POLÍTICA

Preso por corrupção, Eduardo Cunha recomeça seus golpes por Minas

Pode esfriar a volta do ex-presidente da Câmara dos Deputados ao jogo político, com Tiago Bonecão e Bejani, em Juiz de Fora

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Publicado em 10/10/2025 às 22:53

Alterado em 11/10/2025 às 10:36

Eduardo Cunha Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Depois da fracassada tentativa de se eleger por São Paulo, onde teve 5 mil votos para deputado federal, Eduardo Cunha se muda com a mesma estratégia para Minas Gerais

POR CARLOS ROBERTO DESIDERIO

(MINAS GERAIS) A euforia causada pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, entre políticos de Juiz de Fora e da Zona da Mata pode acabar a qualquer momento — ou se arrastar até a campanha eleitoral de 2026. Isso porque as mudanças na Lei da Ficha Limpa que o beneficiariam foram vetadas e, como se não bastasse, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a retomada de uma ação penal aberta contra ele em 2016.

A convite de seu afilhado político Marcelo Aro, secretário de Estado de Governo e pré-candidato ao Senado, Eduardo Cunha transferiu seu domicílio eleitoral para Minas Gerais no início do ano e caiu na estrada em busca de votos. Seguiu pelas rotas abertas pelo deputado estadual Zé Guilherme (PP), pai de Aro, e veio parar na Zona da Mata.

Por aqui, entre um voo e outro de helicóptero, percorreu em um mês mais municípios do que muitos deputados com emendas milionárias conseguiram visitar em um ano. Além da retórica da velha política, Cunha levou aos prefeitos e vereadores da região a promessa de recursos para a campanha.

Em Juiz de Fora, conseguiu o improvável: arrebatou para seu campo o vereador e pré-candidato a deputado estadual Tiago Bonecão (PSD), aliado de primeira hora do deputado federal Luiz Fernando Faria (PSD), amigo pessoal do vice-prefeito Marcelo Detoni (PSB).

Cunha também apalavrou o apoio do ex-prefeito Alberto Bejani, que ficaria responsável por uma rádio que deve entrar no ar em Juiz de Fora ainda neste ano. E, para arrematar, iniciou um namoro político com representantes locais da Igreja Assembleia de Deus de Madureira.

Os prefeitos da região, Bonecão e Bejani agora aguardam a decisão do Congresso sobre os vetos do presidente Lula à Lei da Ficha Limpa. A principal polêmica é a retroatividade da norma. O texto aprovado tentava transformar a lei em um “salvo-conduto” para condenados por improbidade ou corrupção, mas Lula vetou o dispositivo.

Nos bastidores, porém, circula a versão de que o veto foi combinado com parlamentares. O presidente teria feito um gesto simbólico e agora aguardaria a derrubada do veto no Congresso. A articulação abriria caminho para o retorno de Cunha. É aguardar para ver.

Por via das dúvidas, no início da semana, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu cinco dias para que o presidente Lula e o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil), expliquem as mudanças na Lei da Ficha Limpa. A medida se deve ao fato de a Rede Sustentabilidade ter questionado a alteração.

Mas os problemas de Eduardo Cunha na Suprema Corte não devem parar por aí. A PGR pediu ao STF a retomada de uma ação penal aberta em 2016 contra ele, decorrente da Operação Lava Jato. O processo levou à cassação de seu mandato e à inelegibilidade até 2027.

O pedido da PGR se apoia em decisão recente do STF que ampliou o alcance do foro privilegiado, mantendo o julgamento de ex-parlamentares na Corte quando os crimes ocorreram durante o mandato. Cunha é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido US$ 5 milhões em propina para favorecer contratos entre a Petrobras e a empresa Samsung Heavy Industries.

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