apenas azul — é silêncio, é sonho, é saudade.
O vermelho não é cor — é chama, é vida que insiste.
E o amarelo que acende o céu não é luz — é revelação.
Em Vacas sobre Vitebsk, tudo se move num balé impossível: personagens que flutuam, animais que tocam música, uma aldeia inteira que parece escutar o mistério do próprio tempo. É a afirmação da poética maior de Chagall — a realidade em suas pinturas viram sonhos…

Over the Town - 1918 Imagem: reprodução
Suas figuras suspensas nos lembram que a existência é sempre mais ampla do que o que vemos; que por trás de cada gesto há um mito, e em cada cor um pedaço da alma.
O pintor, ceramista, gravurista surrealista Marc Chagall, nascido Moja Zacharovi a, em Vitebsk, no Império Russo, hoje Belarus, morreu aos 98 anos e, em seus quase 1 século de vida, com sua delicadeza feroz, repete o que eu sempre soube: a arte é o lugar onde tudo para os artistas podem voar e sonhar como as fábulas. E nós, diante desta tela, nos tornamos cúmplices desse voo — recuperamos a capacidade perdida de nos maravilhar.
Eu, como artista, sempre prefiro a aquarela, porque além de ser a técnica, a mídia, mais difícil, existe uma transparência inigualável, mas Chagall consegue com a pintura óleo, o mesmo efeito de cores que só a aquarela tem.
Um gênio!

Red House - 1922 Imagem: reprodução

Rain - Da colecão do museu Guggenheim Imagem: reprodução