POLÍTICA
União Brasil é o partido 'aliado' que mais traiu o governo na Câmara
Por POLÍTICA JB com Agência Estado
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Publicado em 27/07/2023 às 05:14
Alterado em 27/07/2023 às 07:37
Caio Spechoto, Iander Porcella e Giordanna Neves - O União Brasil foi o partido aliado do Palácio do Planalto que mais votou contra os interesses do governo no primeiro semestre, de acordo com levantamento feito pelo Broadcast Político com base nas votações nominais da Câmara. Mesmo PP e Republicanos, que estavam na coligação de Jair Bolsonaro em 2022 e só agora negociam indicações de ministros, foram proporcionalmente mais governistas que o União.
A análise inclui as votações de 2023 até o início do recesso informal do Congresso, há 10 dias. O Legislativo voltará a funcionar na primeira semana de agosto. Os integrantes do União na Câmara foram contra o Planalto em 38,12% das votações. Os deputados do Republicanos deram 29,82% de seus votos contra a orientação do Executivo no período. No PP, o percentual foi de 35,14%.
A média de votos contra o governo na Casa Baixa no primeiro semestre foi de 31,88%. Entre partidos que indicaram ministros, a média foi de 17,17% dos votos contrariando o Planalto, enquanto essa parcela é de 47,78% no caso das legendas que não têm integrantes no primeiro escalão do Executivo.
A comparação entre União Brasil, PP e Republicanos é motivada pelas negociações em andamento para os dois últimos entrarem no governo, enquanto o primeiro só recentemente chegou a um acordo com o Planalto para trocar sua representação na Esplanada.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou a entrada do União Brasil no governo com o senador Davi Alcolumbre. Juscelino Filho virou ministro das Comunicações e Waldez Góes, aliado de Alcolumbre apesar de ser do PDT, assumiu o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Lula ainda nomeou Daniela Carneiro como ministra do Turismo - depois, seu grupo político deixou o União Brasil. A relação do partido com o Planalto foi turbulenta ao longo de todo o primeiro semestre. Agora, com a troca de Daniela por Celso Sabino, a expectativa dos lulistas é que melhore.
Logo após assumir o Turismo, Sabino disse em entrevista ao Broadcast Político na semana passada que seu partido é o que mais deu votos a favor do governo depois do PT. Matematicamente, a afirmação procede: como a bancada é grande (tem 58 deputados), mesmo com porcentual mais baixo o total de votos dados aos projetos do Planalto supera o de outros aliados de Lula. Proporcionalmente, no entanto, a situação é diferente.
Segundo o professor e pesquisador do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira, o apoio atual pode ser o máximo que o União Brasil é capaz de dar ao Executivo. “O partido faz parte do governo mas tem uma parcela de parlamentares que tem origem no bolsonarismo”, disse ele.
De acordo com Teixeira, os votos dados por PP e Republicanos ao governo tiveram alto custo em liberação de emendas. A nomeação de ministros desses partidos poderia reduzir esse custo. “O que o governo quer agora é garantir uma relação mais estável”, afirmou o pesquisador.
Ainda não estão decididos quais ministérios Republicanos e PP ocuparão, mas já é consenso que seus representantes serão André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).
Fidelidade dos aliados
PSD e MDB, que assim como o União Brasil têm três ministérios sem ter feito parte da coligação de Lula na eleição de 2022, deram um porcentual menor de votos contrários aos interesses do Executivo. A parcela foi de 19,04% no caso do PSD e de 22,09% no do MDB. Mesmo com representantes à frente de ministérios, o União Brasil não se declara base aliada na Câmara. Deputados do partido ensaiaram divulgar um manifesto no começo do ano para declarar independência.
O único partido que foi 100% fiel ao governo federal nessa legislatura foi o Pros, mas há peculiaridades. A sigla elegeu apenas 3 deputados em 2022 e, neste ano foi absorvido pelo Solidariedade. Constam só 8 votos nominais do Pros no sistema da Câmara.
Depois vem o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 98,79% de fidelidade ao Planalto nas votações nominais do primeiro semestre. Os outros dois partidos da federação petista, PC do B (96,83%) e PV (96,33%) também estão nas primeiras posições do ranking de fidelidade. PSB (92,43%) e PDT (90,94%), são as outras duas legendas que deram mais de 90% de seus votos nominais em consonância com o Planalto no período.
