POLÍTICA
General G. Dias, ex-GSI, diz à CPMI que foi ‘conduzido a má avaliação dos fatos’ no 8 de Janeiro
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 31/08/2023 às 14:38
Alterado em 31/08/2023 às 14:38
Gonçalves Dias Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), culpou "informações divergentes" recebidas pela pasta no dia dos ataques golpistas aos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro. A declaração ocorreu durante depoimento prestado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga o atentado, nesta quinta-feira (31).
O militar da reserva foi convocado sob a tese bolsonarista de que teria colaborado com os invasores no Palácio do Planalto, uma vez que aparece nas imagens internas ao lado dos vândalos. Em depoimento, Dias afirmou que foi “mal conduzido a uma má avaliação dos fatos, por ter recebido informações divergentes” de pessoas que trabalhavam no Ministério.
Segundo o ex-ministro, as informações teriam sido repassadas por Saulo Moreira Cunha, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Cíntia Queiroz de Castro, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal e subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública; e o general Carlos Penteado, então secretário-executivo do GSI.
"Essas informações divergentes me foram passadas por contatos diretos meus, como o senhor Saulo Moreira Cunha, a coronel Cíntia, da Polícia Militar, e o general Penteado, meu secretário-executivo”, alegou. "Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 de janeiro e culminaram com minha decisão e iniciativa em ir pessoalmente ver como estava a situação do Palácio do Planalto", observou.
Dias confirmou ter recebido uma mensagem de alerta do então diretor adjunto da Abin sobre a gravidade das mobilizações. Esse relato havia sido feito à CPMI pelo próprio Saulo Moreira, que disse que o general chegou a reconhecer riscos de “problemas” naquela data, em diálogo virtual. O militar alegou que, ao receber o informe, consultou primeiramente a coronel Cíntia , que o teria informado que estava "tudo calmo".
Em seguida, G. Dias ligou para o general Carlos Penteado, então secretário-executivo do GSI, que também teria passado informações contrárias, alegando que tudo estava sob controle. “Permaneci inquieto e decidi ir até o Palácio do Planalto”, revelou.
“Dia 8 de janeiro, domingo, passei a manhã em casa. Recebi uma ligação do senhor Saulo Cunha. Ele relatou a possibilidade de intensificação das manifestações. Em seguida, troquei informações por telefone com a coronel Cíntia, da Polícia Militar. Ela me disse que estava tudo calmo”, alegou.
E prosseguiu:
"Por volta de 13h30, recebi uma nova ligação do senhor Saulo. Ele confirmou a intensificação das manifestações. Liguei, então, para o general Penteado, secretário-executivo do GSI. O general Penteado me afirmou que estava tudo calmo e disse que eu não precisava ir ao Palácio do Planalto, porém, permaneci inquieto e decidi ir até o Palácio do Planalto”, completou.
Às vésperas do ataque
Em relação aos dias anteriores, Dias afirmou que o GSI não foi convidado para participar da reunião que discutiu o plano de operação de segurança, no dia 6, junto ao governo do Distrito Federal. Ainda segundo ele, os alertas recebidos nos dias 6 e 7 de janeiro indicavam normalidade.
"Às 16h30 do dia 6 de janeiro, o alerta de atualização das manifestações indicou o seguinte: em Brasília, ‘foram bloqueados os acessos da Avenida do Exército, o Exército realiza operações de redisposição da estrutura do acampamento junto a manifestantes, nas proximidades do QG do Exército e da Praça dos Cristais. Não foram identificadas manifestações em outros locais da capital'", leu o general.
"A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal assegurava que tudo estava sob controle, que ações especiais eram desnecessárias. Aquele era o cenário no momento em que deixei o expediente do dia 6, sexta-feira. (...) Tinha a convicção de que, se algo extraordinário acontecesse, receberia ligações ou visitas, tendo em vista que eu estava em Brasília, e o meu endereço era de conhecimento de todos os meus chefes subordinados", completou.
O ex-ministro criticou, também, que os meios de transmissão dos alertas eram grupos de WhatsApp e sustentou que só teve conhecimento de um grupo da Abin no próprio dia 8. Participvam dele representantes da inteligência das Forças Armadas, do Ministério da Defesa e do Ministério da Justiça.
“O Sistema Brasileiro de Inteligência, o Sisbin, que tem a Abin como órgão central administrador, tinha como canal oficial utilizado para a transmissão de conhecimento de inteligência com os demais órgãos uma ferramenta chamada Correio Sisbin. Durante os primeiros dias do governo, de 2 a 8, não foi repassado nenhum relatório de inteligência por esse meio”, afirmou".
'Bloqueio facilmente rompido'
Já no Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, o general G. Dias disse à CPMI que assistiu ao último bloqueio da Polícia Militar ser facilmente rompido antes que os vândalos chegassem ao Planalto. “Aquilo não podia ter acontecido. Só aconteceu porque o bloqueio da Polícia Militar foi extremamente permeável”.
O ex-ministro do GSI, que estava no cargo no dia 8 de janeiro, pediu demissão em 19 de abril depois que imagens de dentro do Palácio do Planalto, que mostram ele e funcionários do gabinete se movimentando entre os vândalos, no dia da invasão, vazaram à imprensa.
Com Agência Brasil e Carta Capital