ARTIGOS

O inverno dos nossos anos

...

Por ADHEMAR BAHADIAN
[email protected]

Publicado em 07/09/2025 às 09:49

Se me contassem, diria ser dessas produções do submundo de Hollywood, onde um ator, com ligeira paralisia facial e imensa frustração por não ser nem De Niro, nem Al Pacino, e muito menos o Marlon Brando, de “Sindicato dos Ladrões”, empunha uma metralhadora "ponto 50" numa das mãos, um turbante na testa e mil turbulências na cabeça.

E com esgar paranoico se propõe livrar o mundo dos comunas. Como se comunas fossem todos que se opõem ao entreguismo.

Mas esta é a triste realidade do Trumpismo.

Como imaginar que um dia veríamos uma critica contundente ao Supremo Tribunal Federal por julgar um ex-presidente da República brasileiro?

Como imaginar que o Congresso brasileiro, em visível movimento anticonstitucional, iria defender uma anistia a um duplo crime de lesa-pátria, onde não faltaram inclusive ameaças de morte ao presidente-eleito, ao vice-presidente e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, também relator do processo no Supremo?

As identidades políticas assustam pelo que revelam de sabujice do reacionarismo, pelo que denunciam de tropismo neocolonial, pelo que representam de covardia, de avarícia, de pobreza intelectual, de covardia.

Mas, as identidades prosseguem em velocidade algébrica e o trumpismo considera que o golpe, inelutavelmente sórdido, merece ser esquecido, absolvido, enterrado, a fazer de tantos congressistas também sórdidos, entreguistas, anencéfalos.

Por que alinhar-se com a superpotência que nos impõe tarifas exorbitantes e nos ameaça de uma discriminação criminosa? Afinal, ou temos um Congresso voltado à defesa de nossos interesses, ou nada mais somos que um bando de políticos venais que não distingue o Direito da canalhice e se acocora diante do primeiro vagido de hienas.

Mas, isto é o Trumpismo.

E, como a General Motors, se é bom para os Estados Unidos é ótimo para o Brasil de palermas. E o caminho a seguir é o mesmo das vacas em direção ao brejo. Inclusive da honra.

Trump-Calígula dixit. Trememos todos. Seguiremos na mesma toada de não mais vacinarmos nossas crianças contra o sarampo, a catapora e a varíola. Contra o bom-senso.

O Trumpismo acaba com a educação e procura desestimular a pesquisa. Por quê? Acaso a ciência desafia os deuses? Ou simplesmente acalenta a ignorância, a doença e a peste? E por que, nós brasileiros, ainda encontramos palavras de estimulo à caça às bruxas, esta reverência ao ocultismo?

Nós brasileiros estamos passando pelo que talvez seja o maior choque de realidade nos últimos 84 anos quando decidimos seguir os princípios e as propostas que voluntariamente assinamos na reconstrução de um mundo livre do fascismo.

Vivemos a ilusão de um capitalismo liberal em que os totalitarismos de esquerda ou de direita seriam substituídos por um sistema econômico equânime.

Hoje, o neoliberalismo de Reagan e Thatcher nos deixa um rastro de desigualdade social carcomido. E a tal ponto caem as máscaras de Trump que a lei da selva adentra o que antes eram os sacrossantos salões da civilização ocidental.

E por que o Congresso brasileiro se aninha a este chicote socialmente desagregador? Por que no Trumpismo a regra da sobrevivência a qualquer preço passa por cima até mesmo da solidariedade cristã?

E os falsos profetas daqui e de lá mesclam o nome de Deus à pilhagem mais sórdida deste século.

E tudo isto porque o Trumpismo é isto. Uma força desagregadora a que o Congresso brasileiro se rendeu e pretende levar de roldão toda a determinação deste povo de fazer deste país uma nação solidária, socialmente justa, economicamente respeitada.

E para tal, sem rebuços nem arrogância, devemos dizer a nossos Congressistas vendilhões que o Brasil não está à venda.

E que as eleições legislativas de 2026 sejam o maior “ponha-se na rua” de nossa história republicana.

xxxxxxx . xxxxxxx . xxxxxxx

EM TEMPO
Será legítimo, será Constitucional que um Congresso decida aprovar uma lei que mantenha a sociedade brasileira garroteada a uma ameaça constante de golpe a suas instituições? São elegíveis congressistas que defendem emendas parlamentares que impeçam o controle fiscal? São justificáveis medidas claramente anticonstitucionais? Reside na resposta a estas questões a real pacificação da sociedade brasileira. E cabe ao eleitor decidir. Não há mais espaço para conchavos. Partidos que promovam medidas anticonstitucionais são, por definição, cúmplices do golpe. A sociedade brasileira não pode sobreviver a um espanto por dia. Cada candidato deve dizer claramente ao eleitor qual o seu grau de comprometimento com a Democracia. E isto deve ser dito logo.

* Embaixador aposentado

Deixe seu comentário