Os principais opositores são Novo (23,11% de votos pró-governo) e PL (26,74% de votos pró-governo), partido de Jair Bolsonaro. Os dados mostram um isolamento das duas legendas. O terceiro partido menos governista, o PSDB, já dá mais que o dobro de votos pró-governo que os dois, 61,48%. Leia no fim deste texto a lista completa.
Vitórias e estresses no Legislativo
O governo teve vitórias importantes na Câmara no primeiro turno, principalmente com relação às prioridades do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na área econômica. Foram aprovados na Casa o retorno do voto de desempate a favor da Receita Federal nos julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a nova regra fiscal e a reforma tributária.
Em geral, partidos de direita e centro-direita, como PP, Republicanos e União, têm apoiado a agenda econômica do governo, mas Lula foi derrotado, por exemplo, quando os deputados votaram para derrubar decretos presidenciais que alteravam o Marco do Saneamento. O Planalto também não conseguiu evitar a aprovação do Marco Temporal, que limita a demarcação de terras indígenas, um pleito da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
O auge do estresse entre a Câmara e o Planalto foi no final de maio, quando o Centrão ameaçou derrubar a estrutura ministerial do governo na votação da Medida Provisória (MP) que reorganizou a Esplanada. Havia reclamações sobre a demora na liberação de emendas e na nomeação de aliados dos deputados para cargos regionais. Setores de PP e Republicanos já se queixavam por entregar votos em matérias de interesse do governo e não ocupar espaços no primeiro escalão.
Na ocasião, além de prometer uma melhora na articulação política, Lula deu sinal verde para a troca no Ministério do Turismo, que foi efetivada neste mês com a nomeação de Sabino. A então ministra da pasta, Daniela Carneiro, havia pedido desfiliação do União após ela e o marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, terem acumulado desgastes na legenda. Além disso, a bancada da sigla na Câmara dizia não ser representada por Waldez Góes e Juscelino Filho, indicados por Alcolumbre.
Entenda o levantamento
O Broadcast Político utilizou as votações nominais de plenário e comissões da Câmara da página de dados abertos da Casa. Em seguida, cruzou as informações com a base de dados que contém as orientações de votação das bancadas para comparar o voto de cada deputado à recomendação do líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE).
Foram desconsideradas as votações nominais em que não consta orientação do governo na base de dados ou nas vezes em que o bloco liberou os aliados para votarem como preferissem. O resultado foi uma lista de 34.924 votos de deputados comparados com a orientação do governo e depois agrupados por partido. Votações conhecidas como “simbólicas”, sem registro individual dos votos, não foram computadas.
Ranking de fidelidade e traição
Leia a seguir a lista de partidos da Câmara por ordem de fidelidade ao governo federal nas votações nominais. Os marcados com asterisco têm ministro:
Pros - 100% dos votos pró-governo e 0% contra;
PT* - 98,79% pró-governo e 1,21% contra;
PC do B* - 96,83% pró-governo e 3,17% contra;
PV - 96,33% pró-governo e 3,67% contra;
PSB* - 92,43% pró-governo e 7,57% contra;
PDT* - 90,94% pró-governo e 9,06% contra;
Solidariedade - 87,29% pró-governo e 12,71% contra;
Rede - 83,82% pró-governo e 16,18% contra;
PSC - 82,00% pró-governo e 18,00% contra;
Avante - 81,38% pró-governo e 18,62% contra;
PSD* - 80,96% pró-governo e 19,04% contra;
Psol* - 79,22% pró-governo e 20,78% contra;
MDB* 77,91% pró-governo e 22,09% contra;
Deputados sem partido - 76,19% pró-governo e 23,81% contra;
Podemos - 76,10% pró-governo e 23,90% contra;
Republicanos - 70,18% pró-governo e 29,82% contra;
Média de todos os partidos - 68,12% pró-governo e 31,88% contra;
Patriota - 66,39% pró-governo e 33,61% contra;
PP - 64,86% pró-governo e 35,14% contra ;
União Brasil* - 61,88% pró-governo e 38,12% contra;
Cidadania - 61,60% pró-governo e 38,40% contra;
PSDB - 61,48% pró-governo e 38,52% contra;
PL - 26,74% pró-governo e 73,26% contra;
Novo - 23,11% pró-governo e 76,89% contra.