POLÍTICA

Caixa suspende exposição com Arthur Lira na lata de lixo

Embora suspensa, os seis dias que a peça ficou à mostra incomodaram o líder do Centrão, que 'forçou' demissão de Rita Serrana antes do previsto

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 25/10/2023 às 12:25

Alterado em 25/10/2023 às 17:09

Quadrinho traz Lira, Paulo Guedes e Damares Alves na lata de lixo Foto: Reprodução

A Caixa Econômica Federal (CEF) decidiu suspender, na segunda-feira (23), a exposição "O Grito!", de curadoria da produtora cultural e antropóloga Iara Machado, que tem o patrocínio da própria Caixa e do Governo Federal, ao custo de R$ 250 mil dos cofres públicos.

A exposição reunia obras de sete artistas, mas uma peça em especial causou atrito no meio político e provocou a suspensão. Trata-se da "Coleção Bandeira", de autoria de Marilia Scarabello, que colocava o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dentro de uma lata de lixo, junto da senadora ultraconservadora Damares Alves (Republicanos-DF) e do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

Além do quadradinho em que Arthur Lira, Damares e Guedes aparecem dentro do lixo, uma outra arte mostra o que parece ser o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agachado, sem calças e defecando sobre a bandeira do Brasil.

Obra nomeada 'Coleção Bandeira' leva Bolsonaro defecando na bandeira do Brasil
Foto: Reprodução

Em nota enviada ao Poder 360, que deu a notícia em primeira mão, o banco estatal informou que decidiu suspender a mostra, que estava no ar desde 17 de outubro, por identificar “manifestação com viés político” na peça, o que fere as diretrizes da Caixa.

"Considerando que foi identificada na obra em questão manifestação com viés político, o que fere as diretrizes do programa, a Caixa decidiu suspender a referida exposição. A direção do banco informa ainda que determinou apuração de responsabilidade pelos órgãos internos", diz o texto. A exposição só seria encerrada em 17 de dezembro.

Embora suspensa, os seis dias que a peça ficou à mostra incomodaram o líder do Centrão, que desde julho vinha negociando com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a presidência da CEF e suas principais diretorias. Para aliados do petista, a imagem derrogatória do deputado apareceu em mau momento, o que forçou Lula a acelerar a troca de comando no banco.

Segundo o Poder 360, esses mesmos aliados avaliam que o episódio demonstrou “desleixo” e escancarou a falta de “tato político” da agora ex-chefe da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano. A pressão para que ela deixe o cargo aumentou, com diversos recados levados ao Palácio do Planalto por aliados de Lira.

Ministros de Lula avaliam que o timing da exposição também foi ruim para o governo federal porque Brasília retoma o ritmo normal nesta semana. O presidente voltou a despachar no Palácio do Planalto depois de três semanas recluso no Palácio da Alvorada para se recuperar de duas cirurgias, uma no quadril e outra nas pálpebras. Lira também retornou à capital depois de ter passado duas semanas na Índia e na China.

O presidente da Câmara foi o chefe político do Centrão que deu o aval principal para as mudanças nos ministérios de Lula, que oficializaram a entrada do PP e do Republicanos na base de apoio do governo, em 6 de setembro. Arthur Lira entregou a Lula em 28 de setembro o nome de Carlos Antônio Fernandes Vieira como possível indicado para presidir a Caixa no lugar de Rita Serrano.

Após a polêmica, o presidente da República voltou a ser pressionado para retomar a análise sobre a troca no banco depois de ter congelado a possibilidade por conta de uma declaração de Lira ao jornal Folha de S. Paulo. Em 17 de setembro, o cacique político disse que as indicações para os cargos no banco público passariam pelo seu crivo e afirmou que a ideia era contemplar não só o PP, o seu partido, mas também outros de seu grupo político, como União Brasil, Republicanos e parte do PL.

Lula não gostou da pressão pública feita pelo deputado e havia decidido deixar a troca para 2024, mas agora foi aconselhado a retomar as negociações para evitar que as pautas de interesse do governo na Câmara fossem travadas. O governo tem interesse na aprovação de projetos que possam garantir receitas aos cofres públicos nos próximos anos, como o projeto de taxação de offshores e fundos de investimentos exclusivos.

Em meio ao desgaste político e à pressão do Centrão pela troca no comando do banco, Lula demitiu Rita Serrano nesta quarta-feira (25), no Palácio do Planalto.

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