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Governo de SP também comprou sistema FirstMile, usado pela Abin de Bolsonaro para espionar opositores

Sistema de espionagem israelense foi adquirido pela intervenção federal na segurança do Rio e teria sido usado pela "Abin paralela" criada pelo delegado Ramagem

Tarcísio de Freitas e João Dória
Foto: Reprodução

O governo de São Paulo também comprou o programa israelense de espionagem, FirstMile, alvo de investigação da Polícia Federal (PF) por suspeitas de que teria sido usado ilegalmente pela "Abin paralela" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para espionar, sem qualquer tipo de aval judicial, aqueles que considerava "inimigos".

A compra do software pela Polícia Militar paulista foi concretizada apenas em 2023, ou seja, na gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas as negociações, alega o ex-ministro da Infraestrutura, começaram em 2022, no governo de João Dória (PSDB).

“A Polícia Civil conta com o equipamento desde de 2021 e a Polícia Militar o adquiriu no primeiro semestre de 2023, a partir de uma contratação iniciada em 2022, portanto, na gestão anterior”, diz a nota enviada ao jornal O Globo.

Indagado sobre a aquisição, Dória afirmou que "foi uma decisão da Secretaria de Segurança Pública de SP". Todavia, o coronel Álvaro Camilo, que comandava a Polícia Militar na época, afirmou a Bela Megale, do jornal O Globo, que não teve conhecimento de qualquer tratativa ligada à aquisição do sistema.

Operação Última milha

Na sexta-feira passada (20), a PF deflagrou a Operação Última Milha, a fim de investigar a utilização indevida, por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de um sistema de geolocalização de dispositivos móveis sem autorização judicial. Um dos presos é Rodrigo Colli, profissional da área de contrainteligência cibernética da agência. O outro é o oficial de inteligência Eduardo Arthur Izycki. Ambos são os suspeitos de coagir os colegas para evitar demissão.

Além da prisão dos dois servidores da Abin, a operação da PF mirou cinco diretores da agência, que foram afastados temporariamente. Na casa de um deles, o secretário de Planejamento e Gestão do órgão, Paulo Maurício Fortunato Pinto, a PF apreendeu 171,8 mil dólares em espécie.

O First Mile, programa usado pela Abin, permitia o monitoramento de até 10 mil donos de celulares a cada 12 meses. Bastava digitar o número do contato telefônico desejado no programa. A tecnologia localizava aparelhos que utilizam as redes 2G, 3G e 4G.

O uso feito por São Paulo do equipamento ainda não foi esclarecido. Na gestão federal, a suspeita é de que o sistema era usado para espionar opositores de Bolsonaro.

Tentativa de golpe

O sistema de espionagem foi comprado pelo Gabinete de Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro ainda durante o governo Michel Temer (MDB). Na ocasião, o general Walter Braga Netto atuava como chefe da intervenção.

Com a eleição de Jair Bolsonaro (PL), o programa foi levado ao governo federal e, segundo as investigações, teria sido usado amplamente pela Abin - órgão subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Augusto Heleno -, que estava sob o comando do atual deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

A PF acredita que o sistema foi usado pelo ex-presidente na tentativa de golpe de estado. Segundo a apuração, a "atuação de Bolsonaro e aliados ultrapassou a mera cogitação e atos preparatórios e efetivamente tentou dar um golpe".

Os eventos citados pelos investigadores da PF incluem os bloqueios de rodovias, acampamentos nos quartéis, financiamento das manifestações antidemocráticas, a bomba no aeroporto na véspera do Natal, a tentativa de invasão da sede da PF no dia 12 de dezembro e o monitoramento de autoridades pela Abin.

Além disso, investigadores apontam que a espionagem de figuras públicas por agentes da Abin rastreou "centenas de celulares" de quem frequentava o Supremo Tribunal Federal (STF).

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