POLÍTICA

Exército anula nomeação de coronel que pediu 'pelo amor de Deus' para Bolsonaro ‘salvar o país’

Decisão foi tomada após reunião entre presidente Lula (PT), o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o comandante do Exército, general Tomás Paiva

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 16/06/2023 às 19:51

Alterado em 16/06/2023 às 20:22

Coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, presta continência para Braga Netto Divulgação/Exército Brasileiro

O comandante do Exército brasileiro, general Tomás Paiva, decidiu anular a nomeação do coronel Jean Lawand Junior para a Representação Diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington. Tomás assinou a portaria em 2 de fevereiro, e o militar passaria a exercer a função em 2 de janeiro de 2024.

Trata-se de uma reação após a Polícia Federal identificar uma série de mensagens em que o militar sugere ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, que auxiliasse o então presidente a "dar uma ordem" para ação das Forças Armadas contra a eleição de Lula (PT).

A anulação da movimentação seria uma forma de garantir que o militar esteja no Brasil enquanto as investigações estão em curso.

A decisão foi tomada em reunião com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, na noite de quinta-feira (15), horas após a revelação do caso. O presidente Lula foi avisado em uma reunião no Palácio do Planalto no início da tarde desta sexta (16).

O coronel Jean Lawand Júnior é atualmente supervisor do Programa Estratégico Astros do Escritório de Projetos do Exército, do Estado-Maior da Força. As conversas entre ele e Cid foram reveladas pela revista Veja. Nas mensagens, o coronel pedia ao ajudante de ordens que "convencesse o 01 (em referência a Bolsonaro) a salvar esse país!".

“Soube agora que não vai sair nada. Decepção irmão. Entregaram o país aos bandidos”, escreveu Lawand Junior. A mensagem é de 21 de dezembro passado. Menos de três minutos depois, Cid respondeu: “Infelizmente”. Dias antes, os dois haviam debatido a necessidade de se “dar a ordem” para um plano golpista.

“CID, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem”, implorou Lawand Junior em 10 de dezembro. O mesmo pedido já havia sido feito pelo militar, em áudio, nove dias antes. Naquela ocasião, Cid respondeu que o então presidente não “daria a ordem” por não confiar no ACE, uma alusão ao Alto Comando do Exército.

Dentro do Ministério da Defesa, a anulação da nomeação de Lawand foi considerada necessária para transmitir uma mensagem de que as Forças Armadas não serão lenientes com suspeitas envolvendo militares e não representarão obstáculo para investigações relacionadas às recentes ameaças antidemocráticas.

A expectativa dentro da pasta é que Lawand seja ouvido tanto pela Polícia Federal como pela CPI de 8 de janeiro, no Congresso. O plano da cúpula do Exército é aplicar o mesmo entendimento para outros casos que surjam durante investigações sobre as ameaças golpistas. Integrantes do governo consideram inevitável o envolvimento de outros nomes da ativa.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que Lula foi "explícito" ao dizer que todos os mecanismos internos, militares e civis, terão apoio para "apurar responsabilidades na preparação" das invasões às sedes dos Poderes.

O outro lado

À Veja, Lawand afirmou ser amigo de Cid, com quem conversava amenidades. Ele também disse não se recordar de nenhum diálogo de teor golpista com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Em nota, o Exército afirmou que opiniões e comentários pessoais "não representam o pensamento da cadeia de comando" da Força.

"Como Instituição de Estado, apartidária, o Exército prima sempre pela legalidade e pelo respeito aos preceitos constitucionais. Os fatos recentes somente ratificam e comprovam a atitude legalista do Exército de Caxias", complementa.

A Força ainda disse que "eventuais condutas individuais julgadas irregulares serão tratadas no âmbito judicial" e que, na esfera administrativa, "as medidas cabíveis já estão sendo adotadas".

Já a defesa de Bolsonaro emitiu nota na tarde desta sexta-feira (16) e afirmou que o político "jamais participou de qualquer conversa sobre um suposto golpe de Estado". Também afirmou que Cid, "pela função exercida", recebia as demandas que deveriam chegar ao conhecimento do presidente.

O documento, assinado pelos advogados Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten, argumenta ainda que o celular de Cid "por diversas ocasiões se transformou em uma simples caixa de correspondência que registrava as mais diversas lamentações".

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