POLÍTICA

Vasques nega interferência da PRF nas eleições e releva foto com Bolsonaro: 'Estava de folga'

Ex-PRF é alvo de um inquérito que investiga se houve ação deliberada para prejudicar eleitores de Lula

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 20/06/2023 às 18:53

Alterado em 20/06/2023 às 20:35

Silvinei Vasques Bruno Spada / Câmara dos Deputados

No primeiro depoimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, nesta terça-feira (20), o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, disse que o cargo nunca foi usado para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Vasques assumiu, porém, que se tornou réu por improbidade administrativa "pelo uso indevido do cargo, com desvio de finalidade, bem como de símbolos e imagem da instituição policial com o objetivo de favorecer um dos candidatos nas eleições presidenciais", conforme acusação do Ministério Público Federal (MPF).

O MPF alega que, ao pedir voto para Bolsonaro na véspera do segundo turno das eleições, "Silvinei Vasques praticou, entre agosto e outubro, atos dolosos à Administração Pública ao usar a instituição policial e o cargo público para fazer campanha eleitoral". Sobre a denúncia, ele alegou:

"As fotos que eu tenho com o presidente Bolsonaro é porque ele me permitiu tirar. Utilizei da minha hora de folga, postei na minha hora de folga. O cargo nunca foi usado em benefício meu e muito menos dele (Bolsonaro). Não seria eu que mudaria o resultado da eleição", disse.

O ex-policial, que também é suspeito de bloquear estradas para favorecer o ex-capitão, negou a maioria das acusações recebidas, inclusive de que teria interferido na circulação dos eleitores de Lula de má fé.

A senadora Elizane Gama, relatora da comissão, o questionou sobre um inquérito que foi instaurado pela Polícia Federal (PF) para investigar sua conduta durante as ações realizadas pela corporação no dia do 2º turno das eleições, em 30 de outubro. A relatora também mostrou dados do Ministério da Justiça que mostram que 48 ônibus foram detidos pela PRF no Nordeste, entre os dias 28 e 30 de outubro do ano passado, contra 24 em todas as outras regiões somadas.

Quanto a isso, o ex-diretor da PRF disse que uma ação coordenada para impedir a votação de eleitores no segundo turno seria "impossível".

"Temos 13 mil policiais, grande parte dos nossos policiais também eram eleitores do presidente Lula. Além disso, é um crime impossível, que não ocorreu, não tem como. Como falaríamos com 13 mil policiais explicando essa forma criminosa sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem uma reunião, sem nenhum e-mail enviado?", questionou.

Silvinei afirmou também que nunca foi notificado oficialmente sobre processos administrativos disciplinares contra si.

"A CGU e a PRF nunca me notificaram acerca de nenhum processo. Não posso dizer que não tem, mas nunca foi notificado. Se existir, algum momento vou ser notificado", disse.

Vasques também afirmou que sua intenção ao comparecer ao colegiado é combater o que chamou de "maior injustiça da História contra PRF".

Confusão

A sessão desta terça-feira chegou a ser suspensa por alguns minutos pelo presidente Arthur Maia (União-BA) devido a um bate-boca entre a relatora Elizane Gama e o deputado Eder Mauro (PL-PA), que sequer faz parte da comissão.

O congressista saiu em defesa do ex-diretor-geral da PRF quando Elizane o questionava a respeito de uma agressão cometida por Vasques contra um frentista de um posto de gasolina, em Goiás, no ano de 2000. O caso culminou em uma recomendação de demissão, mas não se concretizou porque prescreveu. Ainda assim, a vítima recebeu R$ 53 mil em indenização pagos pela União.

"Quero saber se o senhor tem consciência de que o senhor foi acusado, houve abertura do processo onde consta que o senhor teria agredido uma pessoa, inclusive, de forma muito terrível e brutal por conta dele ter se negado a lavar uma viatura. O senhor foi ou não acusado nesse processo?", questionou Gama.

Após ser interrompida por diversos momentos por Éder Mauro, que chegou a proferir ofensas e gritos contra Eliziane Gama, a senadora afirmou que não aceitaria aquele tipo de comportamento.

"Fiz uma pergunta de forma clara e direta, e espero que ele (Silvinei) responda. Nem vou aceitar que parlamentar nenhum venha a cercear a minha voz. Deputado, o senhor nem é integrante desta comissão, então, por favor, se cale. Quem está falando aqui é a relatoria da comissão. Vá gritar em outro lugar, aqui não. Respeite esta comissão, cale a sua boca, cale a boca."